Capítulo L: Começo da revanche

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Queria poder dizer que cheguei na A-51 discretamente e entrei sem ninguém me vê, portanto não foi bem isso que aconteceu.

Estava a caminho de Las Vegas, quando a doutora mandou a mensagem:

O diretor acabou de chegar aqui. Não está com uma cara boa. Ele chegou bravo e se trancou no escritório. Ainda não entendi o que pretende fazer com essa informação! Pode confiar em mim.

Apenas visualizei. Eu não sabia sua reação sobre eu estar próxima, mas não contei para ninguém o que ia fazer com medo de que me impedissem. Porque contaria para ela?

Assim que passei por Las Vegas, senti-me mais nervosa, mesmo assim, continuei em frente, firme e forte. Parei com o touro na frente dos portões da Área 51. O porteiro estranhou o acontecimento, saindo da portaria pra falar comigo. Desci do touro e o acariciei, dizendo:
- Obrigada pela carona. A partir daqui, eu sigo sozinha. - afirmei. - Volte bem para casa.

Ele mugiu, preocupado.
- Não fique assim. Eu vou me cuidar. Faça o mesmo. - acalmei-o.

Então, ele mugiu pela última vez, antes de partir. Olhei para o porteiro e decidi ignorá-lo, porém ele não.
- Ei, você não pode entrar aí! Esse local é um lugar de entrada restrita.- afirmou ele.

Joguei minha cabeça para o lado lentamente para encará-lo.
- Tudo bem. Eu tenho passe V.I.P. - falei, apontando para dentro dos portões.

Ele sacou a sua arma e apontou para mim.
- Diga seu nome. Vou verificar. - disse, pegando seu rádio do cinto.
- Apenas... avise-os que estou entrando. - confirmei.

Segurei nos arames do portão e os puxei, tirando-os de seu batente e fazendo com que voassem por cima da minha cabeça. Olhei para o caminho livre e depois para o porteiro. Ele mal piscava. Dei os ombros e voltei a andar, rumo ao prédio principal. Eram poucos metros e eu poderia cruzar aquele caminho em segundos se corresse, porém queria que eles soubessem que eu estava ali. Portanto, caminhava tranquilamente.

"É como um passeio no parque", pensei, "Um parque repleto de soldados altamente capacitados e treinados que podem me fazer de peneira a qualquer momento. Vai ser moleza."

Conforme andava, vi de canto de olho as pessoas que trabalhavam ali, pararem seus afazeres para me observar. Era incomodo tal ato, mas tive que me manter forte e seguir em frente.

Antes de entrar no prédio principal, respirei fundo. Eu não sabia o que me aguardava, porém meus instintos estavam me dizendo que todo cuidado naquele momento era pouco. Segurei firme nas maçanetas e abri a porta. Não fiquei surpresa ao me deparar com o corredor repleto de soldados armados.

Bufei, negando com a cabeça.
- Temos ordens de prendê-la. - disse um dos homens.
- O meu problema não é com vocês. Estou dando a vocês uma chance de não se machucarem, pois sei que a família de vocês esperam que voltem vivos e bem para casa. Apenas, não me impeçam. - alertei-os.

Vi olhares confusos e mãos trêmulas sobre as armas. Eles se olharam por um minuto e em seguida seguraram firme novamente em suas armas, porém sua atenção era voltada a pessoa que se pronunciou anteriormente.
- Comandante, qual é a ordem a seguir? - perguntou um dos soldados.

Então, o tal comandante apenas me olhou por cinco segundos até ele abaixar a arma e dizer:
- Abram caminho para ela.

Todos pareceram confusos, mas não podia culpá-los. Até eu estava um pouco confusa e desconfiada. Porém, mesmo esperando que aquilo fosse uma armadilha, comecei a caminhar em direção a eles e um corredor se abriu para mim. Assim que terminei de passar, o comandante falou:
- Eu estava no Brasil, no ataque ao seu grupo. Estou apenas abandonando uma luta que não há como vencer. Tenho uma criança que espera que eu volte hoje à noite.
- Pensou bem. - confessei, sem olhar para trás.

Daquele momento em diante, ninguém mais tentou me parar. Estranhamente, o setor estava silencioso. Será que sabiam que eu estava ali? Tinham medo de mim? Aquilo era desconfortável. Balancei a cabeça, ignorando tal pensamento.

"A A-51 sempre foi calma. É o normal dela. Eu que não estou acostumada mais com isso", pensei, tentando me reconfortar.

Mesmos presa em pensamentos, continuei andando e meus passos eram auditivos para todos. Foi minutos agoniantes até finalmente me encontrar com a doutora. Assim como todos ali, ela está totalmente confusa e em suas palavras, estava surpresa de um jeito bom por me ver. Como não estava muito bem para conversar, apenas disse:
- Preciso que me leve a sala do diretor.
- Hum? Pra quê?

Não respondi, porém esperava que ela atendesse meu pedido. Por fim, mesmo sem uma resposta, ela começou a caminhar e falou:
- Por aqui.

Assenti e a segui. Foi silenciosos minutos até pararmos em um curto corredor. No final dele, havia uma porta e deduzi que ali seria meu destino final. Antes que me deixasse ali sozinha, ela me olhou profundamente.
- Eu não sei o que está prestes a fazer, mesmo assim espero que não se arrependa ou que faça algo que no futuro te traga algum sentimento negativo. Acho que não merece isso. Seu coração ainda é puro. - falou ela e saiu.

Arrepender-me? Afinal, tinha algo que eu me arrependia de não ter feito ou dito? Ao repassar tudo na minha mente, decidi que o melhor a se fazer era segui em frente. Eu já tinha escolhido o caminho que ia trilhar.

Invés de bater na porta, apenas a abri. O Dr. Estevan estava de costas e não viu que eu estava em sua sala. Então, afirmou:
- Eu já disse que não quero ser incomodado por ninguém. Afinal, quem você acha que é para vim abrindo a porta sem ao menos bater antes?

Sorri, irônica.
- Se eu batesse, aposto que não abriria a porta, não é mesmo? - perguntei.

Sua cadeira virou e então puder ver seu rosto pálido. Sua expressão de espanto me fez concluir que a última pessoa que ele queria ver naquele momento era exatamente eu.

- V-você? O que fa-az aqui? - perguntou ele. - Como chegou aqui tão rápido?
- Acho que você ainda não entendeu a essência de toda essa história. Apesar de ter um pouco de ciência nisso, tudo se trata de magia. Não tem um porquê certo. Apenas é assim. - respondi.
- Impo-ossível. - respondeu.
- É, eu sei. Agora, quieto. - afirmei, batendo o pé no chão.

Ele caiu de sua cadeira e consequentemente sua cabeça bateu no chão, deixando-o atordoado. Antes que pudesse se recuperar, circulei seu pescoço com meus braços e sufoquei, conduzindo-o a um desmaio leve. Arrumei-o novamente na cadeira e verifiquei em seus bolsos se não tinha nada que pudesse ajudá-lo a fugir. Após tirar tudo que julguei ajudar ele, amarrei suas mãos e pernas, colando sua boca com fita e vendando os olhos com a própria gravata. No final, peguei as chaves do carro que estavam sobre a mesa. Pela fácil locomoção da cadeira, utilizei-a como cadeiras de rodas. Saímos da sala e continuei guiando. Por sorte, havia um elevador ali perto e eu decorei sua localização assim que passará com a doutora. Não encontramos ninguém durante o percurso e o elevador foi direto ao subsolo 2, sem que seu trajeto fosse interrompido. Assim que achei o carro, guiei a cadeira e coloquei o senhor lá dentro, nos bancos traseiros. Empurrei a cadeira para longe e fui para o banco do motorista. Certo, eu nunca tinha dirigido antes, porém havia visto alguns filmes e observado o John toda vez que saímos juntos. Aquilo teria que servi. Liguei o carro e coloquei o cinto. Com o motor roncando, sussurrei:
- Será uma longa viagem.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora