Capítulo LIII: A verdade nua e crua.

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- Está sendo difícil para ele. - comentou John, inclinando a cabeça na direção do Gê que cochilava sentado no chão, perto da cama da Tory.
- Sim. Apesar de assustado, ele está muito preocupado com a Tory. Todos estamos, mas ele está mais. Ele não quer se afastar, nem para descansar ou comer. - confessou Esther, observando-o.

John ficou calado por alguns minutos. Ele acabou relembrando da época em que os três estava na A-51, em suas vidas entediantes. Ele tinha um medo de que os dois se apaixonassem e sabia que os superiores iriam intervir, separá-los. Aquilo seria uma dor enorme pra os dois que nunca tinham se separado por muito tempo. Ele temia tanto pela vida da sua sobrinha quanto pela do garoto. Mas ali, no mundo exterior, o que poderia acontecer?

- Eles tem uma ligação muito bonita. - falou ele, pensativo.

Esther também pareceu despertar-se de um pensamento.
- Tem sim. Apesar de ser pura e inocente, parece ser bem forte. - comentou ela.

John apenas concordou e sorriu. Eles nunca mudariam. Sempre seria ela por ele e ele por ela. Era como uma lei natural do mundo. E assim, ambos estariam felizes e seguros.

Gê estava dormindo tão pesado que acabou perdendo o controle do corpo e caiu de lado. Na hora, o garoto acordou assustado. Então, um pouco confuso, ele olhou para os lados e viu o doutor.

-Oh, o senhor já chegou! - disse ele levantando e cumprimentou o doutor.
- Estou aqui já faz um tempo. Na verdade, tenho que ir agora. Preciso trabalhar, mas prometo voltar assim que sair do trabalho.
- E como ela está? Qual é o diagnóstico? Vai demorar para acordar?- perguntou o jovem, aparentemente preocupado.
- Bom, o estado de hipotermia dela está sumindo. Deixe-a nesse estado, aquecida que logo estará bem. Sobre o estado inconsciente: ela não está em coma por causa da hipotermia. - confessou ele.
- Então, o que tem? Por que não acorda? - continuou Gê.
- Ela está apenas dormindo. Olhem isso!- falou ele, mostrando a tatuagem da garota que estava em evidência. - Essa região está irradiando calor. Há quanto tempo ela está assim? Usando seu poder?

Esther ficou quieta, vasculhando em sua mente. Ela procurava a última vez que viu a Tory normal e quando enfim achou a lembrança, seus olhos se arregalaram.

- O que foi?- perguntou Gê.
- Ela... se ativou no último ataque. Desde então, não a vi normal novamente. - respondeu Esther.
- O QUÊ?! Você está dizendo que ela está assim desde aquele dia? Já faz três dias que isso aconteceu! - confessou ele, incrédulo.
- Se isso realmente aconteceu, ela chegou ao seu limite. Não tem forças para se manter acordada. - concluiu o doutor, respirando fundo.
- Vocês... Deveriam ter parado ela...- afirmou Gê.
- Você sabe muito bem que em certos momentos, é impossível pará-la! O jeito que estava, ninguém conseguiria ajudá-la. - comentou a garota, com uma voz melancólica.

Gê se calou. Não tinha argumentos para as verdades que sua amiga falara, mas desejou que de algum jeito, alguém tivesse parado a Tory e a acalmado. Isso teria evitado o acontecimento da noite passada.

Depois de alguns minutos em silêncio, Gê começou a calcular em sua mente.
- Dez dias. - falou por fim.

Isso surpreendeu tanto ao doutor quanto a Esther.
- Para quê? - perguntou a garota.
- Para Tory se recuperar. Ela precisará descansar 240 horas por ter usado seu poder por 60 horas em seguida, ou seja...- explicou ele.
- Dez dias. - completou o doutor. - É um longo tempo. Vou pensar em um jeito para que ela fique bem até tomar a consciência novamente.

Então, pegou uma maleta e saiu do quarto. Os dois o acompanharam até a sala e quando chegaram na mesma, encontraram Peter. O jovem ainda não gostava do doutor e por mais que reconhecesse o que o homem fazia por eles, não conseguia deixar de duvidar dele. Era bom de mais para ser verdade. Peter também desconfiava que Tory sabia de algo do doutor, porém isso não os prejudicava. Isso acalmava o garoto, mas não livrava o doutor de dutos olhares.

Quando o doutor chegou perto da porta, parou e suspirou.
- Por que estão assim? Posso ser uma pessoa comum, porém eu consigo sentir a tensão entre vocês. Tem haver com o estado da Tory?- perguntou ele. Na sua voz dava para sentir uma melancolia misturada com preocupação.

Esther o olhou, e o homem sentiu que havia uma triste história.
- É uma longa história e o senhor tem que ir trabalhar. Não creio que dê tempo para contar o que houve. - resmungou ela.
- Também não posso deixar vocês nessa situação. Eu ia mais cedo para passar um tempo com minha irmã. Tenho que trabalhar só daqui três horas. Creio que dará tempo para conversarmos e eu passar em casa brevemente. Então, conte-me, por favor.- pediu ele.

Esther dirigiu seu olhar para Gê, que confirmou com um aceno de cabeça. Não gostava daquela história e não sabia se era certo contar a alguém, mas ela sabia que o doutor era uma boa pessoa e não faria nada para prejudicar a Tory.

- Vamos até a cozinha. Vou preparar um café para nós. Acredito que todos precisam. Essa conversa não será fácil. - concluiu ela.

Então, com passos pesados, todos foram para cozinha. Gê sentou-se à mesa e John o acompanhou. Peter se limitou a cruzar os braços e se apoiar na bancada, perto da pia. Esther começou a preparar o café e a falar. Ela começou pela parte que achou importante: o ataque que sofreram em São Paulo. Tinha certeza que aquilo tinha sido o gatilho para a loucura de Tory. Ela contou como tudo ocorreu, desde a chegada dos soldados até a saída de Tory do hospital. Em todos os momentos, John não a interrompeu, ouvindo-a atentamente. Então, ela chegou na parte importante: a discussão e a morte do diretor. Com a voz trêmula e as mãos envoltas na xícara de café, ela concentrou em relatar o que presenciou naquela noite.

Assim que terminou, olhou para o doutor, procurando um tipo de resposta para aquela atitude. Porém, John terminou calmamente seu café e colocou a xícara em cima da mesa.
- Vocês devem estar assustados. - comentou ele.
- Talvez um pouco. - confessou Gê.
- A gente não esperava por isso. Achamos que ela só ia dar um susto nele; que pararia quando no momento certo. - argumentou ela.
- Eu lamento afirmar, mas já esperava por isso. - anunciou o doutor.

Todos ali se espantaram. Não esperavam aquela resposta.
- Como assim? - perguntou Peter.
- Bom, vocês teriam que parar para pensar. A Tory é extremamente forte. Eu desconfio que nem ela mesma sabia o tamanho da sua força. E essa força, esse poder traz responsabilidade para ela. É claro que ela também tem a responsabilidade de cuidar de vocês. Ela é a sua líder. Se algo acontecer com vocês, também atingirá ela. Agora, prestem a atenção. O Dr. Estevan bateu na mesma tecla todas as vezes que queria machucá-la: ele ia para o lado de vocês. Quando alguém é muito forte, geralmente sua fraqueza está em outras pessoas. Vocês realmente acham que ele ficaria vivo depois de quase capturá-los e ferir o Gê? Ainda estamos esquecendo o fato dos insultos e tentativa de matá-la. Sim, a Tory é forte, mas ainda é um ser humano e todo ser humano tem um limite. Vocês presenciaram o limite dela. Ela aguentou calada por um bom tempo. Aquilo se acumulou e quando a magia veio, ela não conseguiu se controlar. - respondeu o doutor.

Ele olhou para os jovens ali, pensativos. Eles não tinham visto por aquele ângulo, aquele ponto de vista.
- E mais um detalhe. Vocês devem estar pensando que a Tory é má pelo que fez. Ela não é má, mas foi má. Tem uma diferença aí que precisam refletir. Quando ela acordar, tudo vai pesar em sua consciência e isso será difícil para ela. Mais difícil que está sendo para vocês. Ela tem um bom coração, mas cometeu um erro e precisará de sua família a apoiando. Não estou dizendo para passarem a mão na cabeça dela e dizer que fez o certo. O que aconteceu não foi certo, porém não é o fim do mundo, como provavelmente ela irá pensar que é. Vocês terão que se preparar para ajudar uma pessoa que terá medo de si mesma, assim como vocês estão dela. Eu espero do fundo do meu coração que vocês arrumem o melhor jeito para isso. Ela contará com isso, com vocês. - terminou de falar.

Os três assentiram e o doutor pediu para ir embora. Não demorou muito para Esther retornar a casa e ainda encontrar Gê e Peter refletindo sobre tudo que o doutor dissera. Era muita coisa para eles.

- Eu odeio afirmar isso, mas ele está certo. - falou Peter, derrotado.
- Mas o que faremos agora? - perguntou Gê, perdido.
- Eu ainda não sei, mas faremos o melhor para Tory. Está é a nossa vez de sermos fortes. - afirmou Esther.

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