XLVIII: Quem eu realmente era.

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Eles estavam cada vez mais perto. Foi quando senti uma energia diferente em mim, como se fosse uma corrente elétrica passando do meu braço para a minha perna. Bati forte meu pé no chão e uma onda se espalhou, como um mini-terremoto, abalando os soldados. Conforme a força passava pelo chão, os postes de energia balançaram, movimentando os fios e fazendo os mesmos soltarem faíscas. Eu tinha que fazê-los parar e aquilo pareceu funcionar. Vi seus olhos se arregalarem e seus passos desesperados para trás. Estavam com medo e isso era totalmente visível. Olhei em volta, escutando meu coração bater forte. Meu olhar se posicionou na direção do Dr. Estevan e pensei em algum jeito de chegar até ele sem ser interrompida. Ele era a fonte dos meus problemas. Era a pior pessoa do mundo.

Como se fosse mágica, todo mundo passou a se movimentar em câmera lenta. Escutei um grito rouco e senti algo passar recente ao meu rosto, atingindo minha orelha. Um líquido escorreu pelo meu pescoço e apalpei a região, sentindo uma ardência em minha orelha. Eu... tinha levado um tiro?

- Tory, cuidado! - gritou Gê, abraçando-me. Seus braços rodearam minha cabeça e meu rosto foi de encontro com seu peito.

Escutei outro disparo e Gê perdeu seu peso. Suas pernas cambalearam e senti o cheiro forte de metal e pólvora no ar.
- Gê!- chamei-o, passando meus braços em suas costas para apoiá-lo.

Foi quando minha mão encontrou um líquido morno e uma ferida em sua pele. Reconheci a textura.
- Gê! - falei, olhando para ele.
- Está tudo... bem. Calma, To. - afirmou.

Não! Não estava nada bem. Ele havia levado um tiro que era para mim. Aquelas pessoas...elas iam pagar pelo que fizeram. Bufei e olhei para Peter.
- Me ajuda...- pedi, com os olhos cheios de lágrimas.

Ele veio rápido até mim e pegou Gê, colocando sentado na entrada do prédio.
- Vamos fazer isso juntos! - falou Peter.
- Eu quero...- Gê começou a dizer, movendo-se.
- Não desse jeito. Você ajudará se ficar aqui, quieto. - confessou Esther.
- Então, qual é o plano? - perguntou-me Peter.

Observei os soldados. Bom, eu nunca fui bom com planos.
- Vocês podem cuidar dos grupos das laterais. Peter, lado esquerdo. Esther, lado direito. Eu fico com o grupo central. - orientei.

Peter olhou para o grupo e depois para Esther.
- Você dá conta?-  interrogou ele.
- É claro. Até parece que não me conhece. - respondeu ela.

Abaixei a cabeça escondendo meu sorriso. Aqueles dois. Ao fazer tal ato, vi o sangue em meus dedos e senti meu sangue ferver. Decidi que ninguém ali passaria mais um minuto sem saber quem eu realmente era. Corri até aquelas pessoas o mais rápido que conseguir. Todos os acontecimentos a seguir passaram como um borrão para todos ali presentes. Sabia que meu problema principal era as armas. Eu poderia ser forte e sentir dor apenas quando quisesse, mas não era a prova de balas. As balas ainda poderiam me machucar ou coisa pior. Eu tinha que desarmá-los antes que ferissem mais alguém.

Parei entre um grupo de soldados e segurei com as mãos no tubo de duas armas, amassando-os. Daquele jeito nenhuma bala seria disparada. Corri entre outros soldados chutando as armas para longe. Vi algumas serem arremessadas nas paredes, ficando presas nas mesmas. Outras giraram e caíram nos bueiros. Porém a maioria estava no asfalto quente e para pegá-las, os homens teriam que passar por mim. Olhei de relance para o lado e observei Peter nocautear o último soldado. Por fim, ele olhou para mim e acenou com a cabeça, dizendo que tinha terminado sua parte. Virei o rosto para olhar Esther e assisti a cena que ela usava seu casaco para derrubar um dos soldados enquanto chutava outro bem entre as pernas. Ela poderia não ser boa em lutas com o Peter ou eu, mas era esperta e sabia improvisar como ninguém.

Quando finalmente achei o Dr. Estevan, senti algo se chocar contra minhas costas. Logo em seguida, aconteceu a mesma coisa três vezes, sendo nos meus braços e pernas. Por fim, senti o sangue escorrer. Sorri. Eles realmente achava que tiros me parariam? Eu não sentia dor naquele momento. Era como se nada mudasse. É claro que iria doer quando eu desativasse, mas até lá, eu estaria longe. Como tinha o controle perfeito do meu físico, eu tinha uma noção que as balas não tinham acertado nenhum órgão ou artéria que pudesse me matar.

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