Alê - Parte I

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"A natureza nos uniu em uma imensa família, e devemos viver nossas vidas unidos, ajudando uns aos outros."

Sêneca


Meus dias ultimamente se resumem a ficar rondando minha mãe como uma ave de rapina atrás do seu alimento. Sei que ela já está com muita vontade de me estapear, mas que o faça então. Eu que não a deixaria em paz. Apesar de ela não estar indo trabalhar, no final do dia ela sempre tem um relatório sobre como tudo está indo e de vez enquanto eu a levo lá para olhar por si só. Ela anda nervosa por não poder ir trabalhar, além de eu estar atrás dela como uma sombra, mas é por uma boa causa. Eu não posso deixá-la sair, vai que ela tem outra crise ou sei lá. Ela é minha mãe, jamais deixaria nada acontecer a ela, mesmo ela estar roendo as unhas para poder voltar ao trabalho.

Meu pobre pai liga sempre que pode para saber como ela estar. Apesar de ele viver e respirar trabalho, eu estou impressionado por perceber que na verdade não é bem assim. Ele vive e respira minha mãe, sei que ele nos ama (eu e meus irmãos), mas seu motivo maior para levantar e ir ao trabalho todos os dias é mamãe. E isso me emociona, por que eu tinha meu motivo e o deixei ir.
Depois de ter deixado Bárbara eu sinto que uma cruz foi tirada dos meus ombros. Levar um namoro sem ter pelo menos um pingo de sentimento simplesmente é um inferno. Parecia que todas as vezes que tinha que vê-la ou falar com ela, eu estava indo para a forca. Não é uma coisa boa para se sentir. E pensar que esse namoro iniciou por idiotice minha de ter medo de se entregar, ao que parece agora, ao amor de minha vida e se houver vida após a morte, com certeza Laila seria o amor de toda a minha eternidade.

Morre um pedaço meu ao vê-la com Jorge, apesar de quê me alegro de ela estar feliz e com uma pessoa que não a faz sofrer e a protege como eu deveria ter feito.
Enfim, a culpa foi e somente minha. Tenho que aceitar e seguir em frente. Quem sabe Deus vai ser generoso comigo e colocará uma pessoa parecida com ela em minha vida novamente.

Meus dias de calvário até que melhoraram bastante com a chegada de meus irmãos. Que, diga-se de passagem, foi cheio de surpresas. 1) Liana e seu namorado de 3 anos, o Leo, estão noivos e vão comemorar aqui; 2) Rodrigo está solteiro novamente, tá bom isso não é bem uma surpresa; 3) Mamãe já tem uma data para fazer a retirada dos cistos.

Com a casa cheia como sempre estive acostumado, a bruma de depressão que estava sobre mim começou a sair. O meu sol voltou a brilhar. E foi por isso que aceitei o convite de ir à casa de praia de Jorge para o almoço com os demais rapazes, e foi até isso que me animou a ir. Eu não precisaria ver Laila nos braços de Jorge lá, não sou mais um masoquista.

- Cadê Liana? Desse jeito não vai haver mais nem uma migalha da comida de Josi quando eu chegar lá. - Digo já sem paciência, já que Liana saiu e não avisou para onde, além de não atender a porcaria do celular.

- Meu filho, vá. Sua irmã vai tomar seu posto quando ela chegar. - Mamãe fala para mim ao entrar na sala com o rosto em uma carranca, que se deve ao nossa superproteção.

- Não, a senhora sabe que não a deixo só nem um segundo se quer. Rodrigo vai comigo para rever os caras, por isso ele não vai ficar. Liana é uma... - Nem termino minha sentença contra minha atrasada irmã quando escuto o portão abrindo.

- Pronto, ela chegou. Agora pode ir Águia 1 e 2. - Mamãe disse irônica.

Bufo e saiu nem ao menos olhando para minha irmã com Leo a tiracolo. Como sei que Rodrigo vai brigar para dirigir, eu apenas entro no banco do passageiro para não haver confusão. Ele ganharia de qualquer forma.
Sou distraído de minha raiva mal contida, quando vejo meu irmão olhando fixamente para um lugar do lado de fora do carro. Nem preciso olhar também para saber o que era, ou melhor, quem era. Laila estava de costas conversando com Alice que estava de frente na porta da casa. Imagino que estavam discutindo quem levaria o carro para Deus sabe onde.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora