Capítulo 82

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Gideon

Anos atrás.

O som do vento cortando pela floresta era como um grito de liberdade, preenchendo meus ouvidos e arrepiando minha pele.

- Ebaaa! - gritei com entusiasmo, erguendo os braços para o alto. O vento chicoteava meus cabelos azulados, que esvoaçavam como as asas de um pássaro recém-liberto.

Meu cavalo galopava a uma velocidade frenética, desviando habilmente das árvores. Cada salto era como um voo breve, e eu me sentia invencível. Por um momento, era apenas eu e a vastidão da floresta, longe do peso do meu clã e das responsabilidades que ele trazia. Eu era apenas uma criança, buscando uma infância que raramente me permitiam viver.

Mas a euforia foi interrompida abruptamente. O cavalo empinou, freando de repente, e meu corpo foi lançado para frente como uma boneca de trapo.

O impacto foi brutal; senti a pele arder enquanto meu corpo se arrastava pela terra, acumulando cortes e hematomas até parar perigosamente à beira de um abismo.

O coração disparou no peito. Um grito escapou dos meus lábios enquanto minhas mãos buscavam desesperadamente algo para segurar.

Meus dedos finalmente encontraram uma pedra, e meu corpo ficou suspenso entre a vida e uma queda mortal.

- Ai, meu Deus! - minha voz soou aguda e trêmula. - Socorro! Mamãe! Papai!

As palavras ecoavam, mas eram engolidas pela vastidão da montanha. Ninguém viria.

Tremendo, tentei me mover.

O suor escorria pelo rosto e minhas lágrimas misturavam-se com a poeira. Foi então que percebi, pelo canto do olho, algo vermelho balançando com o vento.

Forçando-me a olhar para baixo, vi que havia níveis de pedras abaixo de mim, o suficiente para tentar descer com cuidado.

Respirei fundo, lutando contra o medo que me consumia. - Você consegue, Gideon - sussurrei para mim mesmo, tentando acalmar meu coração disparado.

Com um movimento cuidadoso, libertei minha blusa que estava presa e apoiei os pés no primeiro nível de pedras.

Enquanto equilibrava meu corpo, o vermelho chamou minha atenção novamente.

Era cabelo. Um cabelo ruivo, brilhando sob a luz fraca que atravessava as nuvens.

Quando me aproximei, vi um garoto encolhido, sentado sobre as pedras. Seus braços estavam apoiados nos joelhos, e o rosto escondido. Sua postura era tão quieta que parecia parte da paisagem, um retrato de solidão e desespero.

- Eu estou bem! - gritei para meu cavalo, que andava de um lado para o outro lá em cima, relinchando em preocupação.

Ele parou por um instante, mas continuou a me observar de longe.

Desci mais alguns níveis, meu corpo reclamando com cada movimento, até chegar próximo ao menino. A cada passo, a sensação de que ele precisava de ajuda crescia.

- Oi... - murmurei, tentando soar amigável.

Nenhuma resposta.

Seus cabelos ruivos desarrumados pareciam brilhar como fogo contra o cinza das pedras. Suas roupas, simples e gastas, contrastavam com as minhas. Ele não era de um clã como o meu. Era de um lugar mais humilde.

- Você está perdido? - me abaixei, inclinando-me levemente para tentar enxergar seu rosto.

Ainda assim, ele permaneceu em silêncio, escondendo-se como uma sombra frágil. O silêncio era tão pesado quanto o abismo ao nosso redor.

A Maldição De WesterfairOnde histórias criam vida. Descubra agora