Capítulo XXXII: Realmente, retornar ao Setor H era uma droga.

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Quando finalmente tomei a consciência, sentia que as coisas não estavam favoráveis para mim. Primeiro, eu estava deitada em um lugar muito duro e frio. Segundo, eu sentia que meu corpo estava totalmente adormecido e me sentia uma gelatina ambulante. Se minha vida dependesse da minha força, naquele momento eu morreria.

Abri os olhos devagar, adaptando-me a claridade do lugar. Sentei e olhei em volta, observando onde estava. As paredes eram cinzas claro e não tinha uma janela para entrar ar puro. Em cada canto do cômodo, havia uma câmera. Bem na minha frente, havia uma cama de alumínio que estava perfeitamente arrumada com forros brancos e algo dobrado em cima. Olhei para a direita e vi uma porta de vidro, com uma trinca e um painel eletrônico ao lado. Suspirei e olhei na direção oposta, vendo outra porta: um banheiro totalmente branco. Conhecia tão bem o lugar que nem precisava olhar para trás para saber que havia uma passagem celada com fortes grandes. Mesmo assim olhei e deparei com um quarto vazio e totalmente escuro. Tremi, sentindo um arrepio subir pelas minhas costas e se dissipar pelos braços.

Respirei fundo e levantei, incrédula. Eu não acreditava que estava ali novamente. Aquilo parecia ser tão triste, cruel. Um gosto amargo se tornou presente na minha boca e uma única lágrima caiu de meus olhos, escorrendo pela bochecha. Eu não queria estar ali. Poderia estar em qualquer outro lugar, menos ali. Agora que tinha vivido e visto o mundo, sabia como o setor H era sem vida e solitário para uma pessoa. Estar ali fazia qualquer um ficar extremamente triste e sem motivação para continuar. Posso até dizer que impulsionava a pessoa para a depressão.

Balancei a cabeça e limpei a lágrima, respirando fundo. Eu estava ali por escolha própria e tinha um bom motivo. Lá no fundo, sabia que não seria fácil viver ali novamente, mas eu aguentaria se fosse para o bem da minha família. Parei de frente a cama e olhei o que estava dobrado. Era uma muda de roupa branca. Tinha de tudo: uma calça longa, camisa, calcinha e um top. Observei minhas roupas e vi que estava imunda. Estava suja de poeira, ainda úmida e com alguns furos dos dardos que levei.

Bufei, pegando a roupa e indo ao banheiro. Era impressionante como tudo era do jeito que eu me lembrava. Já estava ali. Não ia me fazer mal se tomasse um banho e trocasse de roupa. Estar suja me agoniava. Deixei a roupa em cima da pia e observei o local. Vi uma toalha branca perto do box e alguns produtos estavam disponíveis para mim. Livre-me das minhas roupas cheias de cores e sujeira, entrando no box. Tomei um banho demorado, sentindo que depois que saísse dali, não teria nada para se fazer. Após um bom banho, vesti-me com as roupas novas e limpas. Caminhei até o espelho e penteei meu cabelo, deixando as madeixas longas sobre o branco. Era admirável ver como o tom avermelhado combinava com a cor parda da minha pele e meus olhos totalmente escuros. Olhando-me no espelho, lembrei de fazer aquela rotina anterior, vendo meu reflexo moreno e não ruivo.

- O bom filho a casa torna. - falei, triste.

Sai do banheiro e sentei no chão ao lado da porta. Não tinha ânimo ou força para poder fugir, mas me senti melhor só por estar perto da saída daquela cela. Suspirei e encostei minha cabeça na parede, fechando os olhos.

- Então, você saiu para dar um passeio...- escutei uma voz masculina falar.

Abri os olhos e olhei em volta, procurando pela pessoa.
- Só fui tomar um ar puro. - respondi, tentando ver de onde a voz vinha.

Escutei uma risada e percebi que a voz vinha de fora da cela.
- Percebi. É bom ver que alguém nesse lugar tem um pouco de senso de humor. - confessou ele.
- Por aqui, ninguém nunca conversa. Sempre foi assim. Os doutores não são de muito papo. É novo aqui? - perguntei.
- Fui transferido hoje. Estava em outro setor. Sabe aquele setor responsável pelo armamento?
- Sei. Eu testava as armas.
- Então, eu vim de lá. Lembro-me de você testando algumas coisas.
- Desculpe-me, mas não me lembro de você.
- Você só está ouvindo minha voz e não tivemos a oportunidade de conversar antes.
- São raras as pessoas com quem já falei nesse setor. E o que está fazendo aqui?
- No momento, olhando a parede cinza a minha frente. Fui designado a garantir que não saia daí ou tente. Sinto muito.
- Sem problemas. Eu já esperava por isso.
- Ei, guarda, não fale com ela! - advertiu-o uma terceira pessoa.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora