LX: Rumo ao hospital

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O maior medo de Tory foi seu choque contra a água fria e salgada do mar. Sentiu ardência nos machucados, porém ficou quieta. Seu choque foi menor do que pensava, pois caíra em cima do primórdio. Quando estava aceitando sua morte por hemorragia ou hipotermia, sentiu seu corpo se mexer. Por estar no mar, não entendeu o que estava acontecendo. Em poucos minutos, viu seu corpo ser jogado na praia e a garota cuspiu água salgada com sangue. Ao olhar em volta, viu seu primórdio ofegante ao seu lado.

- Os ferimentos desaparecerão ao nascer do sol. - murmurou a fera, antes de se dissolver em uma névoa vermelha e sumir.

Tory queria entender aquilo, porém decidiu que não era hora para aquilo. A sua frente, havia uma estrada de chão que decidiu segui-la. Se achasse o caminho certo, poderia voltar para casa. Contudo, mancava muito. Estava cansada. Suspeitava que seu braço estava fora do lugar e com outro braço que julgava estar bom, apoiava nas costelas do lado esquerdo que insista em doer. Suas roupas molhadas e frias faziam sua temperatura abaixar e consequentemente seu queixo começar a bater. Precisava se mover. Com passos pesados, caminhava com dificuldade. Demorou bons minutos para chegar na Br principal. Sem saber muito bem para onde ir, começou a andar no acostamento. Não deu dez minutos de caminhada e um carro parou ao seu lado.

– Tory! – chamou alguém.

A garota olhou na direção e sorriu ao reconhecer a pessoa.
– Dout... John. Que bom te ver. – comentou ela.

Por conta do frio, ela começou a tossir e colocou a mão na boca. Ao tirar a mesma, percebeu respingos de sangue.
– Lilith, rápido. Ajude a Tory entrar no carro. – pediu o homem.

Sua irmã logo saiu e ajudou a garota a sentar no banco de trás do carro. Antes que conseguisse agradecer, Tory desmaiou devido as condições de seu corpo. Lilith se desesperou.
– Ela está muito fria. – falou a mulher, tirando o casaco e colocando em Tory. Seus dedos foram no punho da garota. – Pulso está fraco. John, precisamos levar ela para o hospital agora.

John sentiu a urgência de suas palavras. Mesmo fora das leis, ele deu a meia volta ali mesmo e seguiu em alta velocidade para o hospital. Ele sabia da luta e dos possíveis resultados, porém ver sua sobrinha daquele jeito foi o mais próximo que ele esteve da morte.

Fazia alguns minutos de viagem pela SP-055, quando Lilith se remexeu no banco traseiro.
– Falta muito, John? – perguntou ela.
– Mais uns vinte minutos. Estamos quase lá. – disse o homem, olhando novamente a rota que tinha traçado no GPS.

Lilith concordou com a cabeça. Não tinha como reclamar. Seu irmão estava indo o mais rápido possível e ela sabia o quanto estava nervoso. Nas palavras dele, ditas meses atrás, ele tinha cuidado dela desde o nascimento. Então, Lilith entendia a sua preocupação, seu desespero e apego pela jovem. Ele compensou a falta de casa no trabalho. Ao olhar para Tory, mesmo nas condições que estava, ela sabia que aquela jovem era especial e não era porque tinha dons. Lilith podia afirmar que mesmo que não tivesse todos aqueles poderes, Tory continuaria especial. John já havia explicado que o modo diferente era devido sua longa restrição ao contato com uma vida normal. Lilith vivia afirmando que sua vida era difícil e complicada, porém parou de fazer isso quando seu irmão sentou-se com ela na sala e dividiu a história da garota. Foi difícil para Lilith ouvir, imaginou que para John tinha sido pior em contar ou a Tory que viveu tudo aquilo.

Logo ela sentiu o carro parar bruscamente e olhou para fora, lendo: Hospital Regional De Itanhaém Jorge Rossman. Era o hospital mais perto que John achou. Assim que estacionou, ele desceu do carro e deu a volta, pegando a garota em seus braços. Lilith foi na frente, gritando:
– Socorro! Alguém nos ajude! – pedia ela.

Seu pedido foi ouvido e quatro pessoas apareceram, assustadas. Eram três enfermeiros e uma médica.
– O que houve? – perguntou a doutora que John conseguiu ler: Dra. Júlia, clínica geral.
– Encontramos ela assim. Ela está com o pulso fraco. – confirmou Lilith, dando destaque a última frase.
– Certo. Vá buscar uma maca e vamos levar ela para dentro. – falou a Dra. Júlia a  um dos enfermeiros.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora