Vulnerabilidade

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Quando percebemos, já estávamos no segundo semestre da turnê. Passaram-se meses, e, bicho, nada tinha mudado. Nada. Estava tudo uma merda, e, sinceramente, acho que estava pior. A turnê que, no início, era um sonho, tinha virado uma prisão. A única coisa que me mantinha de pé era o palco, mas, fora dele, era como se estivéssemos todos andando em uma corda bamba, prontos para cair a qualquer momento.

O único momento em que os oito estávamos juntos e unidos era no palco. Porque fora dele... Sei lá, a gente mal conversava. Nos hotéis, era cada um por si. Chan tentava manter as coisas funcionando, tentava ser o líder que sempre foi, mas até ele parecia cansado de tanto tentar. Jisung e Minho se isolavam, sempre com um cigarro na boca, e Changbin andava calado, concentrado demais. Jeongin e Seungmin pareciam os únicos que ainda tentavam manter algum tipo de harmonia, mas até eles pareciam afetados por toda a merda que estava acontecendo.

E eu... bom, eu estava quebrado. Tentava parecer firme, tentava seguir em frente, mas todo dia parecia mais difícil que o anterior. Todo show, toda entrevista, toda viagem. A pressão de fingir que estava tudo bem me sufocava. Pior ainda era ter que ver o Felix todos os dias e fingir que não estava morrendo de saudade.

Em todos os shows, mesmo sem perceber, eu estava sempre olhando para ele. Sempre. Não conseguia evitar. Felix sempre tinha aquela energia surreal, parecia que ele nascia para estar no palco. Era como se a música e as luzes alimentassem a alma dele, e eu... eu queria estar ali, ao lado dele. Mesmo que ele não me olhasse de volta. Mesmo que nossos olhos não se encontrassem como antes. Eu queria continuar olhando para ele, porque, de alguma forma, olhar para o Felix me lembrava de como era bom antes de tudo desmoronar.

Em cada solo de guitarra, eu me via olhando na direção dele. Ele pulava, dançava, cantava com aquela força que só ele tinha, e eu... ficava perdido. Mesmo com a multidão gritando nossos nomes, com os flashes das câmeras cegando, o foco era ele. Eu via a dor que ele tentava esconder, mesmo enquanto sorria para os fãs e se jogava no palco. Eu sabia que ele estava sofrendo tanto quanto eu. A gente não precisava dizer nada, estava estampado nos nossos rostos, nas poucas trocas de olhares que aconteciam entre uma música e outra.

Era uma tortura diária, cara. Estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe. Não era só sobre o fato de não podermos ficar juntos. Era sobre a distância emocional que tinha se criado entre nós. Eu sentia falta das conversas, dos risos, dos momentos de silêncio confortável. Agora, tudo o que tínhamos era um palco compartilhado e uma dor silenciosa.

No fundo, eu ainda esperava que algo mudasse. Que, de alguma forma, as coisas se acertassem. Que Park desistisse dessa ideia absurda de nos proibir de ficarmos juntos, ou que o mundo simplesmente parasse de se importar com quem estava com quem. Mas a cada dia que passava, essa esperança parecia mais distante.

O palco era o único lugar onde eu me sentia um pouco mais próximo dele, mesmo que fosse só uma ilusão. Quando as luzes se acendiam e a música começava, era como se tudo o que existisse fosse nós dois. Como se o resto do mundo desaparecesse por alguns minutos. Mas assim que as luzes se apagavam, a realidade voltava a nos esmagar.

Eu estava cansado. Cansado de fingir, cansado de lutar contra meus sentimentos. Eu o amava, porra. E todo mundo sabia disso, menos as pessoas que realmente importavam. E, a cada dia, a dor de estar longe dele parecia aumentar. Eu só queria que tudo isso acabasse. Que pudéssemos voltar a ser nós mesmos, sem essa pressão insuportável, sem toda essa merda em cima de nós.

Mas no fundo, eu sabia que isso não iria acontecer tão cedo.

Em novembro, eu estava à beira do colapso. Já fazia meses que as coisas estavam ruins, e parecia que, a cada dia, a pressão aumentava mais. Estava estressado, cansado, e, para ser sincero, eu não sabia mais o que fazer para manter a cabeça no lugar. A gente ainda estava no meio da turnê, mas a sensação era de que a estrada nunca acabava. A distância entre nós oito, o peso da mídia em cima de mim e do Felix, tudo estava me sufocando.

Uma noite, decidi sair para correr. Eu só queria sentir o vento no rosto, queria tentar aliviar a tensão que parecia consumir meu peito. Corri por horas pelas ruas da cidade, sem rumo, até que, de repente, me vi entrando num bar. Pedi um drink, depois outro, e antes que eu percebesse, já estava completamente bêbado. Meu corpo parecia pesado, e a mente rodava com memórias e dores que eu tentava enterrar.

Voltei para o hotel de madrugada, quase três da manhã. As ruas estavam vazias, e o silêncio só fazia o barulho na minha cabeça aumentar. Quando cheguei ao corredor do hotel, eu sabia exatamente onde queria ir. Meus pés me levaram direto para a porta do Felix. Não pensei duas vezes antes de bater. Eu precisava dele, porra. Precisava vê-lo. Mesmo que não dissesse nada, eu só queria estar perto dele.

Demorou um pouco até ele abrir a porta. Felix apareceu com o cabelo todo bagunçado, os olhos inchados de sono. Ele parecia meio confuso, piscando várias vezes enquanto tentava entender o que estava acontecendo. E então ele me viu, todo bêbado, mal me aguentando em pé.

— Hyunjin? — Ele murmurou, ainda com a voz rouca de sono.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Felix me puxou para dentro do quarto. A porta se fechou atrás de nós, e foi como se todo o controle que eu ainda tinha desmoronasse de uma vez. Eu comecei a chorar. Não eram lágrimas discretas, era um choro pesado, feio, descontrolado. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu mal conseguia respirar entre os soluços.

— Hyunjin, ei... — Felix tentou me levantar, a voz dele era suave, mas tinha um tom de desespero. — Vem, vamos pro banho. Você precisa se lavar, vem cá.

Ele me guiou até o banheiro, e eu só deixava ele fazer o que quisesse. Me sentia completamente vulnerável, uma bagunça completa, e por mais que eu tentasse segurar, as lágrimas não paravam. O peito doía. Eu soluçava, e a cada soluço, parecia que tudo o que estava preso dentro de mim há meses estava saindo de uma vez.

— Eu... eu não tô aguentando mais, Felix... — eu murmurei, a voz trêmula. — Isso tudo, essa turnê, essa merda toda. Eu não tô aguentando mais.

Felix continuou tentando me segurar, mesmo enquanto eu quase caía de joelhos no banheiro. Ele me olhou por um segundo, os olhos preocupados, mas também tristes. Eu sabia que ele entendia. Porque ele estava sofrendo tanto quanto eu, mas a gente tinha que fingir, tinha que continuar com essa droga de show, de imagem, de banda.

— Hyunjin, calma... — ele sussurrou, a voz baixa e suave, como se estivesse tentando me acalmar. — Tá tudo bem... Vem, toma um banho, eu tô aqui.

Ele ligou o chuveiro, e a água começou a cair no chão, mas eu ainda estava lá, parado, chorando. Felix me ajudou a tirar a roupa, me colocou debaixo da água fria e ficou ali, comigo, o tempo todo. Eu me sentia ridículo, completamente exposto, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que era a única pessoa que eu podia mostrar essa fraqueza. Felix era a única pessoa que me entendia de verdade.

Depois de um tempo, ele me ajudou a sair do banho, me secou e me levou de volta para a cama. Eu ainda estava tremendo, o corpo exausto de tanto chorar, e ele se deitou ao meu lado, sem dizer nada. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas respirando. O quarto estava escuro, mas o calor do corpo dele ao meu lado me acalmava.

Eu virei para o lado, meus olhos encontrando os dele no escuro.

— Desculpa, cara... — eu sussurrei, minha voz rouca de tanto chorar. — Eu não queria te acordar... Não queria te envolver nisso de novo.

Ele balançou a cabeça, colocando a mão no meu cabelo, fazendo um carinho suave.

— Você nunca precisa se desculpar comigo, Hyunjin. Eu tô aqui pra você, sempre estive. — Ele disse, a voz dele firme, mas ao mesmo tempo, tão carinhosa que fez meu peito doer ainda mais.

Eu não disse mais nada depois disso. Não havia o que dizer. Ele sabia o quanto eu o amava, o quanto era difícil pra mim ficar longe dele. Eu fechei os olhos, sentindo a mão dele no meu cabelo, e, pela primeira vez em meses, eu finalmente senti um pouco de paz. Mesmo que fosse por algumas horas, eu finalmente pude descansar, sabendo que ele ainda estava ali comigo, mesmo que o mundo lá fora estivesse uma merda.

You're my morning sun Onde histórias criam vida. Descubra agora