Uma nova musica

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Era óbvio que a gente não compôs nada naquela noite. Nós até tentamos... começamos a rabiscar umas ideias no meu caderno, trocamos umas palavras sobre melodias e harmonias. Mas então, Hyunjin me beijou, e tudo desmoronou. Foi como se aquele beijo puxasse todo o resto junto, como se minhas intenções de trabalhar evaporassem. Perdi completamente o controle, e qualquer ideia de música que estava na minha cabeça foi substituída por outra coisa... algo que eu sentia toda vez que ele estava perto demais.

Eu disfarçava o dia todo, todos os dias. Na frente dos outros, tentava ser discreto. Eu tinha que ser. Nossa química nos ensaios era evidente, e essa era a nossa arma secreta no palco. Mas será que eu conseguia realmente disfarçar? Às vezes, eu olhava para Chan ou Changbin, ou mesmo para Jeongin, e via um brilho curioso nos olhos deles, como se já soubessem. Talvez eu não fosse tão bom assim em esconder.

Naquela noite, nós transamos de novo. Em silêncio, como sempre, com as luzes baixas e as roupas espalhadas pelo chão. Os dedos dele traçavam minhas costas, me deixando arrepiado. E eu sabia... sabia que, de algum jeito, aquilo estava indo além do que qualquer um de nós imaginava. Não tinha como negar o que sentíamos quando estávamos juntos.

— Você acha que a gente vai conseguir manter isso em segredo por muito tempo? — perguntei, deitado ao lado dele, ofegante, minha pele ainda quente do que tinha acabado de acontecer.

Hyunjin ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos no teto do quarto, antes de me olhar de volta com aquele sorriso relaxado, como se estivesse completamente confortável com tudo.

— Não sei, Felix. E, pra ser sincero, não estou preocupado com isso agora — ele murmurou, a voz arrastada e preguiçosa. Ele passou os dedos pelos meus cabelos, e eu fechei os olhos, me permitindo relaxar por um segundo.

Eu não sabia até onde iríamos. Estávamos no final de 1974, e em fevereiro do ano seguinte nosso álbum completo seria lançado oficialmente. A turnê estava marcada, nossa primeira grande chance. Mas quanto mais o tempo passava, mais me perguntava onde isso entre nós dois ia parar.

O peso do futuro pairava sobre mim, mas naquele momento, deitado ao lado dele, suado e ofegante, eu deixei tudo isso de lado. Por mais que estivesse confuso, por mais que não soubesse o que éramos, ali com Hyunjin, tudo parecia fazer sentido por um breve instante.

— Acho que isso vai dar uma boa letra — ele disse de repente, a voz baixa e divertida, enquanto me puxava mais para perto.

Eu ri, sem conseguir evitar.

— Talvez. Mas vai ter que ser uma música bem discreta.

Naquela mesma noite, eu e Hyunjin acabamos sentados no chão do meu quarto, cadernos espalhados ao redor. As palavras fluíam sem esforço enquanto escrevíamos juntos. A letra era sobre nós, sobre a tensão, o desejo, e essa estranha sensação de estar sempre no meio do caminho, sem saber para onde ir. Chamamos a música de "In Between". Mais um dueto. Mais uma música que falava sobre o que estávamos vivendo, sem que ninguém soubesse.

Hyunjin estava com a guitarra no colo, dedilhando alguns acordes enquanto eu rabiscava a letra final no caderno. Nossas vozes se uniam naturalmente, se entrelaçavam como se estivessem feitas para isso.

— Acho que a gente tem algo aqui, Felix — ele disse, olhando para mim por cima do caderno.

Eu sorri, o coração batendo rápido. Ele estava certo. A música soava... certa. Tão certa quanto nós dois. Mas eu sabia que convencer o resto da banda a incluir uma nova faixa no álbum, a essa altura, seria uma luta.

Na manhã seguinte, corremos até Chan e Changbin. A empolgação nos fazia andar rápido pelos corredores, e eu mal conseguia esperar para mostrar a música. Chan estava sentado no sofá, mexendo em algumas partituras, enquanto Changbin discutia alguns ajustes de mixagem. Assim que entramos, com cadernos nas mãos e os olhos brilhando, eles nos olharam curiosos.

— Temos uma nova música — eu disse sem rodeios.

— O álbum já tá pronto, Felix — Changbin respondeu com uma sobrancelha levantada. — Faltam menos de dois meses para o lançamento. Não tem como a gente incluir mais nada.

— Eu sei, mas você precisa ouvir isso, Changbin — Hyunjin argumentou, se aproximando com a guitarra. — Só ouve.

Ele começou a tocar os acordes que havia dedilhado na noite anterior, e eu cantei o primeiro verso, sentindo a familiaridade da letra sair dos meus lábios. Quando minha voz se juntou à de Hyunjin, o ambiente pareceu mudar. Chan, que inicialmente estava cético, começou a balançar a cabeça no ritmo. Changbin cruzou os braços, claramente tentando não se deixar convencer tão rápido, mas eu sabia que ele estava impressionado.

Quando terminamos, um silêncio breve tomou conta da sala.

— Ok, vocês dois... — Chan começou, hesitando. — Isso é... muito bom.

Changbin ainda estava de braços cruzados, mas parecia ter perdido parte da resistência.

— Tá, admito. É uma puta música, mas o que vamos fazer? O álbum já tá mixado.

Antes que pudéssemos responder, Hanseo, nosso produtor chefe, entrou na sala, atraído pelo som da guitarra e nossas vozes.

— O que tá rolando aqui? — ele perguntou, levantando uma sobrancelha curiosa.

— Eles fizeram uma nova música e querem colocar no álbum — Changbin explicou.

Hanseo nos olhou por um momento, analisando a situação. Ele pegou o caderno da minha mão e leu rapidamente a letra de "In Between". A expressão dele mudou um pouco, como se estivesse ponderando algo.

— Vamos gravar — ele decretou de repente.

— O quê? — Changbin parecia em choque. — Faltam menos de dois meses!

— Não importa. Essa música merece estar no álbum. Vamos gravar agora — Hanseo respondeu, firme.

Eu e Hyunjin trocamos olhares de surpresa e euforia. Sabíamos que In Between tinha algo especial, mas não esperávamos que Hanseo tomasse a decisão tão rápido.

Logo estávamos todos no estúdio. Coloquei os fones de ouvido, as mãos levemente trêmulas de excitação. Hyunjin e eu dividimos o mesmo microfone, como sempre fazíamos. Nossas vozes se complementavam, se misturavam de uma forma que parecia natural, quase inevitável. Durante a gravação, trocávamos olhares intensos, como se só nós dois estivéssemos no estúdio. Era difícil ignorar o que havia entre nós — aquela química que parecia pulsar mais forte a cada nova nota.

— Felix, Hyunjin... vocês conseguem sentir isso, né? — Chan perguntou do lado de fora da cabine, sorrindo.

Eu sorri de volta, o coração ainda acelerado.

— Sim, Chan. A gente sente.

E sentíamos. Todos nós sentíamos.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora