Capítulo XXXIV: Não acredito que mentiram para mim!

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Acordei com alguém mexendo em meu ombro. Olhei para o lado e vi o doutor John. Foi como um choque. Levantei num pulo, tentando lembrar de tudo que tinha acontecido. A-51. As dores. A fuga. O doutor e o guarda. Tudo atingiu meu cérebro com uma velocidade inacreditavelmente rápida.

Doutor John me olhou por um segundo e assentiu.
- Chegamos! - anunciou ele.

A pergunta "Aonde?" chegou na ponta da minha língua, mas no mesmo instante, lembrei-me que antes de dormir, o doutor mencionou que íamos para sua casa. Escutei o doutor sair do carro e mesmo sonolenta, segui seu exemplo. Ele se dirigiu à traseira do carro e eu o acompanhei, disposta a ajudar com as caixas.

- Eu fico com essa. - falei, pegando uma das caixas.
- Como está se sentindo? - perguntou ele, fechando o porta-malas.
- Só de estar livre, sinto-me melhor. Porém, fisicamente sinto-me fraca e bem dolorida. Nunca estive assim. Mal sei dizer o que sinto. - confessei.
- Eu sinto muito por isso. - murmurou ele cabisbaixo, começando a andar.
- Tudo bem. Não há como voltar no passado e mudar isso. Contudo, você sabe o que realmente aconteceu? - questionei, seguindo-o.
- É uma espécie de líquido usado para mapear todos os vasos de um organismo. Vi somente uma vez como funciona e foi em uma planta. Suas propriedades são tóxicas para humanos. Quando fiquei sabendo que ia fazer esse mesmo procedimento com você, tentei impedir a todo custo. No entanto, deu tudo errado e mesmo fazendo uma confusão no setor inteiro, eles continuaram. O resultado disso tudo foi minha demissão. - e entrou no pequeno apartamento.

Antes de entrar, parei para observar. Consegui contar quadro andares de um prédio pintado de azul-escuro. A porta pela qual entrou era de alumínio e parecia um pouco gasta. Em uma das laterais do lugar, estava pichado com letras ilegíveis. Pela aparência simples do bairro, supus que aquele lugar não era um dos pontos mais ricos da cidade. A movimentação dos carros também eram mais tranquila e havia poucas pessoas na rua.

Olhei para a entrada do prédio e vi que o Dr. John havia voltado para me esperar. Sem muitas opções, dirigi-me para dentro do edifício.
- Foi difícil para vocês estarem aqui fora? - perguntou o doutor, enquanto andávamos em um corredor que acabava em uma escada de espessos degraus de concreto. - Digo, vocês sempre estiveram no setor H. Tudo deve ter parecido novo para vocês dois.

Olhei para frente, sem muita vontade de subir aquela escada.
- Foi complicado no começo, mas foi legal também. Não sei explicar direito. É que tudo parecia ter mais cores, mais vida. Coisas que as pessoas achavam simples, para nós era um luxo e incrível. Assim que chegamos em nossa casa, presenciamos a chuva. Era a primeira fez que a vimos. Antigamente, só sabíamos o conceito e ouvimos os pingos lá fora, mas poder ver foi outra coisa. Todos os que estavam com a gente, ficaram admirados, mas não foi pelo fato de estar chovendo e sim, porque era a primeira vez que presenciávamos aquilo. - e começamos a subir as escadas. - Encontramos, boas pessoas pelo caminho. Sabe, as coisas ficam mais fácies quando se tem ajuda de outras pessoas.
- Mas nem todo mundo é legal e bom. Vocês tiveram muita sorte. - comentou ele, seguindo para o segundo andar.
- Eu sei que isso pode parecer um pouco falta de intromissão minha, mas reparei que você é diferente. - afirmei, olhando para os degraus, com um grande medo de cair. Eu já estava cansada e meus braços começavam a doer.
- Em que sentido? Bom ou ruim? - questionou ele, depois de alguns segundos pensando em minhas palavras.

Paramos diante a uma porta e o doutor equilibrou a caixa em um dos braços, para poder abrir a porta.
- Um diferente bom. Sempre foi sério, mas não tanto quanto os outros doutores. Não via a gente como apenas experimentos. Por que nos tratava diferente dos demais? Por que era legal conosco? - perguntei, intrigada com tudo.
- Em parte, era porque sempre tive em mente que vocês dois eram mais que experimentos. Eram pessoas, assim como qualquer outro ali. - respondeu ele.
- E a outra parte? - interroguei, curiosa.
- É o que preciso te contar. - exclamou ele se levantando. - Quer beber alguma coisa? A viagem foi longa e aposto que está com sede.
- Hum. Um copo d'água já é suficiente. - respondi.
- Só um minuto. - pediu ele, na cozinha.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora