Laila - Parte I

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"Aprendi a nunca esperar nada de ninguém. Desde então, eu só tenho surpresas - nunca decepção."

Augusto Branco

Meu pai não tem mais jeito. Com quase 50 anos ele nunca deixou de beber e nem vai. É um irresponsável sem limites. Porque um pai de família se prestar ao papel de chegar a sua casa morto de bêbedo que mal se segurava em pé é uma coisa ridícula.

Estou ficando com os cabelos brancos, não literalmente falando, mas minha mente já está com a cabeleira branca com tanta preocupação. E minha mãe e irmã não ficam muito atrás.

Quando chega o final de semana nós ficamos com o coração na mão de tanta aflição. Quando ouvimos qualquer sirene soando pelas ruas já imaginamos que é ele, e quando o celular toca pouco depois de ouvirmos ela piora ainda mais a situação.

Não peço para ele parar, queria apenas que diminuísse o consumo. O fígado dele não vai suportar por muito tempo e o que mais me dá ódio é ele saber disso e não mudar.

Será que ele não entende que nós três vamos ficar aqui, nesse mundo horrível, sozinhas?! É a pessoa não ligar para os outros... Muita maldade.

Mas nós o amamos mesmo assim... Quando ele chega, mesmo caindo de bêbado e fedendo a álcool, o amor é palpável quando nos mexemos para para ajudá-lo, mesmo recebendo patadas e xingamentos.

E família é isso mesmo, amar e cuidar mesmo não merecendo.

- Mãe atende a porta! São as meninas! – Grito do banheiro

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- Mãe atende a porta! São as meninas! – Grito do banheiro.

- Tá bem filha, mas o que você tá fazendo que você mesma não vai? – Indaga mamãe. 

- Tô no banho! – Digo e ela apenas balbucia algo.

Então Alice abre a porta do banheiro que infelizmente deixei aberta e começa a se olhar no espelho, vejo mamãe passando secando as mãos em um pano para abrir a porta para as meninas.

- Mãe! Mas que droga, fecha essa porta Alice! Meu Deus... – Grito com raiva. 

- Rum, tô só me olhando, quero te ver banhando não. - Disse revirando os olhos, fechando a porta e saindo.

Irmãs mais novas, penso revirando os olhos, nossas melhores amigas e piores inimigas ao mesmo tempo!

Resmungo mais algumas coisas sobre falta de privacidade e logo saiu do banheiro e sigo para meu pequeno quarto que está abarrotado com as meninas.

Percebo que elas estão meio tensas, sérias e caladas. Leo não pulou em mim para me matar sufocada com seu cabelão, nem Lili mostrou a língua para mim e não ouvi nenhuma piada sarcástica de Emi. Até mesmo Jô estava com o rosto franzido de tensão e ela é a pessoa mais relax que conheço. Bia entra porta adentro com um sorrisinho bobo e sei que pelo jeito ela tá conversando ainda com o Tomás, um garoto que ela conheceu em uma festa da igreja há alguns dias. E me alegro com isso, ela merece alguém legal.

Alice passa para deixar um beijo na gente, já que ela vai para a casa de uma amiga da escola. E percebo que as meninas relaxaram mais a cada minuto que passava. Antes de iniciarmos o trabalho que íamos fazer perguntei:

- Então... Quem vai me falar o que estava acontecendo? Todas estão muito quietas. – Interrogo calmamente.

Elas se entre olharam e esperei pacientemente arrumando o material que iremos utilizar. Bia estava por fora de tudo como eu. Pelo que percebi a escolhida para falar foi Lili.

- Então, antes de entrarmos aqui, ouvimos uma pessoa cumprimentando sua mãe atrás de nós, do outro lado da rua. Quando olhamos vimos que era o Alê - a boca de cuspiu o nome e continuou: - não resisti e tive que falar algo, não sabia quando teria outra oportunidade.

As meninas sorriram um pouco e eu arqueei a sobrancelha esperando o resto.

- Ela o chamou de babaca, o que não é mentira alguma! É a mais pura verdade! - Emi entrou na conversa defendendo a Lili.

- Tenho que concordar! Sabe que não sou fã das loucuras da Lili, mas até eu tive vontade de fazer isso. Ou até pior... - Jô, a meiga Jô disse isso e tenho certeza que minha boca formou um "O".

As demais sorriram e tive que rir também. Eu realmente tinha as melhores amigas do mundo, apesar de querer dar um tapa em Lili por ter feito isso. Leo veio me abraçar e como sempre cuspi seus cabelos da minha boca e logo as outras me abraçaram também, formando uma pilha sobre mim.

- Amo vocês! Obrigada por sempre tentarem me proteger. – Falo carinhosamente.

Elas me soltam e Bia chama nossa atenção.

- Meninas o que acham de ir a uma festa nesse final de semana que vem, no sábado? – Bia pergunta dando pulinhos e sorrindo como o Gato de Cheshire.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora