O silêncio como um amigo

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Aprender coreano era mais difícil do que eu imaginava.

Embora meus pais fossem coreanos, eu nunca tinha realmente falado o idioma em casa. Cresci ouvindo algumas palavras soltas aqui e ali, mas a maior parte da minha vida foi em inglês, na Austrália. Meu mundo era lá. Nunca pensei que precisaria me conectar de verdade com minhas raízes linguísticas até que decidi me juntar à banda. Stray Kids. Parecia um sonho, algo fora do meu alcance, mas ali estava eu.

O problema é que estar aqui, em Seul, era... diferente. Era como estar em um lugar onde todos os sons ao meu redor eram um grande emaranhado de palavras que eu não entendia. Por mais que eu me esforçasse para pegar o ritmo, às vezes sentia como se estivesse sufocando no meio daquelas conversas rápidas e intensas. Eu sempre me agarrava a Chan, meu único elo real com a língua e com o grupo. Ele me ajudava a traduzir o que eu não entendia, e sempre estava lá para me puxar de volta quando eu me perdia no caos ao redor.

Mas, com o tempo, eu sabia que precisava me afastar desse suporte. Eu precisava aprender a andar com as minhas próprias pernas.

Estava praticando o idioma todos os dias. Tinha aulas particulares quando não estávamos ensaiando, e tentava me forçar a falar coreano com os outros, mesmo que soasse estranho e errasse bastante. Era frustrante. Eu queria me expressar, queria dizer tantas coisas, mas as palavras nunca vinham como eu queria.

Pelo menos eu tinha Chan. E Changbin, claro. Changbin sempre foi muito paciente comigo, mesmo quando eu errava a pronúncia ou misturava palavras em inglês no meio da frase. Ele ria e corrigia, mas nunca me fazia sentir mal. Eu apreciava isso. Sentia que, aos poucos, estava me integrando, construindo pequenas conexões.

Mas Hyunjin... Bom, ele era outra história.

Eu não sabia o que pensar sobre Hyunjin. Ele sempre parecia tão intenso, sempre com aquela expressão séria, como se estivesse lidando com o peso do mundo. E toda vez que nossos olhares se cruzavam, era como se ele estivesse me julgando, me analisando. Talvez fosse paranoia minha, mas eu sentia que ele não gostava de mim.

Não via necessidade de falar com ele, pelo menos por enquanto. Eu estava tentando focar em aprender o coreano primeiro, entender os outros membros e me preparar para o que viria a seguir. Sabia que eventualmente teria que me comunicar mais com Hyunjin, especialmente quando começássemos a gravar nossa primeira música, mas, até lá, eu preferia evitar confrontos desnecessários. Precisava de mais tempo para me sentir confiante.

Até porque, naquele momento, falar com ele parecia uma barreira impossível de atravessar.

As coisas entre Hyunjin e Jisung eram tão tensas que me fazia querer ficar ainda mais longe das discussões. Eles brigavam o tempo todo. Eu ficava de canto, só observando. O que eu podia fazer? Nem se quisesse, eu teria as palavras para mediar aquelas discussões. E, sinceramente, eu não queria me envolver.

Eu preferia o silêncio.

O canto do estúdio era meu lugar seguro. Quando tudo ao meu redor parecia se mover rápido demais — as brigas, os risos, as conversas em coreano que eu mal conseguia acompanhar — eu me refugiava ali, no meu espaço, com meu caderno. A música era o único idioma que eu entendia perfeitamente. E era através dela que eu conseguia expressar o que estava sentindo, mesmo que ninguém mais conseguisse ouvir. Era como uma conversa entre mim e as palavras escritas no papel.

Eu observava Hyunjin de longe. Ele sempre estava no centro da sala, sempre envolvido em algo. Uma discussão, uma conversa, sempre fazendo parte de algo maior. E eu, no canto, me perguntava como alguém como ele poderia entender o que era estar no meu lugar. Ele parecia tão... confiante. Mesmo quando brigava com Jisung, ele tinha uma presença que eu invejava, algo que eu nunca senti em mim.

Talvez seja por isso que eu nunca tentava me aproximar. Como poderia? O que eu diria? O que ele pensaria? Provavelmente acharia que eu era um fardo para o grupo, alguém que não conseguia sequer falar a língua do país onde estava. Eu não podia culpá-lo por isso. Às vezes, eu também achava que estava fora do lugar.

Mas, com o tempo, algo foi mudando.

Eu comecei a notar pequenas coisas em Hyunjin. O jeito como ele observava os outros, sempre atento. Como ele parecia carregar uma pressão que ninguém mais via, uma responsabilidade que, talvez, ele mesmo tenha se imposto. E, mesmo sem palavras, comecei a entender que talvez ele também tivesse suas próprias lutas. Talvez ele também estivesse tentando encontrar seu espaço, assim como eu.

Ainda assim, eu não estava pronto para falar com ele. Não até me sentir mais confiante com o coreano, não até sentir que eu poderia dizer algo que valesse a pena ser dito. E talvez, no fundo, eu estivesse esperando que ele viesse até mim primeiro. Que ele me dissesse que não havia julgamentos. Que eu fazia parte do grupo tanto quanto ele.

Mas até lá, eu ficaria no meu canto. Esperando, aprendendo, observando.

Porque, por enquanto, o silêncio ainda era meu melhor amigo.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora