Parte II

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"Odeio, mas amo, e isso dói" 

Bernard Cornwell


Essa definitivamente foi a pior noite de sono que já tive em toda a minha vida! Depois de entrar com roupa e tudo debaixo do chuveiro e chorar como uma condenada, as meninas acordam e decidem invadir o banheiro depois de notarem que não vou responder os seus chamados sussurrados, para não acordarem a outra ala da casa, já que a nosso lado foi todo acordado.

- Se por algum acaso você estiver se automutilando, eu vou mutilar o seu lindo rosto Laila! - Sibila Lili do outro lado da porta.

Eu sei que elas devem estar imaginando que voltei aos meus velhos hábitos de "resolver meus problemas", mas elas deveriam ter mais fé em mim até porque parei há muitos anos atrás! Sei que me encontrar trancada dentro de um banheiro berrando não é lá uma coisa animadora ou que possa não deixá-las preocupadas, mas eu prometi a elas (porque para mim não serviria de nada, eu sempre quebrava as promessas feita para mim mesma) que jamais me feriria por causa, na época, dos meus pais quererem se separar ou por eles brigarem demais e não seria agora que voltaria fazer. Eu me amo agora!

Depois de um tempo ouvindo elas me xingando, falando carinhosamente, me subornando entre outras coisas acabei dormindo debaixo do chuveiro. Não sei quando tempo passei lá em baixo, mas elas conseguiram abrir a porta e me tirar lá de dentro, não sem antes me despirem das roupas molhadas e sujas me banharem direito, logo em seguida me vestirem com algo quente e empurrarem chá goela a baixo.

Em meio à bruma de sono conseguia ouvir, mas sem distinguir bem quem falava comigo.

- Ela por algum acaso estava doida? Poderia ter se afogado no chuveiro! - Acho que é Emi falando.

- Sim, mas, por favor, vamos deixá-la dormir. Pela manhã ela nos fala sobre o que aconteceu para ela estar nesse estado. - Dessa vez sei que é Jô, sinto o afago que faz no meu cabelo e testa.

- Mas não foi por causa do que aconteceu mais cedo? - A voz de Nico está estranha e lenta. - Achei exagero dela, mas é compreensível.

- Sim, sim foi por isso, mas queremos detalhes. - Leonor intervém distraindo minha cunhada, porque ela sabe que o motivo é Alê. Sempre é.

Ouço ainda minha irmã, Bia e Lili falando, mas suas vozes parecem distantes e retorcidas, meus olhos ardem e pesam, meu corpo está dolorido e implorando por descanso, mas ainda estou tensa pela conversa com Alê. Meu coração bombeia lentamente e sofre a cada batida. Sinto alguém encostar a borda de uma xicara novamente em meus lábios e os abro sem discutir. O aroma de ervas e a leve fumaça sobe atingindo meu rosto de forma reconfortante me fazendo relaxar a cada gole do liquido morno.

Durmo assim que termino o chá, mas acordo compassadamente devido a pesadelos diversos que prefiro não relembrar. As meninas ao levantarem me deixam deitada dormindo enquanto vão banhar e tomar café da manhã, mal sabendo elas que estou bem acordada e péssima devido ao dia de ontem.

Minha mente rumina, contra minha vontade, meu momento de prova com Jorge, minha corrida a procura de Alê, a discussão sigilosa sobre nós no quarto, nossa briga... Sento na cama olhando minhas mãos machucadas e tento persuadir minha mente maléfica e sadomasoquista a parar.

Como ela não vai, levanto e vou tomar um banho. Lavo meu cabelo novamente, já que ele estava parecendo à juba de um leão bem desgrenhado e visto uma blusa de manga cinza e um short quentinhos, já que a manhã está um pouco fria, deve ter chovido pela madrugada, mas em meu estado poderia ter havido um terremoto ou passado um furacão e eu não teria notado.

O garoto da frenteOnde histórias criam vida. Descubra agora