Colegas de palco

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Era muito difícil, sabe. Na verdade, era insuportável. Todas as noites, depois dos shows, eu ia para o meu quarto e chorava. Chorava porque queria estar com Hyunjin. Queria deitar com ele, sentir o cheiro dele nos lençóis, segurar sua mão enquanto nossos corpos se enroscavam no silêncio da noite. Como fazíamos antes. Eu queria amá-lo como sempre amei, além de qualquer limite, sem reservas. Mas não podíamos. Fomos proibidos de nos amar. Como se o que tínhamos, o que sentíamos, pudesse ser simplesmente desligado, como uma luz que alguém apaga ao sair de uma sala. Mas não era assim. Não pra mim. Não pra ele.

Agora, tudo o que nos restava era o palco. O palco, onde tínhamos que atuar como se fôssemos apenas dois colegas de trabalho. Apenas isso. Dois caras que cantam juntos, que dividem o mesmo microfone, que compartilham os mesmos acordes. Mas não que compartilham o mesmo coração. Estávamos condenados a continuar trabalhando juntos, como se nada tivesse acontecido. Como se nunca tivéssemos nos amado.

Mas, pra mim, cantar com Hyunjin era uma tortura. Não importava a cidade em que estávamos, não importava o quão alto o público gritasse nossos nomes. Cada vez que eu subia naquele palco e cantava ao lado dele, era como se o mundo inteiro estivesse desmoronando dentro de mim. Eu olhava para ele, e tudo o que via era dor. A dor de saber que ele estava ali, tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante. Cantávamos, fazíamos o nosso show, mas a cada música eu sentia que algo dentro de mim morria um pouco mais.

Lembro de uma noite em particular. Não me lembro exatamente em que cidade estávamos, todas aquelas noites começaram a se misturar na minha mente. Mas lembro da música. "In the Rain". Aquela música sempre teve um significado especial pra nós dois, mas naquela noite... naquela noite, cantar "In the Rain" foi como um golpe no peito. Enquanto eu cantava, as palavras saíam da minha boca, mas a minha mente estava a mil quilômetros de distância, perdida em uma lembrança dolorosa.

A lembrança de 1975.

Na turnê Lost and Found. Eu me lembro como se fosse ontem. Nós estávamos em uma cidade pequena, no meio de uma tempestade, completamente ensopados, e brigando. Naquela noite, Hyunjin queria comprar drogas e eu estava tentando impedi-lo. Eu estava gritando com Hyunjin, e ele gritava de volta. E então, no meio daquela chuva, no meio daquela confusão toda, eu disse pra ele que o amava. Pela primeira vez. Foi impulsivo, saiu sem que eu conseguisse controlar. Mas era a verdade. Eu o amava. Hyunjin ficou me olhando, chocado, sem saber o que dizer. E, mesmo sem uma resposta dele, algo mudou entre nós naquele dia. Depois daquela noite, tudo ficou mais intenso, mais real.

Três anos depois, no mesmo dia que fomos forçados a terminar, Hyunjin finalmente disse que me amava também.

A ironia daquilo me matava. Ele só conseguiu dizer que me amava no mesmo dia em que fomos obrigados a nos separar. Eu chorei naquela noite. E desde então, choro quase todas as noites.

Cantar "In the Rain" era uma tortura por causa disso. Cada palavra da música me lembrava daquele momento, daquele amor que estava sendo arrancado de nós. Eu olhava para Hyunjin enquanto cantávamos, e ele também me olhava, mas não com o mesmo brilho de antes. Tudo o que havia agora era dor nos nossos olhos. Eu sabia que ele também estava sofrendo. Sabia que ele sentia falta de nós tanto quanto eu. Mas o que poderíamos fazer? Nós estávamos de mãos atadas.

Eu terminei a música com a voz falhando, segurando as lágrimas. O público, claro, não percebeu. Eles nunca percebem. Para eles, era apenas mais um show, mais uma performance emocionante. Mas, para mim, era um inferno.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora