As vozes que enlouquecem

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A rotina de gravação tinha começado com força total. Estávamos no estúdio todos os dias, ajustando cada detalhe do novo álbum. O processo era emocionante, mas, ao mesmo tempo, minha mente estava em uma espiral que eu não conseguia controlar. As vozes nas revistas de fofoca, os programas de TV comentando sobre mim e Hyunjin... era como se eu não conseguisse escapar.

"Má influência."
"Vergonha para a indústria."
"Felix e Hyunjin são um problema."

Essas palavras ficavam girando na minha cabeça, mesmo quando estávamos no estúdio, um lugar onde, teoricamente, eu deveria me sentir livre. Mas não estava funcionando. Eu não estava bem.

Estava no meio de uma gravação de Broken Mirrors. Tínhamos passado horas dentro da cabine, e Chan e Changbin, do outro lado, estavam concentrados nas mixagens. Eu tinha os fones nos ouvidos, o microfone à minha frente, e estava tentando, realmente tentando, mas cada nota que saía da minha boca parecia... errada. Eu odiei a maneira como eu estava cantando.

Eu tirei os fones bruscamente, afastando o microfone de mim.

— Eu preciso gravar isso de novo — falei, com a voz baixa, mas firme.

Chan olhou para mim através do vidro da cabine, e pela expressão dele, eu sabia que ele ia dizer que não precisava.

— Tá bom, Lix, foi ótimo. Vamos seguir em frente — disse ele, tentando encerrar a discussão antes mesmo de começar.

Os outros caras concordaram com Chan. Hyunjin, Changbin, Minho, Jisung, Seungmin e Jeongin todos eles fizeram um sinal afirmativo. Eles achavam que estava bom, mas, dentro de mim, eu sabia que não estava.

— Não, não está bom — insisti, mexendo no suporte do microfone. — Eu não estou satisfeito. Preciso fazer de novo.

O estúdio ficou em silêncio por um segundo. Eu vi Hyunjin me lançar um olhar preocupado, mas eu não conseguia lidar com aquilo agora. Não era sobre ele, não era sobre eles. Era sobre mim. E algo dentro de mim estava gritando que eu não estava à altura, que eu precisava melhorar.

Chan suspirou do outro lado e mexeu nos controles.

— Tudo bem, se você quer fazer de novo, vamos nessa. Só tenta relaxar, tá? Não precisa se cobrar tanto.

— Relaxar, né? — murmurei para mim mesmo, mas o microfone captou minha voz, e eu vi Chan levantar a sobrancelha do outro lado da cabine.

Eu respirei fundo e coloquei os fones de volta, tentando me concentrar. Jisung me deu um olhar rápido de incentivo antes de voltar a tragar o cigarro, mas aquilo não fez muita diferença. A pressão dentro de mim só aumentava.

— Vamos de novo, então. Preparado? — perguntou Chan.

— Sim... só... começa logo — respondi, sentindo a impaciência na minha própria voz.

A música começou a tocar nos fones, e eu fechei os olhos, tentando encontrar o ritmo, o sentimento, tudo o que eu sabia que estava ali, mas que parecia inacessível no momento. Cada palavra da letra que eu tinha escrito, cada acorde... nada parecia certo.

Comecei a cantar, mas logo na segunda linha, minha voz falhou um pouco, e eu perdi o tom. Frustrado, tirei os fones de novo e joguei eles na mesa ao meu lado.

— Eu não consigo... — murmurei, massageando a têmpora. — Isso não está saindo. Não está certo!

Do outro lado, Hyunjin fez menção de se levantar, mas Chan gesticulou para ele ficar. Eu sabia que eles estavam preocupados, mas isso só piorava tudo.

Chan apertou o botão de comunicação e falou, com a voz calma.

— Lix, tá tudo bem, cara. Tá mesmo. Mas você está se cobrando demais. Já tá ótimo como está.

— Não tá ótimo! — falei, mais alto do que eu pretendia. — Eu sei quando tá bom, e isso aqui não tá. Preciso tentar de novo.

— Vamos dar uma pausa, então. Vai respirar um pouco. Às vezes, a gente só precisa de uma pausa pra clarear as ideias — Chan sugeriu, claramente tentando aliviar a tensão.

Eu sabia que ele estava certo. Sabia que eu estava me deixando levar por algo maior do que a música naquele momento, mas era difícil de parar. Tudo parecia fora do lugar na minha cabeça. Mas, sem ter outra opção, assenti e saí da cabine.

Quando cruzei o estúdio, Hyunjin veio até mim, mas eu fiz um gesto para ele não se preocupar. Precisava de um momento sozinho. Eu fui até a varanda que ficava ao lado do estúdio, respirei o ar frio da tarde e tentei me acalmar. Mas as vozes na minha cabeça continuavam.

Eu era uma piada.
Eu era uma decepção.

E, pior, estava começando a acreditar nelas.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora