Revisão do álbum

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Nosso álbum estava foda. Isso era fato. Eu ficava pensando em como Chan e Changbin tinham feito um trabalho incrível na distribuição das músicas. Eles sabiam exatamente como organizar as faixas para criar o fluxo perfeito, algo que parecia simples, mas que exigia muita atenção. No lado A, tínhamos Unspoken, Lost and Found, Gravity, Faded Lines, e claro, In Between, que era uma das que mais me deixava nervoso por tudo o que ela representava. Era impossível não lembrar do que escrevemos naquela música, e de como nossas vozes se entrelaçavam. Tinha algo de íntimo demais ali.

E no lado B, as faixas não deixavam nada a desejar. Echoes of You, Crash and Burn, Stolen Breath, e Mountains. O lado B era foda também. Talvez mais intenso, mais sombrio. Cada uma das faixas parecia ter seu próprio tom, sua própria mensagem, como se tivessem nascido de momentos diferentes, mas que juntas, contassem uma história maior. Eu gostava do lado B, mas havia algo no lado A que me atraía mais... talvez porque In Between estivesse lá.

No fundo, acho que eu gostava dos dois lados do álbum, e sabia que tínhamos criado algo realmente especial. Nove faixas. Nove faixas fodas. Eu me sentia orgulhoso. Era um sentimento estranho, porque ao mesmo tempo que estávamos criando música para o mundo, havia muita coisa nossa ali. Algo pessoal.

E claro, havia Aurora. Aquela música ainda estava fresca na minha mente desde a praia. Eu queria tanto que ela fizesse parte do álbum, mas sabia que Chan me mataria se eu aparecesse com mais uma faixa quando faltava tão pouco para o lançamento. Então, eu guardei Aurora para o próximo álbum. O jeito como ela veio para mim, enquanto olhava Felix na praia... Não, aquela música merecia ser lançada no momento certo.

Mas antes que isso acontecesse, eu tinha que mostrá-la a Felix. Era nossa música, afinal de contas.

Uma noite, depois de uma sessão de ensaios e muita correria para acertar os últimos detalhes do lançamento, fui até o quarto de Felix com meu caderno. Ele estava deitado na cama, lendo alguma coisa. Provavelmente uma revista de música ou algo do tipo. Eu entrei sem bater, como sempre.

— Ei, Felix, preciso te mostrar uma coisa.

Ele olhou para cima, me dando aquele sorriso preguiçoso.

— Você sempre precisa me mostrar alguma coisa, Hyunjin. — Ele fechou a revista e se sentou na cama. — O que é dessa vez?

Eu me sentei na cadeira ao lado da cama, abrindo o caderno nas páginas onde tinha escrito Aurora. As palavras estavam lá, rabiscadas e manchadas de areia e sal, como se a própria praia tivesse sido capturada nas páginas.

— Lembra daquela manhã na praia? Quando você tava sentado vendo o nascer do sol?

Felix franziu a testa, tentando lembrar.

— Sim... Claro que lembro. — Ele disse, cruzando os braços, curioso. — Não me diga que...

— Sim, é a letra de Aurora — Eu empurrei o caderno em direção a ele.

Felix olhou para o caderno por um segundo, então pegou, começando a ler as letras que eu tinha rabiscado. Eu o observava enquanto ele lia. O jeito como os olhos castanhos se moviam pela página, devorando as palavras que eu tinha escrito. Cada verso, cada frase, eu sabia que ele estava absorvendo, tentando entender o que eu tinha sentido naquela manhã.

Quando ele terminou, Felix olhou para mim, sem dizer nada por um momento. Então, um sorriso pequeno e tímido se formou em seus lábios.

— Você... — Ele balançou a cabeça. — Escreveu essa pra mim?

Eu assenti, observando como ele reagia.

— Tudo parecia ser sobre você naquela manhã.

Felix riu, um riso abafado, como se estivesse tentando processar aquilo.

— Você é doido, Hyunjin. — Ele jogou o caderno de volta para mim, mas o sorriso ainda estava lá, genuíno. — Por que você não colocou no álbum?

Eu suspirei, jogando o caderno de lado.

— Chan ia me matar se eu aparecesse com mais uma música. — Eu ri, lembrando do olhar de Chan, que já estava quase surtando com a organização final. — Mas eu tô guardando essa pro próximo. Essa música é especial.

Felix se inclinou um pouco, me olhando de perto. O jeito como ele fazia isso às vezes me deixava desconcertado.

— Especial, hein? — Ele provocou. — Especial por quê?

Eu dei de ombros, tentando manter um ar casual, mas ele sabia que eu estava falando de nós. De tudo o que estávamos vivendo e, de certa forma, ignorando.

— Você sabe por quê. — Falei baixo, desviando o olhar dele por um segundo, antes de encará-lo de novo.

Felix ficou em silêncio por um momento, o sorriso vacilando um pouco, como se estivesse considerando minhas palavras. Então ele balançou a cabeça, quebrando a tensão.

— Tudo bem. Eu vou esperar pra ouvir Aurora no próximo álbum. — Ele riu, jogando um travesseiro em mim. — Só não some com a letra antes disso, tá?

Eu ri, desviando do travesseiro e me jogando na cama ao lado dele, rindo também.

— Pode deixar. Você vai ouvir ela em grande estilo.

Enquanto a noite passava, nós ficamos ali, jogando conversa fora sobre o lançamento que estava cada vez mais próximo, sobre as mudanças de visual dos outros, e claro, sobre o que o futuro reservava para nós. Mas em meio a todas as conversas, havia uma certeza silenciosa. Mesmo que a gente não soubesse ao certo o que éramos, Aurora estava ali, nos lembrando de que algumas coisas não precisavam de definições.

E eu sabia, sem sombra de dúvida, que aquela música seria apenas o começo de algo muito maior.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora