Capítulo XXI: Meu Lado reflexivo.

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- Então, essa é a história? - perguntou o garoto.
- A mais louca que já ouviu e provavelmente a mais inacreditável, mas é a que temos.- falei, sentando no sofá.
- Realmente, eu não acreditaria nisso, se não fizesse parte. Vocês querem que eu participe dessa causa? - questionou ele.
- Achamos que ficaríamos melhor juntos. Se você vir, terá que viver todas essas viagens malucas conosco. - comentei.
- Eu era um órfão abandonado em Las Vegas. Fugi do orfanato quantas vezes consegui, porém a polícia me achava e me mandava de volta. Não é fácil viver nas ruas, mas sei que seria pior vivendo em um orfanato onde ninguém vai me querer. - disse ele, tristonho.
- Eu sei como é essa situação, cara. Não sei se percebeu mas todos aqui são só gente boa. Temos dois fugitivos do Governo. - disse Peter, apontando para mim e Gê. - Um ladrãozinho italiano. - e apontou para o Sam. - duas crianças maltratadas ali. - e sinalizou para Anelise e Leon. - E, quatro moradores de rua. - apontou para o restante. - Só galera legal.

O menino riu.
- Brinquei com nossas histórias, mas no fundo, somos pessoas boas a espera de um mundo melhor. Não somos anomalias, mas não somos pessoas comuns. Só esperamos que o mundo nos aceite do jeito que somos. - confessou Peter.
- Desde o momento que ela veio falar comigo, notei que não queriam o meu mal. - falou o menino, apontando para mim. - Sou cego, porém enxergo a alma das pessoas.
- E qual seria sua decisão? - perguntei, ansiosa pela resposta.
- Acho que o grupo de vocês que está bem grande para aceitarem alguém como eu. Vocês estão pensando certo? Sabem que terão que andar com um deficiente visual? -questionou ele.
- Eu sei como se sente. Está colocando a culpa das coisas ruins que lhe aconteceu em sua deficiência, mas não é assim. Eu demorei a acreditar, porém existem pessoas más, muito más. - confirmou Leon, se aproximando.
- E como você sabe disso?- perguntou ele.
- Também sou deficiente. Uso cadeiras de rodas e desde o momento que decidi estar com eles, não me senti deslocado só por causa da minha deficiência. Muito pelo contrário, eu me senti mais integrado com todos e percebi que fizeram mudanças para melhorar o bem estar de todos os outros. - falou Leon.
- Então, se eu ficar posso não prejudicar vocês?- interrogou o menino.
- Claro que não. Até acho que irá nos ajudar. - confessei.
- Como? - questionou ele.
- Teremos que ver isso, futuramente. - afirmei.

O garoto se colocou de pé, batendo as mãos nos jeans empoeirados.
- Acho melhor eu me apresentar, já que ficarei aqui. Chamo-me Arystoteles, mas a maioria me chamava de Arys, igual meu signo. - falou ele, sorrindo.
- Bem vindo, Arys. Para te ajudar a saber quem é quem. Eu sou a Tory, de touro.
- Peter, de Peixes.
- George, de Gêmeos.
- Anelise, de Aquários.
- Leon, de Leão.
- Esther, de Escorpião.
- Violet, de virgem.
- Sam, de Sagitário.
- E, Courtney, de capricórnio.

Todos se apresentaram.
- Agora, vamos descansar e nos preparar para viajar amanhã. - falei, jogando-me no sofá. - Peter pode ir com a Esther comprar comida e roupas novas para o Arys. Gê pode cuidar dos menores, enquanto vocês fazem isso.
- E você? Fará o que?- perguntou Gê, cruzando os braços.
- Vou dormir um pouco. Isso me ajudará fisicamente amanhã na viagem. Ainda sou a responsável pelo nosso transporte e segurança subterrânea. - respondi, fechando os olhos.

Escutei a risada da Esther.
- Ela tem razão. Quanto mais descansada estiver, melhor será nossa viagem. - comentou ela.
- Certo. - confirmou Peter.

Eles logo partiram, assim como eu orientei. Eu queria ter aquela experiência: sentir o mundo como Arys fazia. Assim, conseguiria pensar em maneiras melhores de auxiliá-lo. Não dormi , apenas permaneci deitada, de olhos fechados. Consegui escutar Violet orientando Courtney e Anelise em seus desenhos. Leon e Sam zanzavam pelos canais da TV. Gê folheava alguma coisa, talvez uma revista, enquanto contava ao Arys as nossas histórias individuais. Todos ali pareciam se dar bem, e eu esperava que fosse assim para sempre. Adorei escutá-los.

Também gostei do tempo que tive para descansar. Mesmo não estando dormindo, pude relaxar. Eu não tive aquele tipo de atividade há muito tempo, desde que eu tinha cinco anos. Após ter idade suficiente para ir para escola, minha vida virou uma rotina incansável de atividades. De certo modo, eu queria ter tido uma infância comum, com brincadeiras no parque, amigos na escola e comemorar datas especiais. Não acho que isso mudaria minha personalidade, mas teria feito os dias melhores; bons para se recordar. Contudo, nem pais eu tive, imagina dias de criança.

Eu não parava e ficava pensando o tempo todo na minha temporada na A-51, mas tinha momentos que eu me pegava refletindo sobre algumas situações que vivenciei no Setor H. O modo que éramos tratados, tanto Gê quanto eu. Como não conseguiam nos tratar como seres humanos. Agora fora daquele lugar, o sentimento de revolta era maior. Eu não devia estar escrevendo sobre isso. Gê disse que o leitor não está afim de ler isso, e ele está certo. O que importa é nossa história daqui para frente, com nossa nova família.

Naquela noite, fomos dormir​ cedo. Arys parecia feliz com a vida nova. Esther, Peter, Gê e eu estávamos aliviados por essa parte dá missão ter dado certo, sem imprevistos​. Estávamos pegando o jeito, podremos os signos ja estavam acabando e logo estaríamos todos reunidos. Anelise logo anunciou que se sentia melhor dormindo ao meu lado e Sam comentou a mesma coisa. Após quinze minutos de discussão entre as duas crianças, Peter se irritou. Ele disse que trancaria os dois no banheiro se não calassem a boca.

- Eu queria saber o que há de tão especial em dormir ao meu lado para gerar toda essa confusão?- questionei.
- Eles ainda são pequenos e como não tiveram uma influência materna, associam esse sentimento a você, To. Por ser a que mais se preocupa e transmite a sensação de segurança, é normal eles a queiram por perto. - comentou Gê, ao meu lado.
- Eu acho que os doutores não deveriam ter deixado você ler ajudei aqueles livros de psicanálise. Senti-me conversando com Freud agora.- brinquei.
- Ler é bom e eu espero ansiosamente que no nosso futuro lar tenha uma boa biblioteca. - afirmou ele, suspirando.
- Tenho certeza que terá exatamente aquilo questão queremos e precisamos. - exclamei.

Por fim, todos se acomodaram. Sam e Anelise conseguiam o queiram. Cada um dormiu ao meu lado. Os demais se espalharam pelo quarto. Antes de dormir, decidimos saber nosso próximo destino e Violet foi quem revelou onde estaria o próximo signo. Antes mesmo do sol nascer,
sairíamos rumo ao décimo primeiro signo no poderoso solo chinês.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora