Capítulo XXXIX: Esclarecendo as coisas.

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Silêncio. Inicialmente só tinha o silêncio. Isso me assustou, fazendo meu coração acelerar. Suspirei fundo e apurei meus ouvidos, na tentativa de poder ouvir as ondas do mar se chocarem na costa da ilha. No entanto, escutei um tic-tac familiar e tentei buscar em  minhas lembranças de onde conhecia tal som. 

Quando finalmente consegui abrir os olhos, levantei-me e quase tive um ataque cardíaco. As paredes era cinzas e a porta de vidro a minha frente me fizeram engolir aquela visão a seco. Estava na A-51. Olhei com medo para o lado e vi Gê sentando em sua cama, como fazia quando estava pensando. Ele desviou o olhar para a minha direção e de repente seu olhar demonstrou alívio. 

- Que bom que acordou. Estava preocupado. - falou ele.

 Caminhei até perto das grades para conversar com meu amigo. 
- Co-como...- tentei perguntar, mas as palavras estavam presas na minha boca e eu estava tão assustada que não entendia o que estava acontecendo, que mal conseguia formar frases completas. 
- Foi uma armadilha. Enganaram todos nós e nos trouxeram de volta. - murmurou ele, triste. 
- Que-em fez isso? - perguntei, entrando em desespero. 
- Adivinhe, Projeto T! - falou Dr. Estevan, aparecendo na porta da minha cela. Atrás dele, Melissa apareceu, sorrindo. 
- Você. - falei, grunhiu em sua direção. 
- A senhorita Melissa fez o certo e comunicou ao governo brasileiro que rapidamente entrou em contato conosco. Nós avisamos que tínhamos olhos nos quatro cantos do mundo. - continuou o diretor. 
- Você não tinha direito de fazer isso!- gritei para a garota, deixando as primeiras lágrimas caírem.
- Era o certo. Vocês pertencem a esse lugar. Nunca deveriam ter partido. - comentou ela, saindo. 

O diretor me olhou pela última vez, com ar de vitorioso e seguiu a garota. Encostei meu corpo na parede gélida, tentando acreditar no que via. Mais lágrimas escorreram por minhas bochechas. Caminhei com cuidado até a porta da minha cela e olhei para o corredor. Mais celas estavam ocupadas. Todos estavam ali, aprisionados como eu. Observei Anelise me olhar da cela da frente, com seus cabelos claros sobre o rosto e nariz e olhos vermelhos, denunciando seu choro. 
- Tory,  tire a gente daqui...- pediu ela.

Aquilo me partiu por dentro.
-Eu vou. Juro que vou tirar todos daqui. - prometi.  

A garota tentou esticar seu curto braço para podermos dar as mãos, mas a distância era grande. Afastei-me da porta, com os olhos inundados de lágrimas.
- Isso é impossível. Não é real. Não. Não. Não. - murmurei para mim mesma. 

De repente, escutei uma voz distante me chamar.
- Tory, acorda! Vamos lá! Acorde, garota. - pedia alguém. 

Foi então que acordei com a Esther sacudindo meu ombro. Tudo estava escuro e Lindsey estava ao seu lado. As duas me olhavam preocupadas. Levantei em pulo, sentando na cama.

- O que aconteceu? - perguntei, sentindo minhas mãos suadas e frias.
- Você começou a murmurou algumas coisas enquanto dormia e de repente começou a gritar. Lindsey escutou primeiro e me acordou. O que foi com você? - perguntou Esther.
- Eu... tive um sonho muito ruim. - falei, abraçando meus joelhos.
- Um pesadelo? - questionou ela.

Assenti. Estava tão preocupada com as cenas que vi que  mal escutei as batidas em nossa porta, mas ouvi Peter e Gê conversar ali.

- Esther, está tudo bem aí? Ouvimos gritos...- comentou Peter.
- Está. A Tory só teve um pesadelo. Está tudo mais calmo agora. - comentou ela, encostando o ouvido na porta. 
- Será que a gente poderia entrar, só para ter certeza? - pediu Gê.
- Meninos, está tarde. Não se preocupem. Está tudo bem, de verdade. Voltem para o quarto de vocês. Conversamos amanhã. - falou ela, tentando convencê-los.

Enquanto Esther tentava mandar os meninos ir dormir, levantei da minha cama, indo para o banheiro. Com olhos bem abertos, eu conseguia captar cada movimento ao meu redor, devido ao medo do meu sonho. Eu esperava que a qualquer momento, algo me assustaria. Olhei minha imagem no espelho e pude notar pequenas gotículas de suor na minha testa. Com a água fria da pia, lavei bem o rosto e as mãos. Reparei que até minha respiração estava pesada e auditiva. Sai do banheiro e as meninas me olharam.
- Vou pegar um copo d'água. - anunciei, indo na direção da porta.

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