Capítulo LI: Eu...sou má?

21 2 0
                                    

Gostaria de saber como tal sentimento ruim durou tanto? Como conseguir sentir essa raiva pura com ódio e fazer o quê fiz? Tudo se tornou claro depois de um tempo, quando pude avaliar minhas ações. Era completamente decepcionante e assustador. Percebi isso assim que voltei a ser racional de novo. Será que chorar nesse momento poderia limpar o peso da minha consciência? Eu não era aquela pessoa. Não era má. Porém, antes de que você possa me entender, eu preciso contar os acontecimentos.

Estava dirigindo em direção ao Brasil, indo para casa, onde acreditei ter mais vantagem sobre o Dr. Estevan. Tinha a terra que estaria sobre meu domínio e o mar, que dificultaria a fuga dele. Minha terceira vantagem era as cobras. Tinha em mente que se pedisse, conseguiria fazê-las trabalhar ao me favor. Celular comum não pegaria ali, por isso tínhamos um telefone fixo que mantinha nossa ligação com o mundo de fora. Mesmo que conseguisse ligar, ninguém o veria. A ilha era protegida magicamente e pessoas de fora não conseguia ver a casa ou as pessoas ali. O governo brasileiro também fazia uma supervisão sobre os limites aquáticos, ou seja, ninguém chegava na ilha por barcos ou qualquer coisa do tipo.

Esses foram meus únicos pensamentos racionais durante todo o trajeto. Minhas demais atitudes foram apenas instintivas e impulsivas. Durante o caminho, consegui bater o carro duas vezes ao me assustar com os comandos complexos e durante um desses dois incidentes, o doutor acabou batendo a cabeça no banco dianteiro e acordou.  Ele resmungou palavras inauditivas e se contorceu como uma cobra quando cortam-lhe a cabeça.

Olhei-o rapidamente e suspirei:
- Isso não vai lhe ajudar! Mesmo que consiga se desamarrar, estará preso no subterrâneo.- e então, ele parou por um instante para ouvir minhas palavras. - Estamos viajando magicamente por debaixo da terra. Estou controlando tudo ao nosso redor, principalmente o ar. Se algo acontecer comigo, você morrerá: soterrado ou por asfixia. Então, fique quieto.

Ele ficou imóvel, mas foi apenas por dois minutos. Depois voltou a se contorcer, debater e se mexer com se tivesse com pulgas. Decidi ignorá-lo. Era o melhor que fazia. Durante uma hora completa, ele se moveu no banco, até desistir devido ao cansaço. Olhei para o meu braço. Também estava cansada. Muito cansada. Precisava por fim nisso logo. Foi com esse pensamento que comecei a acelerar, indo cada vez mais perto.

Assim que senti que estava no subterrâneo das terras brasileiras, não idealizei o portal e sim, minha casa. Pensei diretamente na ilha. O que aconteceu em seguida deixou minha mente confusa. O túnel se abril a minha frente e por alguns minutos, só pode ver o céu noturno. Depois veio o mar, aparecendo rapidamente. Foi nesse momento que parei bruscamente o carro, fazendo tanto o meu corpo quanto o do Dr. Estevan serem jogados com força pra frente. Senti meu tronco bater no volante e choraminguei mentalmente, pensando nas futuras dores. Sai apressada do carro para observar a situação que estava. Surpreendi-me ao perceber que o carro havia parado centímetros do penhasco. Olhei para trás e vi minha casa. Por um prévio momento, meu coração bateu em um descompasso, misturando saudades e alegria por estar de volta. Porém, minha mente fez questão de lembrar que eu tinha que terminar o que comecei.

Dei a volta no carro e puxei o doutor, jogando-o no chão. Ele resmungou algo e eu segurei-me para não bater nele. Desamarrei as cordas de suas pernas, porém continuei segurando no colarinho de sua camisa.
- Corre e eu não penso duas vezes em te jogar no mar com uma pedra amarrada no pescoço. - alertei-o.

Vi ele arrumar sua postura e esperar para ser guiado. Empurrei-o em direção a casa. Entrei em casa e vi apenas quatro pessoas: Arys, Esther, Peter e Gê. Eu sabia que era tarde e provavelmente as crianças estariam dormindo naquele horário. Ao me ver, eles deram a intenção de vim ao meu encontro, porém neguei com a cabeça, permanecendo séria.
- Arys, suba e não deixe ninguém descer, por favor. - pedi.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora