Uma conversa franca

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Eu estava sentado na minha cama, com o caderno no colo, rabiscando algumas ideias de letras. As palavras vinham fácil, como se a caneta se movesse sozinha. A noite com Hyunjin... aquilo me deixou inspirado de uma forma que eu não esperava. Mas, enquanto escrevia, um incômodo começou a crescer no meu peito. Algo não parecia certo.

Eu não sabia se gostava da ideia de "deixar rolar", de fingir que aquela noite não significava tanto assim. Porque, para mim, significava. Hyunjin, no entanto, sempre parecia tão... desapegado. Despreocupado com tudo. E se ele não visse aquilo da mesma forma que eu? E se tudo fosse só uma aventura para ele, uma fase? A última coisa que eu queria era me apegar a alguém que não estava na mesma sintonia.

Suspirei e passei a mão pelo cabelo, bagunçando os fios loiros enquanto olhava para as palavras que tinha escrito. Elas falavam de desejo, de confusão, de querer algo que parecia tão distante, mas ao mesmo tempo, tão próximo. Um reflexo exato do que eu estava sentindo naquele momento.

Foi quando a porta do quarto se abriu de repente, me tirando dos meus pensamentos. Eu levantei a cabeça e lá estava ele, Hyunjin, como se tivesse ouvido meus pensamentos. Ele entrou sem cerimônia, como sempre fazia, e se encostou na porta, me observando com aquele sorriso de canto, que parecia saber mais do que deixava transparecer.

— Oi — ele disse casualmente, cruzando os braços.

Eu o observei por um momento antes de responder, tentando ler o que ele estava pensando.

— Oi... — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.

Hyunjin entrou mais no quarto e fechou a porta atrás de si. Ele se aproximou e sentou na beira da minha cama, o olhar fixo no meu caderno.

— O que você tá escrevendo?

— Nada demais... Só algumas ideias de letras. — Eu fechei o caderno e coloquei ao meu lado, sem querer entrar muito naquele assunto.

Ele assentiu, mas dava para ver que ele estava com outra coisa na cabeça. Algo estava no ar, algo que eu sabia que nós precisávamos resolver.

— Sobre a noite passada... — ele começou, sem rodeios.

Meu coração deu um pulo. Era inevitável. Nós precisávamos ter essa conversa, mas eu não sabia se estava pronto para o que ele ia dizer.

— É, sobre isso... — eu murmurei, tentando encontrar as palavras certas. — Hyunjin, eu não sei... Eu não sei como me sinto sobre isso.

Ele franziu o cenho, como se não estivesse entendendo.

— Como assim? — Ele se inclinou um pouco mais para perto, o olhar mais sério do que eu estava acostumado a ver nele.

Eu respirei fundo e decidi ser honesto, por mais que aquilo me deixasse vulnerável.

— Eu não sei se consigo "deixar rolar" como você. Quer dizer, significou alguma coisa pra mim... — Eu hesitei, olhando para ele, tentando medir sua reação. — Eu só... não quero que seja só mais uma coisa sem importância, sabe?

Hyunjin ficou em silêncio por alguns segundos, e eu quase podia ouvir meu próprio coração batendo no peito enquanto esperava ele responder. Ele olhou para o chão, como se estivesse processando o que eu tinha acabado de dizer, e depois voltou a me encarar, mas com uma expressão mais suave, quase... compreensiva.

— Felix, eu... — Ele fez uma pausa, passando a mão pelos cabelos, claramente nervoso. — Eu não tô acostumado com isso, sabe? Eu não sou exatamente bom em... lidar com sentimentos. — Ele riu de um jeito meio sem graça. — Mas a verdade é que... Essa noite também significou pra mim. Muito mais do que eu imaginei.

Eu senti um nó na garganta se desfazer, mas ainda havia um leve desconforto, como se eu estivesse esperando outra bomba cair.

— Sério? — perguntei, querendo ter certeza de que ele estava sendo honesto.

Hyunjin assentiu, se inclinando um pouco mais perto de mim, seu rosto mais suave do que eu já tinha visto antes.

— É sério, Felix. Eu tô sendo sincero. — Ele parou por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. — Eu sei que pareço meio desapegado, mas... eu não quero que seja só mais uma coisa. Eu não quero te machucar ou fazer você achar que não me importo.

Eu o observei, tentando ver se havia alguma hesitação em suas palavras, mas tudo o que eu via era honestidade. Talvez até uma vulnerabilidade que ele tentava esconder.

— Eu só preciso de tempo pra entender... o que isso significa pra mim — ele continuou, a voz um pouco mais baixa. — Mas eu quero que você saiba que você é importante pra mim. De verdade.

Eu não sabia o que dizer por um momento. Aquele lado mais sensível de Hyunjin era algo que eu raramente via, e aquilo mexeu comigo mais do que eu esperava.

— Ok — eu finalmente disse, com um leve sorriso. — A gente pode descobrir isso juntos, eu acho.

Hyunjin deu um sorriso de canto e assentiu.

— É, acho que podemos.

Nós ficamos em silêncio por um momento, e então ele se levantou da cama, ainda com aquele sorriso tranquilo.

— Agora, se você me der licença, eu vou roubar sua caneta e escrever alguma coisa nessa sua letra — ele disse, pegando minha caneta antes que eu pudesse protestar.

Eu ri e balancei a cabeça, vendo-o rabiscar no meu caderno como se fosse a coisa mais normal do mundo. Talvez as coisas ainda estivessem meio incertas, mas pelo menos estávamos no mesmo ponto de partida agora. E isso já era o suficiente por enquanto.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora