Jorge - Parte I

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"O tempo deixa perguntas, mostra respostas, esclarece dúvidas, mas, acima de tudo, o tempo traz verdades."


4 horas antes...


O dia "amanheceu" estranho e não foi pelo aguaceiro que estava caindo desde cedo, ou pelo menos é o que imagino já que acordei meio da tarde. Um peso parecia ter se instalado em meu estômago e não senti fome ao acordar, o que é extremamente estranho. Vou até a varanda e fico a olhar por fim, a chuva cair e o mar agitado.

Estou na casa de praia desde ontem, pois queria ficar sozinho para pensar e isso é difícil com Nico cantarolando pela casa pensando em Nando. Fico irritado com isso, porque cara, ela é minha irmã e ele é um dos meus melhores amigos, mas não interfiro. Afinal quem sou eu para tentar impedir. Eles se gostam afinal.

- Jorge querido, não vai querer comer? – Josi entra no quarto com ar de preocupação.

- Não estou com fome Josi. – Respondo virando para ela.

- Tudo bem, mas vou deixar algumas coisas preparadas para você comer quando sentir fome, tudo bem? É só esquentar, mas se precisar vou estar com Sérgio na nossa casinha. – Diz amorosamente arrumando meu quarto.

- Obrigado, mas não se preocupe comigo, pode ir para sua casa e descanse, não vou tirar seu sossego. – Afirmo com gentileza, mas com muita vontade que ela saia logo.

Como vejo que ela só sorri e continua a arrumar meu quarto me dou por vencido e pego uma muda de roupa e resolvo tomar um banho quente, já planejando descer para assistir algum filme na sala com a lareira ligada.

Depois do banho relaxante, não encontro Josi em lugar algum no quarto e por isso bato a porta e desço a escadaria para a sala lentamente. Antes de escolher o filme vou até a cozinha para ver o que ela deixou. A geladeira tá abastecida.

- É a Josi não brinca na hora de engordar alguém... – Digo em voz alta para as paredes e me sirvo de um copo de suco natural de laranja e sanduíches. – Deveria ter pedido para ela fazer chocolate quente! Como sou burro. – Me repreendo mentalmente, mas sigo para a sala novamente com o que escolhi.

Uma porção de DVDs está organizada em ordem alfabética e com certeza foi mamãe que arrumou isso aqui. Vejo que tem alguns lançamentos e decido por escolher o mais sangrento que tiver, já que quero me livrar dessa áurea depressiva. Coloco o escolhido no aparelho e me jogo no sofá já começando a comer.

Não creio se passou cinco minutos de filme quando a campainha tocou.

- Ah meu Deus! Quem é que veio me atrapalhar? Espero que não seja nenhum daqueles veados dos meninos, senão vou afogá-los na piscina! – Murmuro para mim enquanto pauso o filme colocando o prato e o copo vazio na mesinha de centro e sigo até a porta de entrada.

Destranco e abro a porta com certa força e me assusto ao ver que é Laila que está ali em pé com os cabelos pingando na roupa parcialmente molhada.

- Ei... – Digo a puxando para dentro e afastando seu cabelo do rosto.

- Oi. – Responde com a voz baixa sem olhar para mim.

- Vem, vamos sentar. – Empurro-a levemente para o sofá e ela senta acanhada. Nesse momento parece ser a primeira vez que nos vemos e sinto um frio que não tem nada a ver com o tempo se aproximando de mim.

Ela está com os olhos vermelhos, um pouco inchados e constato que andou chorando muito há algumas horas, o cabelo está molhado pregado no seu rosto parecendo algas e seus lábios estão levemente arroxeados. Agora um pressentimento ruim se apodera.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora