Capítulo LIV: Chegou a hora

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Haviam completado doze dias e Tory não havia acordado, o que tinha deixado todos ali apreensivos. Durante esses dias, muitas coisas mudaram. O centro da casa tinha virado o quarto das garotas. Naquele mesmo dia que Tory foi encontrada, o doutor comprou apetrechos médicos para que pudesse ter colocar nela um soro. Esther pesquisou comidas líquidas para fazer a amiga, enquanto Gê prevenia qualquer mal a garota, olhando vários livros de medicina, enfermagem e nutrição. Peter, por alguns dias se sentiu inútil perto dos dois. Mesmo assim, todas as manhãs, caminhava em direção ao quarto para lhe fazer companhia. Ele acreditava que mesmo inconsciente, Tory não precisava ficar só. Apesar de não ter gostado daquilo inicialmente, Gê achou bom alguém ficar de olho em Tory, caso tivesse alguma alteração. Momentáneamente, haviam deixado a rivalidade de lado, até que Tory voltasse ao normal.

Naquela tarde, os três também comunicaram aos demais signos o que acontecia e pediu que todos ficassem calmos. Não contaram sobre o diretor ou sua morte. A explicação dada por Esther para o caso da Tory foi que ela tinha abusado do seu poder por muito tempo e que eles a encontraram daquele jeito. Eram meias verdades. Futuramente contariam o que houve de verdade, quando tivessem idade suficiente para entender. Quando Anelise foi informada, a pequena apenas pulou da cama e cambaleou até a cama da Tory. Desde aquele dia, ela começou a melhorar e em pouco tempo, encontrava-se sorridente e elétrica como sempre. No começo, Esther e Gê estranharam tal comportamento, mas depois entenderam que aquela recaída foi apenas pelo fato de que estava com saudades de Tory. Gê naquele momento, apenas riu e afirmou que também tinha aquele direito de adoecer, porém ele sabia que tinha que ficar forte para sua amiga.

Após ela não acordar no décimo primeiro dia, o doutor apenas suspirou e afirmou:
- Talvez, ela precise de mais um tempo para se recuperar.

Aquela sentença era a mais otimista que o homem poderia fazer, mas a verdade era que nem ele sabia o que estava acontecendo ou o que aconteceria com sua sobrinha.

Gê estava perdido em seus pensamentos até que Esther começou a expulsar todos dali. Ela afirmava que a amiga precisava de um pouco de silêncio para descansar já que o quarto estava movimentado o tempo inteiro. Um pouco relutantes, Gê, Peter e Anelise saíram do quarto, dirigindo-se para o térreo. Enquanto isso, Esther havia ficado no quarto. Como sempre fazia, ela arrumou o travesseiro e ajeitou a coberta, torcendo para que Tory estivesse confortável. Com longos suspiros, ela saiu do quarto, sentindo o chão pesado sobre seus pés.

Estavam todos na sala, conversando sobre coisas do cotidiano, quando a porta da sala se abriu com um estrondo alto. Os onze olharam na direção, assustados. O que poderia ser aquilo. Na mesma, havia um semblante baixinha que começara a andar. Com mais claridade, eles conseguiram ver uma senhora. Ela parecia ter em torno de oitenta anos, cabelos grisalhos e sorriso bondoso. Seu vestido era arcaico e de pesados tecidos. Com passos lentos, ela se colocou no meio da sala.

- Quem é você?- perguntou Peter, levantando-se do sofá.

A senhora se limitou apenas a olhar para fora e afirmou:
- Está quase na hora. Vocês precisam desocupar aquele espaço. - e apontou para perto da lareira.

Enquanto todos a encaravam por alguns minutos, Gê caminhou até o local, curioso para saber o que tinha ali. Com um pouco de esforço, começou a mover as poltronas e logo se deparou com um símbolo cravado no chão. Seguiu o desenho com seus olhos e logo viu outra parte de um suposto símbolo.

- Eu sei que é estranho falar isso, mas acho que deveríamos fazer o que essa senhora disse. - afirmou Gê.

Peter o olhou, incrédulo.
- Você está me dizendo para seguir ordens de uma desconhecida? - perguntou ele.
- Bom, ela está aqui dentro de casa e as únicas pessoas que podem entrar ou até mesmo passar pelas cobras eram nós. Ela deve ter alguma coisa haver com esse mundo que pertencemos. - explicou Gê.

A senhora apenas sorriu.
- Eu sou Kayra, uma guia. Minha missão é orientar o líder nato de cada geração em momentos turbulentos. Tory daqui a pouco se juntará conosco para a iniciação e precisamos deixar o espaço desocupado. - confirmou ela.

Esther se aproximou dela, apreensiva.
- A senhora deve estar um pouco desinformada, mas aconteceu um acidente. A Tory no momento está inconsciente. - falou Esther, diminuindo gradualmente o tom.
- Não se preocupem e apenas arrumem o espaço. - respondeu ela.

Por poucos minutos, os signos se olharam, travando uma intensa batalha silenciosa sobre confiar ou não em Kayra. Porém, no final, perceberam que não tinham outra escolha a não ser seguir o que foi sugerido. Assim, em pouco tempo, todos moviam os móveis da sala, colocando-os encostados nas paredes. Assim que terminaram, de frente a lareira estava um círculo grande e doze outros pequenos círculos em volta dele. Cada círculo menor havia um símbolo de cada signo. Já no meio do círculo grande, havia outro círculo menor, porém no meio desse não tinha nenhuma gravura ou marcação. Estava vazio.

- Acho que deveríamos ficar perto de cada um dos nossos símbolos. - respondeu Gê, analisando o chão.

Mesmo confusos, cada um foi a procura de seu respectivo símbolo. Assim que os onze se colocaram nas posições, perceberam uma falha, a falta de um décimo segundo signo. Esther estava prestes a dizer a Kayra que faltava Tory, quando reparou que a mesma olhava para o topo da escada.
- Está na hora. - ela afirmou.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora