Alê - Parte I

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"E se você acha que está ruim, não sabe o quanto ainda pode piorar."

Carolina Bensino


Acordo de forma brusca, já que meu pai entrou no meu quarto batendo a porta e berrando. Por causa da névoa de sono sobre mim não entendia bem o que diabos ele estava falando, mas quando pude entender algo sobre "sangrar" e "sua mãe" eu despertei no mesmo momento.

- Calma pai! - Digo já em pé o sacudindo. - O que houve com mamãe? Cadê ela? - 

- Ela está no banheiro e está sangrando. Você sabe que sua mãe não tem mais idade para isso! - Diz ele desesperado e nesse momento percebi que ele a amava demais, seus olhos azuis entregavam isso.

- Vamos levar ela agora para o hospital, okay? Agora relaxa e vai ajudar ela, se precisar dê banho ou ajude-a, vou tomar uma ducha e vou tirar o carro. Vá! - Disse quase o enxotando do quarto. Nunca havia visto meu pai tão vulnerável ou sem saber o que fazer.

Sem ver se ele saiu ou não do quarto eu me dirijo ao meu pequeno banheiro. A água está trincando de fria, mas não me importo vai me ajudar a despertar. Pego uma calça jeans e visto a primeira camisa que vejo pela frente e é uma branca que mamãe adora.

No breve percurso à garagem envio uma mensagem instantânea a minha irmã e meu irmão, apesar de estarem a essa hora (08h00min) na aula e provavelmente não veriam agora.

"Ei, mamãe está com sangramento. Papai está desesperado, estamos a levando para o hospital quando souber de algo aviso a vocês. Não se assustem, ela está bem."

Ao terminar de escrever percebo que nem eu acreditava no que havia digitado! Por fora eu estava sereno, mas por dentro estava desesperado! Cara minha mãe! Apesar de muitas vezes estar ausente e de me cobrar o que não posso dar, mas ela é uma boa mãe, não deixa muito que desejar. Encaminho a mensagem para tia Thaís e logo ela me liga.

- Alê querido? Cadê sua mãe? Como ela esta? - Fala Tia Thais pelo telefone com a voz, geralmente contida, agora falha.

- Calma tia! Estou esperando papai trazê-la para leva-la ao hospital.

- Para qual a levarão?

Repasso para onde iremos e no meio da conversa papai aparece na porta com mamãe muito pálida para sua cor. A pele dela tem um tom meio avermelhado como a minha, apesar de que em mim é mais claro. Dou um rápido "tchau" e desligo a ligação, me voltando totalmente à mamãe.

Chegando ao hospital fico na sala de espera, enquanto meus pais entravam na sala para serem atendidos. Como é particular e um sábado, não estava tão cheio e eles a colocaram como prioridade.

Apesar de ter acabado de chegar eu simplesmente não conseguia me acalmar e já queria resultados! Olhava para todos os cantos sem focar em nada em especial. Havia algumas pessoas lendo revista do mês passado, outras fingindo assistir a TV de plasma ligada em um canal qualquer, as atendentes não fechavam a boca falando entre si ou nos telefones ou com os demais pacientes. Nunca fui uma pessoa conhecida pela paciência e aquilo estava me dando nos nervos. Alguém entra pela porta de vidro fumê e quando vejo é tia Thais.

Ela está impecável como sempre com um terno azul marinho, deixando-a mais clara que já é. Devia estar indo para o trabalho quando avisei sobre o ocorrido o rosto está franzido de preocupação, afinal elas são amigas há anos.

- Onde ela está? - Pergunta com a voz macia tremendo.

- Está no consultório com a médica, papai está com ela. –Respondo com a voz sem vida.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora