Capítulo XVI: Agora, somos oito!

100 9 0
                                    

Retornamos a nossa mesa. Pegamos uma cadeira da mesa vizinha para a garota e abrimos espaço para que o garoto posicionasse sua cadeira de rodas. Esperamos pacientes, todos comer. Enquanto, quase devoravam suas comidas, uma conversa silenciosa rolava entre eu, Gê, Peter e Ester. Senti a bronca futura que levaria de Peter ou o sermão de Esther. Porém, o que mais me agoniava era os olhares preocupados que Gê mandava na minha direção. Eu não sabia o que ele diria. Era a primeira vez que me metia em uma briga e saia ferida.

Meu amigo limitou-se, soltando um longo suspiro. Esther empurrou um guardanapo na minha direção e apontou para boca.
- Está sangrando. - comentou ela.
- Obrigada. - agradeci, limpando o local.
- Deve estar doendo. Eu sinto muito por isso. Não deveria ter se metido na briga. - comentou o garoto, cabisbaixo.
- Não se preocupe. Foi por uma boa causa. E, eu não sinto dor...quando quero. - confessei.

Ele assentiu e olhou para garota, perdido.
- Vocês não tem para onde ir, não é? - perguntei.
- Tom sempre cuidou de nós, mesmo sendo agressivo as vezes. Agora, não sei o que vamos fazer. - exclamou ele, triste.
- Poderíamos ir com ela. - falou a menina. - Já que também tem uma tatuagem no mesmo lugar. Leon, ela é como nós.

Engoli seco aquela frase e abaixei o olhar, reparando que a minha marca estava bem exposta e em evidência.
- O quê? Como assim? - perguntei, tropeçando nas palavras.
- Ela é como vocês? Quero dizer, vocês também possuem tatuagens parecidas?- perguntou Peter.
- Sim. Com símbolos diferentes, mas devem significar a mesma coisa, certo? -questionou ela, mostrando seu antebraço. Claramente ali se lia: Aquarius. Em cima, duas pequenas ondas.

 Em cima, duas pequenas ondas

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu estava surpresa. Dirigi meu olhar para o garoto e ele fez a mesma coisa. Leo.

Respirei fundo e disse:- Achamos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Respirei fundo e disse:
- Achamos. - confessei.

O garoto pareceu se espantar também.
- Espera por nós? Sabia que existíamos? - perguntou ele.
- Sim. Começamos recentemente a procurar pessoas como nós. - comentei.
-E por que não veio nos buscar primeiro? Estávamos passando um sufoco aqui. Precisávamos de ajudar!- disse ele, começando a gritar.
- Ei, calma! Não é assim que funciona. Há dias, eu nem fazia ideia que existia mais , agora estamos aqui. Não somos bem...comuns. De certo modo, somos ligados por magia e é ela que está comando. Alguns de nós tem visões de onde está o próximo signo e ai partimos. Estamos fazendo isso o mais rápido possível e da melhor maneira. Quando chegamos na cidade, não temos uma localização exata, uma foto, um rosto ou um nome. Não temos nada, mesmo assim, continuamos a procurar. Só encontramos rápido, por que como eu disse, somos atraídos uns aos outros. Então, não nos culpe. Eu tive uma vida pior que a sua. - exclamei, zangando-me também.

Ele me olhou assustado e murmurou:
- Desculpe-me. Eu só... não queria ter vivido tanto tempo.
- Tudo bem. Já acabou. Agora, estamos juntos. Salvamos Sam na última parada. Ele era órfão e um pequeno ladrão...- afirmei, bebendo um pouco do meu suco.
- Ladrão, não! Fazia aquilo para sobreviver. - corrigiu-me Sam.

Sorri e passei a mão nos seus cabelos claros, bagunçando-os. Ele me retribuiu o sorriso e voltou a comer.
- Então, podemos ir com vocês? - perguntou a garota.
- Annie, nem sabemos para a onde eles estão indo...- comentou o menino.
- Também não sabemos. Só sabemos que pode ter mais como vocês, pessoas precisando de ajuda e vamos ajudar. - e virei-me para a garota. - E claro que podem vim. Estamos aqui para isso.
- Vamos, Leon? - perguntou ela.
- Eu não sei. Mal os conhecemos. - respondeu ele.
- Mas eles podem nos ajudar. Estão aqui para isso. - contra-atacou ela.
- Se serve de consolo, conheci a Tory e o George semana passada e o Sam, ontem. - comentou Peter, na tentativa de convencer o garoto.
- Como conseguem confiar tanto um no outro? - perguntou de volta.
- Todos nós sofremos e percebemos que é melhor ficarmos juntos. Somos diferentes e isso nos torna de uma maneira distinta, iguais. Eu e Tory passamos nossas vidas todas em celas na A-51, em Las Vegas. Peter, Esther e Courtney eram moradores de rua em New York. Sam morava sozinho em uma casa abandonada na Itália. Veja como eramos antes. Não tínhamos nem uma família. Todos juntos, descobrimos que somos fortes se ficarmos unidos e podemos formar uma família, um pouco...peculiar. - exclamou Gê, levantando o rosto.

Eu não esperava essa resposta dele. Olhei-o, orgulhosa, surpresa e feliz. Então era assim que ele se sentia em relação a tudo. Gê percebeu que eu o olhava e piscou de volta. Entendi aquilo como se dissesse que estava tudo e que não estava bravo por eu ter me tornado a briguenta do grupo. Se tinha uma coisa que eu jamais iria querer na vida, essa coisa seria brigar com o Gê.

O garoto suspirou e afirmou:
- Certo, vamos com vocês. -disse ele. - Á propósito, não nos apresentamos. Chamo-me Leon.
- E eu, Anelise. - comentou a menina.
-Sou a Tory. Ali está a Esther, Peter, Courtney e Gê. Esse ao meu lado é o Sam. - apresentei.

Leon ainda parecia desconfiado no começo, porém com o passar do tempo, ele começou a se enturmar. Peter decidiu que era hora de partir assim que viu o crepúsculo pela janela do estabelecimento. Esther nos deu a ideia de passarmos a noite em um hotel, mas tinha um porém: eramos em oito. Como não queríamos ficar todos separados, Peter sugeriu que pedíssemos apenas um quarto. E foi o que fizemos. Como ele era o maior de nós, foi pedir o quarto, junto com Gê. Enquanto, o restante de nós descemos disfarçadamente até a garagem e esperamos perto do elevador. A missão dos dois era simples: era pedir um quarto e ao invés de se dirigirem ao quarto, eles iriam ao subsolo nos buscar. Assim que desceram, percebemos que não caberiam todos no elevador. Dividimos em dois grupos de quatro. Anelise, Leon e Gê subiriam comigo na segunda viagem, enquanto Esther, Peter, Sam e Courtney iam na frente. Tivemos muita sorte por não ter esbarrado com nenhum serviçal no caminho.

Assim que entramos no quarto, Peter o trancou. Enquanto, eu e Esther organizávamos as crianças para tomar banho, Peter e Gê arrumava o quarto para estender os sacos de dormir no chão. Após todos terem feitos suas higienes, nos acomodamos em nossas respectivas camas. Decidimos deixar as camas para as crianças. Sam dividia uma delas com o Leon. Courtney e Anelise em outra. Quatro sacos de dormir foram colocados entre as camas e a porta. Sam parecia animado com tudo aquilo. No final, escolhemos um filme e assistimos. Eu estava quase dormindo, quando Peter falou:
- Eles já estão dormindo? - perguntou ele, olhando para as camas.

Olhei também.
- Estão. - confirmei.
-Preciso conversar com vocês três. Somos os quatros mais velhos do grupo e com isso vem uma responsabilidade: temos que cuidar dos menores. Eu não esperava que os outros fossem tão jovens. - comentou ele.
- Onde quer chegar com isso? - perguntou Esther.
- O grupo cresceu e precisamos tomar cuidado para que nenhuma das crianças se perca ou se machuque durante a viagem, já que a tendência é o grupo aumentar mais. - confessou Peter.
- São quatro crianças para quatro adolescente. Fácil. Cada um de nós fica responsável por uma criança.- propôs Gê.
- É uma boa ideia. Como tenho melhor condição física, posso ficar responsável pelo Leon. - comentei.
- E eu, pela Courtney. - confessou Peter.
- Eu cuido da pequena Anelise. - disse Esther.
- Eu fico de olho no Sam. - finalizou Gê.

Todos nós assentimos, aprovando a escolha de cada um.
- Foi um grande dia. É bom termos uma boa noite de sono para aguentar o dia, amanhã. - falou Peter.
- Tens razão. - afirmei, arrumando-me. - Boa noite.
- Boa noite. - responderam os três juntos.

Sorri com aquilo. Para minha enorme sorte, dormi não era um problema. Assim que fechei os olhos, o sono chegou. Contudo, fui acordada após algumas horas. Alguém mexia no meu ombro. Abri os olhos, mas mesmo assim, mal conseguia enxergar. Forcei um pouco e vi o rosto tristonho da Anelise.

- O que foi? - perguntei.
- Eu tive um pesadelo. Posso dormir aqui com você? - interrogou ela.

Estava de madrugada e meu cérebro ainda dormia, então não pude dizer uma frase encorajadora a pequena menina.
- Claro. Deita aqui. - foram minhas únicas palavras.

Ela se acomodou no meu saco de dormir e voltou a a dormir. Sem pensar duas vezes, segui seu exemplo.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora