Novas músicas, novas histórias

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As semanas seguintes foram um turbilhão de inspiração para mim e Felix. Parecia que toda aquela pausa, todo o tempo que passamos distantes enquanto eu estava na reabilitação, só acumulou ainda mais criatividade em nós. O estúdio virou quase nossa segunda casa. Íamos para lá todos os dias e perdíamos a noção do tempo compondo, alterando algumas músicas que já estavam guardadas e até mesmo reescrevendo outras que, na época, não tinham feito tanto sentido.

O mais impressionante é que, mesmo depois de tudo, a nossa conexão musical parecia estar ainda mais forte. Cada vez que Felix sentava ao piano ou pegava o violão, eu já sabia exatamente o que ele estava prestes a tocar. E ele fazia o mesmo comigo. Era como se nossas mentes estivessem sincronizadas de uma forma que eu nunca imaginei ser possível.

Uma tarde, estávamos no estúdio, cercados por partituras e rabiscos espalhados pelo chão, quando Felix se aproximou de mim com um caderno em mãos. Ele o segurava como se fosse algo valioso, e de fato era. Eu reconheci o caderno, era o mesmo que ele sempre carregava durante a turnê de Lost and Found.

— Hyun, eu quero te mostrar uma coisa — ele disse, sua voz suave, mas cheia de emoção.

Eu ergui o olhar, curioso.

— O que é? — perguntei, me endireitando na cadeira.

Ele abriu o caderno e me mostrou uma letra. Eu reconheci as palavras imediatamente. Era uma composição que ele havia escrito durante um dos momentos mais tensos da nossa última turnê, quando estávamos brigados. Eu me lembrei daquele dia como se fosse ontem. Estávamos no meio de uma discussão intensa, em meio a chuva. Mesmo assim, acabamos nos beijando ali, no meio da chuva, como se todo o peso do mundo desaparecesse por alguns minutos.

Felix sorriu enquanto me entregava o caderno.

— Eu escrevi isso naquela noite. — Ele disse, me observando com aqueles olhos castanhos profundos, sempre atentos a cada reação minha. — Nunca te mostrei, porque... bem, a gente ainda estava meio perdido. Mas agora acho que faz sentido.

Eu peguei o caderno, passando os olhos pela letra. A música era intensa, cheia de paixão e vulnerabilidade. Falava sobre dor, reconciliação, e principalmente sobre como, mesmo nos momentos mais difíceis, o amor ainda nos encontrava. Eu me senti emocionado ao lê-la. Era como reviver cada emoção daquela turnê, mas agora com uma perspectiva diferente.

— Felix... isso é lindo. — Eu disse, ainda processando tudo.

Ele sorriu timidamente, como sempre fazia quando estava inseguro sobre suas composições.

— Eu não sabia se era boa o suficiente — ele confessou, mordendo o lábio.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Você está brincando? Isso aqui é incrível. — Respondi, voltando a olhar para ele. — Nós temos que gravar isso.

Felix parecia aliviado. Ele se aproximou e me deu um beijo suave, agradecido.

— Eu fico feliz que você goste — ele murmurou contra meus lábios.

Aquela música, como tantas outras que estávamos compondo, se tornou uma das nossas peças-chave para o novo álbum. Nós sabíamos que seria especial, mas ainda tínhamos a joia da coroa: Aurora. Com Aurora já gravada, sabíamos que tínhamos uma carta na manga poderosa para o próximo álbum. Ela era mais do que uma simples música para nós. Era uma declaração de quem éramos, de tudo o que passamos e do que ainda estávamos dispostos a fazer pela nossa arte e pela banda.

Estávamos sentados no chão do estúdio uma noite, cercados por papéis e anotações. Felix estava deitado com a cabeça no meu colo, dedilhando distraidamente seu violão, enquanto eu revia algumas letras.

— Você acha que estamos prontos? — ele perguntou, sem levantar o olhar.

Eu pensei por um momento. Fazia dois anos que havíamos lançado Lost and Found, e aquele álbum ainda estava vendendo como água. Era o trabalho que nos colocou no topo, o que solidificou nosso nome na indústria. A pressão para lançar algo novo, algo à altura, era imensa.

— Eu acho que sim — respondi, sorrindo para ele. — Nós temos as músicas. E, sinceramente, se Aurora não nos colocar no topo de novo, eu não sei o que mais colocaria.

Felix riu baixinho, concordando.

— Eu tenho um bom pressentimento sobre esse álbum — ele disse, tocando uma melodia suave no violão. — Acho que será o nosso melhor trabalho até agora.

Eu concordei. Havia uma energia diferente no ar, algo que nos dizia que esse álbum seria especial, não só para nós, mas para todos que o ouvirem. Ele carregava nossa essência, nossas lutas, nossas vitórias e, acima de tudo, o amor que tínhamos pela música e um pelo outro.

Eu não podia esperar para compartilhar isso com o mundo.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora