Alê - Parte I

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"Eu sinto ciúme quando alguém te abraça, porque por um segundo essa pessoa está segurando meu mundo inteiro."

Caio Fernando Abreu

Assim que Jorge some da minha vista com Laila em seu colo eu apenas fico lá sentado no chão com o olhar fixo neles, mas o pensamento desfocado. Rodrigo está em pé ao meu lado, mas um pouco mais atrás e vejo pelo canto de olho que ele está passando a mão pelos cabelos que estão grandes demais para seu gosto. Os demais estão olhando de mim para o casal que saiu quase que correndo sem saber o que fazer.

- Boa pegada cara. – Tomás diz tentando aliviar o clima, mas só conseguiu umas risadas nervosas.

- Vamos atrás deles. Alê fica aqui e relaxa. Você deve estar atordoado ainda pelo que aconteceu. – Jô me instrui dando um leve sorriso de compreensão e leva consigo todos os outros que ao passar por mim me dão um sorriso torto ou um tapa nas costas.

- É poderia ser pior. – Rodrigo se manifesta já em minha frente estendendo a mão para que eu me levante, assim que todos já estão sumindo dentro da casa.

- É? Como? – Digo em um rosnado baixo.

- Vocês poderiam ter se beijando. – Ele dá de ombros e me empurra para a espreguiçadeira se sentando na outra.

Ao me jogar naquela coisa desconfortável, eu penso que realmente poderia ser pior. O jeito que nos olhávamos e nos tocamos deve ter feito um clique na cabeça de todos que ainda não havia percebido o que havia entre mim e Laila.

- É isso com certeza seria pior. –Digo desmotivado.

- Com certeza, mas isso já deixou todos alertas para vocês dois. – Meu irmão diz bebendo o suco que nem ao menos lembrava que tinha ali.

Percebo que minha garganta está seca e pego um pouco para mim também. O liquido amarelo desce fresco e revigorante, aliviando minha tensão fazendo meu cérebro voltar a funcionar normalmente.

- Você está certo. Tenho que manter distância dela, ainda mais que antes. – A tristeza em minha voz é palpável, mas não tento reprimi-la.

Rodrigo entende bem como é isso, até mais que eu mesmo.

- É preciso, já que vocês não vão lutar pelo que tá acontecendo aqui. – Ele já está sentado na espreguiçadeira e seu dedo toca no local onde meu coração bate devagar e tristonho.

Baixo a cabeço e afasto seu toque. O cheiro de hortelã e cigarro que é tão característico dele está mais fraco e sei que logo ele perceberá que não há mais nada para alimentar seu vicio para tentar cicatrizar sua dor.

E então noto que a dor do meu coração está espalhando pelo meu corpo com o seu pulsar vital.

Fica ainda mais longe de Laila. Não poder tocá-la. Não poder ver os seus olhos de chocolate derretido com pequenos pontinhos negros por toda sua íris. Sentir seu cheiro doce ou tocar seus cabelos brilhantes e macios...

A dor fica ainda pior.

Não sei como uma pessoa consegue suportar esse tipo de dor. Não sei nem ao menos como eu estou suportando. Quando é uma dor "externa", ao qual você pode ir ao médico, é só tomar um remédio e tudo ficará bem. Mas o que fazer quando a dor está em um nível além da compreensão da ciência? Quando a sua cura é ao mesmo tempo sua dor? O que fazer?

Questionamentos rodam minha mente me sufocando e mal percebo que estou chorando, só quando solto um soluço alto que percebo que há uma pressão em minha garganta como se houvesse uma bola de sinuca presa nela e a vontade de começar a berrar é que faz cair a ficha.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora