Uma noite que mudaria tudo

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Eu admito, Felix era muito gostoso. Sempre foi, na verdade, mas acho que não tinha percebido o quanto até aquele momento. Talvez fosse o jeito tímido e gentil dele que me fazia não notar. Ele sempre parecia tão retraído, quase que encolhido em si mesmo. Mas depois que começou a se soltar, a usar maquiagem, a deixar os cabelos loiros soltos e a escolher roupas que mostravam mais do seu corpo, tudo mudou. Eu via o Felix de antes e o de agora e não conseguia acreditar que eram a mesma pessoa. No palco, ele parecia... etéreo.

Naqueles shows que fizemos depois que Felix começou a se transformar, eu me pegava distraído enquanto tocava a guitarra, só observando ele. O jeito que ele se movia, a confiança crescente que ele mostrava enquanto cantava, balançando os cabelos soltos e sensuais. Ele não era só o garoto franzino que eu conhecia, ele tinha virado algo mais. Algo... magnético. Eu não era o único que percebia isso. O público nos clubes noturnos também parecia hipnotizado por ele.

Durante uma das apresentações, enquanto dedilhava a guitarra, olhei para Felix no meio de uma das músicas e ele estava ali, completamente entregue à performance. O suor escorrendo pela testa, a maquiagem ainda intacta, o corpo pequeno, mas definido. Ele olhou de volta para mim e sorriu, um daqueles sorrisos que me faziam perder o compasso por um segundo. Porra, ele sabia o que estava fazendo, mesmo que fingisse que não.

— Você está se superando, sabia? — eu disse pra ele depois do show, enquanto guardávamos os equipamentos.

— Do que você está falando? — ele perguntou, colocando a guitarra no suporte. Ele sempre fingia que não sabia, mas eu via o brilho nos olhos dele.

— De você — eu me aproximei, encostando no case da guitarra, observando ele. — Tá mais confiante, mais... ousado.

Felix ficou um pouco vermelho, mas não desviou o olhar. Eu adorava isso nele. A timidez, mas a coragem de manter o olhar. Era quase uma provocação.

— Bom, acho que estou apenas... me acostumando — ele disse, rindo de leve, como se o elogio fosse algo pequeno. — E você também não está se saindo mal.

— Eu sempre fui assim — brinquei, piscando pra ele. — Mas você... está se transformando. E eu gosto disso.

Ele apenas sorriu, sem dizer nada, mas eu sabia que ele entendia o que eu queria dizer.

O álbum estava quase pronto. Chan e Changbin estavam passando horas no estúdio, mixando as músicas, ajustando o que faltava. Às vezes, passávamos a madrugada esperando do lado de fora da cabine de gravação enquanto eles trabalhavam incansavelmente. Faltava pouco para o mundo saber quem éramos. Havia uma eletricidade no ar. Todos nós sentíamos isso.

— Hyunjin, você tá feliz com o resultado? — Chan perguntou um dia, enquanto nos reuníamos para ouvir uma das últimas faixas mixadas. Ele parecia exausto, mas ainda animado. Sempre era assim com ele, mesmo quando estava prestes a desmaiar de cansaço, a paixão pelo que fazíamos o mantinha de pé.

Eu me inclinei na cadeira, ouvindo atentamente a batida da música, a forma como os vocais de Felix e os meus se misturavam, criando algo único. A guitarra estava suja, crua, como eu gostava. A bateria de Jisung estava no ponto, a suavidade do teclado de Seungmin era um divisor de aguas, e o baixo de Minho era uma base sólida para tudo.

— Sim — falei, sorrindo enquanto balançava a cabeça ao ritmo da música. — Isso tá foda.

— Concordo — Felix disse baixinho ao meu lado, os olhos brilhando de satisfação.

Nos últimos meses, nós tínhamos nos aproximado muito, não apenas como banda, mas como amigos... e talvez algo mais. Havia uma tensão entre nós, algo que não se falava, mas que estava sempre ali. Eu sabia o que sentia quando olhava pra ele, e pelas reações de Felix, sabia que ele sentia algo também. Mas nenhum de nós falava sobre isso. Talvez fosse melhor assim, por enquanto.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora