Assim que o sol apareceu, levantei do chão com um pulo, esquecendo completamente que Gê ainda se apoiava em mim. Ele caiu no chão, acordando.
-Ai!- resmungou ele.
-Desculpa. Foi sem querer!- desculpei-me.
-Sem problemas. Bom dia, Tory.- e se elevando.
-Bom dia,Gê. Podemos ir agora?- perguntei, nervosa.
-Claro. Vou só jogar uma água no rosto. - e foi ao banheiro.Arrumei os cobertores e os devolvi no lugar, apagando qualquer evidência de que tivemos ali. George saiu do banheiro com os cabelos e face molhados. Abri novamente a porta e saímos.
De novo, estávamos nas ruas. Eu ainda estava nervosa. Realmente esperava por enormes carros que parariam no meio da via e sairia milhares doutores e nos prenderiam no tédio novamente. E em selas. Não. Eu não queria aquilo de novo. O curto período que passamos livres foram mais agitado e divertido que meus anos no Setor.
As pessoas passavam ao nosso redor, parecendo nos ignorar, apressadas com seus deveres comuns. Mesmo assim, eu olhava para todos lados. Qualquer movimentação estranha, eu seguraria na mão de Gê e correriamos para o mais longe e mais rápido. Eu conseguiria fazer isso.
Senti um braço em cima do meu ombro.
-Tenta se acalmar. Está muito tensa e isso chama a atenção. - comentou Gê.
-Não é fácil. Será que já notaram que sumimos? - perguntei preocupada.
-Se não descobriram, logo saberam. Assim que forem nos buscar para as atividades e encontrarem as celas vazias.- afirmou ele, rindo.
-E por que ri? - questionei confusa.
-Eu queria ser uma mosquinha para ver a cara deles.- confessou ele.
-E eu queria ser uma mosquinha fotógrafa, só para registrar a cena.- concordei.
-Boa! Tory, não podemos ficar muito aqui? No máximo, até entardecer. Eles são loucos, mas não burros. Temos que achar a biblioteca logo!- exclamou ele.Parei diante ao prédio e li seu letreiro prateado. Nele dizia: West Las Vegas Library.
-Serve esta biblioteca? - perguntei, apontando.
-Serve! Vamos!- afirmou Gê, indo na direção do prédio e me levando junto.Entramos, quase correndo. Acho que duas crianças com roupas brancas, parcialmente sujas e descalças chamam um pouco de atenção. Fomos barrados logo na entrada. Era uma mulher loira alta, se vestia muito bem, com uma saia marrom impecavelmente limpa e arrumada e uma blusa social rosa-claro. Ela usa um óculos antigo. Seu rosto fino e olhos escuros redondos não demostra qualquer perigo.
-Posso ajudar vocês?- interrogou ela.
-Precisamos fazer uma pesquisa. Podemos usar os computadores daqui?- falou George, simpático. Coisa de signo: ele era bem comunicativo.
-Estão no final da sessão de Suspense.- confessou ela, apontando para o lado leste.
- Obrigado. - agradeceu ele e saiu na direção demostrada.Segui-o, muda. Coisa que aprendi na A-51 é falar apenas o necessário. Caminhamos até as máquinas e George se sentou na frente de uma. A luz da tela brilhou no seu rosto e seus dedos batiam nas teclas em uma velocidade incrível. Eu o observava atentamente.
-Vou pesquisar no site da polícia local. Caso os doutores saibam que sumimos, irão pedir ajuda as autoridades. Talvez tenha algumas fotos nossas. Vamos verificar.- contou ele.
-Certo. Manda ver.- comentei.Logo um site surgiu e George começou a ler. Olhei em volta novamente, só para conferir. Melhor prevenir do que remediar, certo?
-Ufa! Por enquanto, nada!- confessou Gê, aliviado.
-Certo, gênio. Agora pesquisa nosso destino! - anunciei, voltando a atenção para ele.
-Deixa comigo! Cidades longe de Las Vegas. Buscar.- disse ele, descrevendo suas ações. Ele bateu as mãos na mesa e gritou:- Eureca! Vamos para New York.
-New York? Fica realmente longe?- perguntei, vendo imagens da cidade.
-Sim. O suficiente! Vou mapear e fazer nosso caminho. Só vai faltar o meio de transporte. -contou ele, voltando a mexer no computador.
-Não dá para irmos andando, não é? - questionando, sabendo a resposta.
-Se você fosse correndo, daria...
-... Mas você não conseguiria me acompanhar. E eu não estou sozinha nessa! Vamos arrumar outro jeito e rápido.
- Tudo bem. Tracei o caminho. É bem longo. Se formos de ônibus, seria dois dias; de carro, um; moto, meio dia.
- O melhor para nós seria a moto.
- Exatamente. Só tem dois problemas: não temos a moto nem idade para pilotar uma.
- Grandes problemas.
-Vou imprimir o que pesquisei e saímos daqui.
- Certo. Oh, Gê, não quero ser chata...
-Mais chata? Achei que coisas assim eram impossíveis.
- Ei! Quer saber, vou repensar essa história de ir correndo. A gente se vê em NY!E saí, afastando-me dele. Escutei seus passos apressados, na intenção de me seguir.
- Para,To ! Estava apenas brincando. Esses anos com os doutores te deixaram muito séria. Estou achando que vou ter que te ensinar a se divertir novamente.- falou Gê, andando do meu lado.Parei bruscamente.
- O que quer dizer com isso? - perguntei, franzindo as sobrancelhas.
- Que a senhorita não fica alegre como deveria. Está parecendo uma velha ranzinza. Assim que chegarmos em NY, vamos em um parque de diversão. - confirmou ele, orgulhoso de si mesmo.Revirei os olhos e voltei a andar.
-Vamos sair daqui primeiro. Depois vemos isso. - confessei.
-Ok. E afinal, o que ia dizer?- questionou ele.
-Estou com fome. Não comemos desde da tarde passada. Eu sou forte, mas não sou de ferro.- comentei, extremamente irônica.
- Também estou. - confessou ele.Fomos até a impressora e reparamos que ela ficava atrás do balcão da bibliotecária. Ela sorriu e pegou nossas folhas, avaliando-as.
- New York? Que coincidência. Também gosto dessa cidade. Meu irmão mora lá. Estou indo visitá-lo hoje. - disse ela, entregando os papéis.
- Coincidência, não acha? - comentou Gê, como se partilhassem uma história igual.
- Bem que a senhora poderia nos dar uma carona até lá, já que estamos indo para o mesmo lugar. - falei, impulsiva.
- Tory. - disse Gê, dando-me uma cotovelada. Então, sorriu e se virou para a mulher: - Desculpe a minha amiga. Ela está muito ansiosa para ver a Estatua da Liberdade. É o sonho dela!Revirei os olhos. Mentiroso! Nem sabia do que ele falava.
- Eu até ajudaria, se os pais de vocês não ficassem bravos. - comentou ela.Olhei para ela, abismada. Como nós, George e eu, teríamos cara de crianças com famílias? Quase apontei para os nossos pés, mostrando como estávamos perdidos naquele mundo novo.
- Olha só. Que ironia! Nossos pais não vão ligar, já que não existem. - confessei, irônica.
- Como assim? - perguntou ela, assustada.
- Senhora, somos órfãos. Fugimos do orfanato que morávamos, por que não aguentávamos mais viver naquele lugar. Sabíamos que nossas chances de sermos adotados era zero. Só queremos sair da cidade e tentar uma vida melhor longe daqui. - mentiu George.Eu quase acreditei nele. Avaliei suas meias verdades e assenti, apoiando-o. A senhora nos avaliou e por fim, relaxou os ombros.
- Eu sabia que não eram crianças normais. Obrigada por serem sinceros comigo. Já fui como vocês. Fugi de casa aos dezessete anos e fui para New Jersey. Lá terminei meus estudos e consegui construir uma vida boa. Espero que consigam o mesmo. Ajudarei os dois com o transporte e comida, porém chegando lá, quero que voltem a estudar e não virem marginais. O mundo precisa de pessoas boas e algo me diz que vocês podem fazer isso. Mudá-lo. - disse ela com uma voz tranquilizadora.Concordamos, animados. Afinal, parecia que as coisas não iam piorar para o nosso lado. Por curtos segundos, avaliei aquela mulher. Sempre achei que as pessoas fossem más; que nos prenderiam e nos maltratariam assim que colocassem os olhos em nós. No entanto, aquela senhora estava disposta a nos ajudar. O que pedirá foi tão pouco que foi capaz de me arrancar um sorriso. Ela só queria que fossemos pessoas decentes, de bem. Prometi mentalmente que faria aquilo. Que sempre que alguém precisasse de minha ajuda e eu pudesse ajudar, não negaria o auxílio.
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Os Doze Dons Do Sol
AventuraDoze crianças nasceram especiais. As crianças zodiacas. Uma para cada signo, planeta e constelação. Duas delas estão sobre a supervisão e cuidados do Governo. A A-51 era seu lar, mais precisamente o Setor H. Após um blecaute em todo prédio, Tory(Tou...