De volta para casa

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Eu saí da reabilitação em janeiro de 77. Um ano inteiro, cara. Um ano de luta interna, de altos e baixos, mas eu consegui. Quando me deram alta, o primeiro rosto que eu vi foi o de Chan. Ele estava me esperando do lado de fora, encostado no carro, com um sorriso tímido no rosto. Ele sempre foi assim, mais reservado, mas aquele sorriso me deu um conforto que eu nem sabia que precisava.

— Finalmente, hein? — ele disse, vindo na minha direção. E então me deu um abraço, um daqueles abraços de irmão, apertado e sincero. Eu senti o peso dos últimos meses desaparecer por um instante. O abraço dele me lembrou que eu não estava sozinho nessa.

— Finalmente — eu repeti, soltando um suspiro enquanto retribuía o abraço.

Entramos no carro, e durante o caminho, eu fiquei em silêncio, olhando pela janela. As ruas, as pessoas, tudo parecia tão... normal. Tudo continuava igual, mas para mim, tudo parecia novo. Eu estava sóbrio. De verdade. É engraçado, porque no começo, você começa a usar para silenciar os sentimentos, para fugir deles. As drogas anestesiam a dor, os pensamentos, as inseguranças. Mas depois de um tempo, você percebe que as drogas não estão mais te silenciando, mas sim amplificando tudo. Cada emoção, cada sensação, vira um grito dentro da sua cabeça.

Então quando você redescobre a sanidade, é como se estivesse reaprendendo a viver. Reaprendendo a sentir. Cada pensamento parecia mais claro, mais nítido. E, ao mesmo tempo, assustador.

— Tá tudo bem? — Chan perguntou, quebrando o silêncio, enquanto dirigia pelas ruas da cidade.

Eu tirei os olhos da janela e olhei para ele. A preocupação no rosto dele era evidente.

— Tá. Eu só... — dei uma risada sem humor — ...só tô tentando entender como as coisas funcionam de novo, sabe?

Chan assentiu, sem tirar os olhos da estrada.

— Eu entendo. Leva um tempo, mas você vai encontrar seu ritmo. Todos nós estamos aqui pra te ajudar, Hyunjin.

Fiquei em silêncio por mais um tempo, absorvendo as palavras dele. Era reconfortante saber que eu tinha uma rede de apoio. Durante todo o processo de recuperação, o medo de decepcionar as pessoas que eu amava era constante. Mas ali, com Chan ao meu lado, senti que eu poderia encontrar um jeito de me reconstruir.

— E o Felix? — perguntei, quase hesitante. Ele não tinha vindo me buscar, e por mais que eu soubesse que ele provavelmente estava me esperando, algo dentro de mim precisava da confirmação.

— Ele tá no dormitório — Chan respondeu, com um sorriso. — Te esperando, ansioso.

Eu sorri de volta, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. Eu sabia que ver Felix de novo seria intenso. Ele esteve comigo durante todo o processo, sempre me apoiando, mas o medo de não ser o suficiente, de não conseguir me manter sóbrio por ele, ainda pairava no ar.

Quando finalmente chegamos em casa, meu coração estava acelerado. Era como voltar para um lugar que eu não visitava há séculos, embora tivesse sido apenas um ano. Chan estacionou o carro e se virou para mim.

— Vai lá. Ele tá te esperando.

Eu assenti, respirando fundo antes de sair do carro. Cada passo até a porta parecia pesado, como se o ar ao meu redor estivesse denso. Bati na porta, e em questão de segundos, a porta se abriu.

Felix estava lá, parado na entrada, com os olhos arregalados, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele pulou em cima de mim, me abraçando com tanta força que me fez rir.

— Hyunjin! — ele exclamou, a voz embargada de emoção. — Você tá aqui! Você tá de volta!

Eu o segurei, enterrando meu rosto no ombro dele, sentindo o cheiro familiar, o calor do corpo dele. Tudo o que eu precisava naquele momento.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora