Escapismo

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A estrada estava começando a me desgastar. Embora os shows fossem energizantes e a música fosse a única coisa que realmente me fazia sentir vivo, havia uma pressão crescente em meu peito que parecia me acompanhar em cada cidade que visitávamos. A frustração de ainda não termos uma gravadora era palpável, e eu percebia que, em vez de encontrar maneiras saudáveis de lidar com isso, havia começado a me perder em hábitos que só pioravam a situação.

Eu acho que foi naquela época que comecei a fumar mais. O cheiro do cigarro se tornou uma constante em minha vida, como uma espécie de fuga temporária do peso que sentia. Naquelas noites sem sono, sentado na varanda do hotel ou no fundo do ônibus, eu acendia um cigarro, deixando a fumaça se dissipar enquanto tentava afastar os pensamentos sombrios. Era uma distração, mas não a melhor delas.

E havia a bebida. Às vezes, a única coisa que eu queria era esquecer. Um copo de uísque aqui, uma cerveja ali. O efeito era imediato, um alívio momentâneo que logo se transformava em uma névoa que só me deixava mais confuso no dia seguinte. E enquanto a banda ria e se divertia, eu me perguntava se eles notavam como eu estava mudando, se percebiam que eu não era mais o mesmo.

A verdade é que eu buscava conforto em lugares errados. Cada vez que chegávamos a uma nova cidade, eu me encontrava em um ciclo vicioso. Eu conhecia pessoas — mulheres e homens — e, em cada lugar que parávamos, acabava indo para a cama com alguém. Era uma forma de escapar, de me sentir desejado, mesmo que por um breve momento. E eu não contava a ninguém da banda sobre isso. Era um segredo que eu guardava para mim, uma maneira de lidar com a pressão e o estresse sem sobrecarregar os outros.

Certa noite, depois de um show em Busan, a adrenalina ainda correndo em minhas veias, decidi sair. Eu precisava de uma pausa, de algo para me distrair. Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas, acabei entrando em um bar. O lugar estava cheio de risadas e música ao vivo. Assim que me sentei no balcão, uma garota com cabelo longo e olhos brilhantes veio até mim.

— Olá! Você é da banda Stray Kids, não é? — ela perguntou, com um sorriso encantador.

Sorri de volta, acenando a cabeça. Eu estava cansado de fazer todo o charme e só queria alguém com quem conversar. Logo, estávamos envolvidos em uma conversa animada, e, antes que eu percebesse, estávamos indo para o meu quarto de hotel. Naquela noite, eu me deixei levar, esquecendo de tudo o que estava me atormentando.

Na manhã seguinte, ao acordar, a realidade me atingiu como um soco no estômago. Olhei para o lado e vi a mulher dormindo tranquilamente. Levantei-me, tentando não fazer barulho, e me vesti. Olhei pela janela, para a cidade que já estava começando a acordar. Uma nova cidade, uma nova história. E a mesma sensação de vazio que me seguia.

Quando voltei para o ônibus da banda, eles já estavam acordados, rindo e conversando sobre a noite anterior. Jisung estava se alongando e Minho fazia piadas sobre o show. Chan e Changbin estavam discutindo sobre a próxima apresentação, a empolgação deles quase contagiante.

— E aí, Hyunjin, como foi sua noite? — Jisung perguntou, com um sorriso travesso.

— Ah, você sabe como é, apenas dormindo — respondi, tentando soar despreocupado.

Ele riu, mas eu podia sentir o olhar curioso de Felix sobre mim. Havia algo em seu olhar que me fazia querer me abrir, mas o medo de ser julgado me impediu.

— Você deveria aproveitar mais as noites, Hyunjin! — Minho disse, com uma piscadela. — A vida é curta, cara!

Eu ri, tentando não deixar transparecer o quanto eu já havia aproveitado.

— Claro, mas precisamos descansar para o próximo show, não é? — rebati, buscando desviar a conversa.

Felix olhou para mim, como se pudesse ver além das palavras que eu dizia.

— Às vezes, você parece meio distante, Hyunjin. Tudo bem? — ele perguntou, com sinceridade.

— Sim, tudo ótimo! — assegurei, tentando manter a compostura. — Apenas cansado, é tudo.

Mas por dentro, eu sabia que as coisas não estavam tão bem. Enquanto eles falavam e riam, eu me sentia cada vez mais isolado. E à medida que o ônibus seguia para a próxima cidade, uma nova batalha começava na minha mente. O que eu estava fazendo comigo mesmo? E até onde essa busca por escapismo me levaria?

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora