O garoto da frente

Alê - Parte I

"A vida é uma coisa muito complicada. E toda a questão de ser ou de não ser consiste em encontrar-se nesta confusão."

Ivan Olbracht

Carrego um peso muito grande nos ombros para um cara de dezessete anos. Às vezes sinto vontade de jogar tudo para o ar... Meus pais esperam que eu seja perfeito como meus outros dois irmãos, a Liana (mais velha e estudante de Medicina) e Rodrigo (do meio e estudante de Direito).

Quero ser um Engenheiro Civil, estudo dia e noite para isso. Mas queria que eles parassem de me comparar aos outros dois e focassem que não sou eles. Eu sou o Alexandre, o filho mais novo e único que ainda mora com eles. Esse é o último ano e estou me esforçando demais, se eles pudessem ao menos notar isso... Mas só cobram e cobram.

Meu pai é um cara legal, quando não está tão focado no seu trabalho. Sempre nos ensinou a vencer na vida sem precisar pisar em ninguém e isso é louvável, admiro isso nele. Ele seria quase um herói, já que é um bom exemplo de pai, marido e amigo. Sempre que pode me ajuda nos estudos, malha e joga comigo... mas isso é nos seus raros momentos, ele é dono de uma grande empresa de eletrodomésticos, que construiu junto com seu melhor amigo desde a infância, seu foco é quase sempre direcionado a isso.

Minha mãe tem sua própria loja de roupas de grife. Seu maior orgulho, já que ela sozinha a ergueu, com somente uma pequena ajudinha do papai. Hoje a loja é um sucesso.  Mal a vejo devido a isso... mas tirando isso é uma boa mãe, sempre preocupada e cuidadosa.

Meus pais são ótimos, não posso reclamar muito se compará- los com outros pais que conheço, mas é uma pena nunca se importarem com o que sinto. Só querem resultados e querem satisfatórios.

Para poder relaxar da pressão eu jogo videogame, malho (quando não estou morto de preguiça) e como meu irmão me ensinou, conquisto mulheres. Essa é a parte mais legal de tudo.
Namorei por quase dois anos com a Laura. Foi um relacionamento conturbado, cheio de idas e voltas. Ainda quando nos relacionávamos decidi em minha cabeça conturbada parar com aquele ioiô e decidi também parar de perder tempo com namoricos. Agora era pegar e não se apegar.

Mas quando vi pela primeira vez uma menina minúscula do cabelo longo e negro, sobrancelha igualmente negra bem delineada e arqueada, com os olhos chocolate derretido sob um óculos preto quadrado grosso, o rosto delicado como de uma boneca, boquinha rosadinha e bem desenhada, narizinho pequeno e arrebitado, enquanto ainda namorava com Laura, tudo que havia decidido escorreu pelas minhas mãos.

Eu a queria para mim.