Insanidade

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Eu amava as drogas. Simples assim. Aquela adrenalina que corria pelas minhas veias, a sensação de estar no topo do mundo, invencível. Era isso que eu precisava. O primeiro semestre de 1975 foi onde eu mais fiquei doido. Nós estávamos na estrada, levando nossa música para todo canto, e eu, bem, eu estava me afundando cada vez mais. Mas não era algo que me preocupava na época. Pelo contrário, eu queria mais. Sentia que precisava daquilo.

Em julho, já tínhamos completado três meses de turnê, e eu havia aumentado a quantidade de comprimidos por dia. Antes, eu achava que dois ou três eram suficientes. Agora, eu não passava um dia sem engolir seis ou sete. Precisava deles para sentir aquela adrenalina. E, quando o efeito batia, era no palco que eu explodia. Cada show, cada nota, cada movimento. Eu era impecável. O público não fazia ideia do que rolava por trás das cortinas. Não importava. Pra eles, eu era Hyunjin, o cara que entregava tudo em cada performance. E eu amava isso.

Eu sabia que parte do que fazia eu e Felix termos aquele desempenho surreal no palco era a minha mistura insana de substâncias no organismo. A diferença era que Felix não usava nada. Ele era puro, natural. Toda a energia que ele entregava vinha dele mesmo. Eu, por outro lado, usava de tudo. O irônico era que, mesmo sabendo que eu não precisava daquilo para ser bom, para ser foda, eu gostava de ser mais. Gostava de ser mais do que eu já era. O palco me pedia isso. As luzes, o som ensurdecedor, os gritos das fãs. Tudo me puxava para esse vício de sempre querer ultrapassar o limite.

Me lembro de um show em particular, em Busan. A energia estava lá no alto. Felix estava especialmente insano naquela noite, jogando o cabelo pra trás, sua voz grave cortando o ar com uma precisão absurda. Nós cantávamos "Crash and Burn", e eu estava tão chapado que parecia que cada palavra saía da minha boca com um peso triplicado. Cada vez que Felix se aproximava de mim, eu sentia aquela tensão, aquela coisa que só nós dois sabíamos. Eu adorava o jeito que ele jogava o corpo contra o meu, sem hesitar. E eu devolvia na mesma intensidade.

No meio da música, quando ele pegou aquela garrafa de água e jogou na plateia, e depois em si mesmo, eu quase perdi o fôlego. Felix estava pingando, o cabelo grudado na testa, e o sorriso... Ah, aquele sorriso provocante, que ele sabia que mexia comigo. O público ia à loucura, gritando como se estivéssemos em um ritual.

Depois do show, já nos bastidores, eu sentia o efeito dos comprimidos diminuindo. Era sempre assim, um ciclo interminável. Eu sabia que logo precisaria de mais. Felix me olhou, os olhos brilhando com a euforia da apresentação.

— Você tava insano hoje — ele disse, a voz rouca e satisfeita.

Eu dei de ombros, um sorriso surgindo no canto da boca.

— Eu tô sempre insano.

Ele se aproximou, as gotas de suor ainda escorrendo pelo pescoço dele. Eu observava, fascinado.

— Talvez você esteja um pouco mais insano que o normal — Felix provocou, sua mão tocando de leve o meu braço.

— Você gosta, não gosta? — Eu perguntei, sabendo a resposta, me inclinando para perto dele, sentindo a proximidade dos nossos corpos. Ele não precisou responder. Estava escrito no rosto dele, no jeito que ele me olhava. Felix sempre gostava.

Mais tarde, quando voltamos para o ônibus, enquanto os outros ainda estavam no bar ou em suas próprias loucuras, eu e Felix aproveitamos a privacidade. A estrada à noite tinha uma vibe que eu curtia. O barulho das rodas no asfalto, o movimento suave do ônibus balançando. Eu não precisava de muito mais.

— Vamos fazer barulho hoje? — Felix perguntou, um sorriso sacana no rosto. Ele sabia o que viria.

Eu ri, puxando ele pela cintura.

— Vai ser difícil não fazer.

E foi. Enquanto o mundo lá fora continuava girando, nós dois nos perdíamos um no outro, sem nos preocuparmos com nada além daquele momento. Eu adorava aquela intensidade, o jeito que nós dois nos conectávamos, tanto no palco quanto fora dele. Mas naquele ponto, nada mais importava. A única coisa que me preocupava era a próxima dose, o próximo show, a próxima vez que Felix me faria perder o controle novamente.

Eu sabia que um dia, tudo aquilo iria desmoronar. Mas por enquanto, eu estava vivendo o momento.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora