Corremos muito. Mais que nossas pernas pudessem aguentar. Era de madrugada. Ninguém parava para observar dois adolescentes correndo. Não era problemas deles nossa fuga.
Paramos depois de estar muito longe do caminhão. Olhei em volta, admirada com a vista. Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas era tudo muito bem iluminado e colorido. Prédios eram enormes, as ruas eram bem grandes com carros entrando e saindo a todo momento. Mesmo tão tarde, a cidade parecia não dormir. Algumas lojas ainda permaneciam-se apertadas.
-E agora?- perguntei ao Gê.
-Você...nem está...ofegante! - exclamou ele, tentando se recuperar.
-Já estou acostumada a correr. - afirmei.
-Eu não sei... Não sei o que fazemos agora.-confessou ele.
-Como assim não sabe? Pense! Isso é seu problema, então o resolva.- comentei, começando a ficar brava. Caramba! Se nos encontrarem, estaremos extremamente ferrados.
-Ei! Eu estava tão preso quanto você! Não tenho noção de como agir como uma pessoa normal. - contra-atacou ele.Respirei fundo para não brigar com Gê, pois se fizesse isso eu teria que me afastar e no momento ele era a única pessoa que eu conhecia e confiava. Comecei a pensar também.
-Vamos achar um lugar para descansar! Depois resolvemos o resto.- confessei, colocando as mãos na cintura.
-Pensou rápido.- confirmou ele.
-Temos que sair das ruas. Logo o pessoal da A-51 vão percebe que fugimos e começaram a nos procurar. -expliquei, procurando alguma atividade suspeita.
-Certo. Para onde vamos?- perguntou ele.
-Para algum lugar que não tenha pessoas. - pedi.
- Então, vamos achar um prédio abandonado.- falou ele, indiretando o corpo.Concordei com a cabeça. Começamos a andar pelas calçadas a procura de algum lugar como queríamos.
-Porque você aceitou vim nisso, afinal? - perguntou Gê, sério.
-Você tinha razão. Aquela monotonia estava me deixando estressada. Foi legal ter dado essa reviravolta radical. - contei.- E afinal, quem vai cuidar de você, se não for eu?
-Sem graça! Eu sei me cuidar sozinho.- falou ele, sorrindo.
-Com certeza. - respondi irônica.
- Você fala isso por que foi treinada.
-E não entendo por que não te treinaram também.
-Porque perceberam que tenho inteligência em vez de força.- e mostrou o músculo do braço.Então reparei na mesma tatuagem que eu e o Gê tínhamos. Na dele dizia:
Projeto G (Gêmeos)
Propriedade do Setor H,
Área 51, Deserto de Nevada,
Las Vegas, EUA.Enquanto na minha, a leitura era a seguinte:
Projeto T (Touro)
Propriedade do Setor H,
Área 51, Deserto de Nevada,
Las Vegas, EUA.Respirei devagar, tentando não parecer angustiada.
-É melhor nós escondermos as tatuagens, assim ninguém saberá de nossa fuga. Por enquanto, não confiaremos em ninguém. - afirmei, rasgando as barras da minha calça.
-Tem razão. - comentou ele, oferecendo-me seu braço.Enrolei a tira de tecido, que coube perfeitamente na tatuagem, escondendo-a por completo. Por mais que o George não teve o mesmo treinamento que eu, os doutores o fazia praticar alguns esportes. Então, como resultado, ele tinha corpo definido e maior, deixando-o com cara de mais velho. Até mais velho que eu (coisa que me irritava muito). Depois de enrolar a tira, ofereci o meu braço e outro pedaço de pano, para que colocasse em mim.
-Vamos?- perguntei, dobrando a barra da calça.
-Espere um momento. - afirmou Gê, erguendo o dedo, em pedido de silêncio.Olhei na mesma direção que ele. Era um prédio aparentemente velho. Se localizava atrás de outro que roubava a atenção para si, cheio de luzes e vida. Sem dizer palavra alguma, Gê andou na direção do prédio velho. Segui ele, sem muitas opções. Percebi que havíamos entrando em um pequeno e escuro beco. A porta do prédio estava lacrada com algumas tábuas de madeira. George abriu caminho para mim.
-Vai em frente! - anunciou ele.Estufei o tórax e passei a mão no meu antebraço esquerdo. Senti a imagem arder na minha pele. Era uma cabeça de Touro com palavra embaixo: Taurus.
Minha visão se tornou vermelho feito sangue. Eu podia sentir a força me fortalecendo. Dei duas raspadas no chão com o pé e aproximei-me da porta. Com uma mão em cada tábua, tirei-as como se fosse teias de aranha. A porta parecia estar emperrada, então sem querer, tirei-a dos batentes. Gê entrou enquanto eu segurava a porta, liberando a passagem. Coloquei a porta no lugar. Bom, eu tentei pelo menos.
- Onde estamos? - perguntei. Minha voz chicoteou o cômodo inteiro. O silêncio estava bem presente.Olhei em volta à procura do meu amigo. Um nó se formou no meu estômago, ao percebe que não ouvi som algum.
-Gê!- chamei-o, na esperança que me respondesse.Nada. Nenhum barulho sequer. Comecei a olhar entre as caixas do lugar. Legal! Eu estava sozinha naquele lugar escuro. Muito legal! Eu tinha pavor de escuro (longa história!). Senti uma mão no meu ombro e fechei os olhos, colocando a mão na boca para não gritar. Pronto! Morri!
-Vem,Tory. Achei uns cobertores e banheiro nos fundos. Dá para usarmos. - convidou-me, animado.
-Vai assustar outro!- gritei, dando um soco leve nele.
-Ai! Desculpas! - falou ele, começando a rir.
-Não ri! - ordenei.
-Ok.Ok. Já pode voltar ao normal! - anunciou ele. Foi então que percebi que ainda estava em Fúria ( nome que eu mesma dei, ao meu estado anormal/ tourino). Dei um tapa no local e a imagem sumiu.
-Mostra logo o que achou. - murmurei.Ele deu meia volta e sumiu entre as caixas. Desta vez, segui-o. Ele estava certo. O lugar estava habitável. Fui até o banheiro enquanto Gê arrumava os cobertores. Fiz o máximo da minha higiene no pequeno banheiro. Não deu para ter aquele tratamento VIP do meu antigo setor, mas estava bom. Joguei água no rosto, tirando todo o suor impregnado. Sai do banheiro e o Gê entrou. Acomodei-me em um canto dos cobertores, encostando as costas na parede fria e fechando os olhos.
-Está tudo bem? - perguntou Gê, sentando ao meu lado.
-Está. Só... não estou acostumada com isso. Ainda não. - comentei.
-É diferente, não é?
- Bastante.
- E como se senti?
- No momento, perdida. Tudo é novo para mim.
- Para mim também. O que fazemos agora?
- Você que é o gênio. Pensa aí!
-Certo. Vamos ter que se afastar o máximo possível daqui. Assim que puder, saímos da cidade.
-Rumo aonde?
-Não sei. Podemos procurar em alguma biblioteca e pesquisar.
-Ok. Assim que o sol nascer, procuramos uma biblioteca e depois sumimos.
-Tudo bem. Tory, sei que nunca disse isso, mas fico feliz por ter você como amiga. Principalmente, por ter embarcado nessa.
- Também. Somos uma dupla, não é? Fazemos um bom trabalho juntos e vamos continuar assim. Agora durma um pouco. Eu faço o primeiro turno.
- OK. Boa noite.
- Boa.Ele apoiou sua cabeça no meu ombro e começou a roncar baixinho. Eu não conseguiria dormir, mesmo que quisesse. Estava cansada demais, tanto psicologicamente quanto fisicamente. E agora o que seria de nós? O que aconteceria com a gente, caso os doutores nos encontrassem? Nada de bom. Disso tenho certeza. Se já nos estudavamos, agindo normal, imagina o que faria se nos vissem trabalhando tanto nossos cérebros. Iam colocar câmeras até nos nossos vasos sanitários. Sorri com o pensamento irônico. Voltei a atenção para a luz que vinha do banheiro, a única que tínhamos. Como seria o mundo lá fora? Do que os doutores tanto nos protegiam? Encostei a cabeça na parede, esperando o sol nascer.
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Os Doze Dons Do Sol
AventuraDoze crianças nasceram especiais. As crianças zodiacas. Uma para cada signo, planeta e constelação. Duas delas estão sobre a supervisão e cuidados do Governo. A A-51 era seu lar, mais precisamente o Setor H. Após um blecaute em todo prédio, Tory(Tou...