Primeira apresentação

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Final de 1972. Foi quando a coisa realmente começou a acontecer.

Lembro claramente do dia em que o senhor Park, nosso empresário, chegou com a notícia. Ele entrou no estúdio com um sorriso triunfante, como se tivesse acabado de conquistar o mundo. E, de certa forma, para nós, aquilo era o início de algo grande.

— Consegui para vocês um show! — ele anunciou, mal conseguindo conter a empolgação. — Um clube noturno em Seul. É a chance de vocês se apresentarem de verdade.

Nós estávamos parados por um segundo, processando aquilo. Claro, tínhamos ensaiado até nossos dedos doerem, tínhamos sonhos de tocar para multidões, mas até aquele momento, tudo parecia um pouco distante. Esse show, no entanto, era a primeira oportunidade real de sairmos do estúdio e nos mostrarmos para o público.

— Quando? — Chan foi o primeiro a perguntar, sempre o mais focado e prático.

— No próximo mês — respondeu o senhor Park. — Têm algumas semanas para se prepararem.

Um mês. O que soava como um prazo apertado, mas sabíamos que estávamos prontos. Tínhamos músicas ensaiadas, tínhamos energia. A única coisa que ainda faltava era... bem, talvez nosso estilo.

Naquela época, ainda estávamos experimentando. Nossos sons, nossas músicas, até o visual. Não tínhamos encontrado o que nos diferenciava, o que realmente nos definia como banda. Então, no dia do show, o senhor Park sugeriu que vestíssemos algo mais formal. Era uma escolha segura, algo que faria a banda parecer mais polida, mais madura.

E foi assim que, naquela noite, eu me encontrei de frente para o espelho, ajeitando minha gravata, tentando me convencer de que aquilo era certo. Eu nunca tinha sido fã de roupas formais, mas sabia que o visual importava tanto quanto a música naquele momento. Meu cabelo, sempre comprido e solto, estava preso em um coque apertado. Era estranho. Olhando para mim, não parecia exatamente o que eu tinha imaginado para o futuro da banda, mas naquele momento, era o que precisávamos.

Felix também estava do meu lado, fazendo o mesmo. Ele também prendeu o cabelo, e, por um momento, quando olhei para ele, não pude deixar de notar a diferença entre nós. Embora Felix fosse mais reservado, ele sempre tinha uma presença forte, mesmo com aquela aparência delicada. Havia algo nele que chamava a atenção, algo que eu sabia que o público iria perceber.

Eu não falava muito com ele naquela época. Nossa conexão era puramente profissional, nada além disso. Mas eu sempre soube que havia algo especial na voz dele, uma força que contrastava completamente com sua aparência. E talvez, de certa forma, isso me intrigasse.

Chegamos ao clube naquela noite, e a atmosfera era... intimidante. O lugar era pequeno, mas cheio. Pessoas se acotovelavam perto do palco, algumas com bebidas nas mãos, outras apenas esperando para ver o que tínhamos para oferecer. As luzes eram baixas, dando ao clube um ar de mistério, quase claustrofóbico.

— Tá na hora. — Chan disse, depois de dar uma última olhada na gente. Ele parecia confiante, mas eu sabia que estava nervoso também. Todos nós estávamos.

Subimos ao palco, um por um, cada um tomando seu lugar. Eu podia sentir o suor escorrendo pela nuca, mesmo com o cabelo preso. Peguei minha guitarra, ajustei a alça e dei uma última olhada para os caras. Felix estava ao meu lado, ajeitando o microfone. Nossas vozes precisavam estar sincronizadas naquela noite.

A música começou.

Jisung deu a primeira batida, pesada e precisa como sempre. As notas fluíram, preenchendo o ambiente. Eu e Felix trocamos um olhar rápido antes de começar a cantar. Não era algo que fazíamos com frequência, mas, naquele momento, parecia certo. Começamos juntos, nossas vozes se entrelaçando na melodia, criando uma harmonia que eu não esperava ser tão forte. Eu me mantive focado no público, tentando ignorar o nervosismo que crescia.

Felix tinha uma presença no palco que eu não podia ignorar. Apesar de sua falta de confiança com o coreano, quando ele cantava, não havia hesitação. A voz dele era grave, mas ao mesmo tempo suave, como se estivesse moldando as palavras com cuidado, dando a elas mais peso. Era diferente de tudo que eu já tinha ouvido, e a combinação das nossas vozes parecia criar uma energia única no palco.

Enquanto cantávamos, eu observava as reações do público. Algumas pessoas estavam de olhos fechados, balançando levemente ao ritmo da música, outras estavam mais atentas, avaliando cada movimento, cada nota. Era estranho, mas ao mesmo tempo gratificante, saber que estávamos começando a causar algum impacto.

Felix mantinha o olhar fixo na plateia também, mas, de vez em quando, ele me olhava de lado, talvez buscando alguma confirmação, algum sinal de que estávamos indo bem. E eu apenas continuava, focado, concentrado no que estávamos criando juntos naquele momento.

Quando a última nota soou, houve um silêncio por um segundo, antes de aplaudirem. Não era uma explosão de aplausos, mas foi o suficiente para saber que tínhamos feito um bom trabalho. Felix soltou um suspiro, claramente aliviado, e eu me permiti relaxar um pouco também.

— Bom trabalho, pessoal. — Chan murmurou enquanto descíamos do palco.

— Foi legal, hein? — Jisung sorriu, largando as baquetas e se espreguiçando.

Changbin bateu no meu ombro, um gesto de reconhecimento, enquanto Jeongin, Seungmin e Minho pareciam satisfeitos também. O senhor Park estava ao fundo, falando com o gerente do clube, provavelmente já tentando negociar mais apresentações.

Felix ainda estava um pouco quieto, como sempre. Ele não era de se exibir ou de se gabar, mesmo que soubesse que tinha se saído bem. Mas havia algo em sua expressão que mostrava que ele estava feliz com o resultado, mesmo que não dissesse nada.

E quanto a mim? Bem, eu não era de grandes demonstrações, assim como ele. Enquanto todos estavam se cumprimentando e trocando palavras animadas, me aproximei de Felix, que ainda ajeitava o microfone.

— Mandou bem — murmurei, fazendo um leve aceno com a cabeça. Não precisava dizer mais do que isso. Ele entendeu.

Felix me olhou por um segundo, talvez surpreso, mas então abriu um pequeno sorriso, um daqueles que ele guardava para momentos raros. E eu soube, naquele instante, que tínhamos algo. Algo que poderia nos levar muito além daquele pequeno clube noturno.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora