Voltando ao trabalho

42 10 0
                                    

Seul, 1975

Quando voltamos em janeiro, parecia que todo mundo estava mudado de alguma forma. Era como se a pausa tivesse feito com que cada um de nós se reinventasse. A primeira surpresa veio de Jisung, que apareceu com uma tatuagem no braço. Eu quase engasguei de tanto rir quando ele entrou no estúdio e mostrou.

— Cara, você realmente fez uma tatuagem? — eu perguntei, tentando processar o desenho meio abstrato que cobria parte do antebraço dele. — Quando foi que você teve coragem pra isso?

Jisung deu de ombros, com aquele sorriso travesso que só ele sabia fazer.

— Ano novo, né? — Ele piscou. — Nova fase.

Eu balancei a cabeça, rindo. Jisung sempre era o mais imprevisível, então não devia ser tão surpreendente.

Mas a maior surpresa foi no último dia antes de voltarmos ao estúdio. Eu e Hyunjin estávamos no carro, voltando da praia, quando ele de repente virou numa rua diferente.

— Onde a gente tá indo? — perguntei, me inclinando no banco.

Hyunjin só sorriu e disse:

— Você vai ver.

A gente parou na frente de um pequeno estúdio de piercing, e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ele já estava fora do carro, acenando para eu esperar. Uns vinte minutos depois, ele voltou. O lábio inferior dele brilhava com uma nova argola prateada, e eu senti um calor estranho no peito quando o vi.

Ele entrou no carro, o sorriso preguiçoso de sempre no rosto, e perguntou casualmente:

— Então? O que acha?

Eu não consegui disfarçar.

— Acho que... Você tá muito gostoso.

Ele riu, passando a língua pelo piercing novo, claramente satisfeito com a minha resposta.

Depois disso, voltamos ao dormitório. A galera já estava por lá. Jeongin também tinha mudado o visual, uma mecha branca contrastando com o cabelo preto, e quando o vi de costas no corredor, quase não reconheci.

— É sério isso? — perguntei, me aproximando. — Todos resolveram mudar.

Ele riu, jogando o cabelo pra trás.

— Tô só testando umas coisas novas. E aí, tá aprovado?

Eu dei um tapinha no ombro dele.

— Tá maneiro. De verdade.

Era engraçado ver como todo mundo havia mudado em tão pouco tempo, mesmo que fossem mudanças pequenas. Talvez fosse a expectativa do que estava por vir. O lançamento do álbum estava perto, e cada um de nós estava vivendo essa ansiedade de um jeito diferente.

No dia seguinte, nos reunimos no estúdio pra ouvir o álbum inteiro mais uma vez antes do lançamento oficial. Eu me sentia nervoso, mas também empolgado. Queria ouvir as faixas em sequência, sentir a energia de cada música e ver a reação dos outros.

Assim que a primeira faixa, Unspoken, começou a tocar, o estúdio foi tomado pelo som que tínhamos criado juntos. As batidas, as guitarras, as vozes... tudo parecia tão certo. Lost and Found veio logo em seguida, e mesmo depois de termos escutado aquela música mil vezes, ainda era poderosa.

— Caralho, nossa música é boa — Chan comentou, batendo a mão na coxa, como se estivesse se dando conta daquilo pela primeira vez.

Eu concordei, sentindo o orgulho crescer no peito. Realmente, o som era ótimo. Melhor do que eu esperava. Cada faixa parecia ter seu próprio espaço, sua própria energia. E então veio In Between, e eu e Hyunjin nos entreolhamos.

Quando nossas vozes se entrelaçaram, eu pude sentir um arrepio subir pela minha espinha. Era como se aquele dueto fosse um reflexo exato do que estávamos vivendo, mesmo que ninguém mais soubesse.

Hyunjin sorriu de canto, e eu desviei o olhar, tentando focar na música.

Quando a última faixa, Mountains, terminou, houve um breve silêncio no estúdio, e então todo mundo começou a falar ao mesmo tempo.

— Isso tá incrível! — Jisung disse, se jogando no sofá. — A galera vai pirar!

— Sim, tá realmente foda — Seungmin concordou, e até Jeongin estava balançando a cabeça em aprovação.

Chan, que sempre mantinha um olhar mais crítico sobre o nosso trabalho, parecia genuinamente impressionado.

— Eu acho que isso vai funcionar muito bem nas rádios — ele disse, olhando para o painel de controle do estúdio como se estivesse visualizando o futuro. — Esse álbum tem potencial pra estourar de verdade.

Enquanto eles falavam, eu e Hyunjin continuávamos a nos entreolhar, trocando sorrisos de cumplicidade. A verdade era que eu estava ansioso. Ansioso pelo que viria a seguir, pela turnê, pelo lançamento, e... por nós.

Quando estávamos saindo do estúdio, Jisung veio até mim, cutucando meu braço.

— Você tá quieto hoje. Tá tudo bem?

Eu sorri de leve, tentando não parecer tão perdido nos meus pensamentos.

— Tá sim. Só... pensando no que vem por aí.

Ele assentiu, como se entendesse.

— É, vai ser louco. Mas a gente tá pronto.

Eu apenas balancei a cabeça, sem saber se estava falando sobre a banda ou sobre a bagunça que estava minha vida com Hyunjin.

No fundo, eu sabia que estávamos prontos para o que vinha pela frente. Mas o que eu ainda não sabia era até onde essa história com Hyunjin iria.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora