Capítulo VII: Viramos Criminosos e Ótimos Cirurgiãos

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- Vocês são criminosos! Eu sabia que não eram tão inocentes como diziam. - chegou Peter gritando.

Gê se levantou alarmado do chão. Aproximei-me do meu amigo. Peter se aproximou, furioso. Trazia consigo um papel e ao estar apenas um metro de distância de nós, empurrou a folha contra o peito do Gê. Antes da folha cair no chão, George pegou e arrumou de maneira que nós dois pudesse ler:

PROCURADOS!

Criminosos perigosos. Fugiram de um presidio de segurança máxima.
Recompensa: 5.000 $ por cada um.

E embaixo, havia uma foto minha e do Gê.
- Que foto horrível! Quinze anos e os melhores recursos para ter essas fotos perturbadoras? Estou ofendida. - comentei, indignada.
- Eu sabia que fariam isso, só não espera partirem para esse tipo de apelação. - exclamou meu amigo.
- Cinco mil dólares por nós? Para que tudo isso? - perguntei, surpresa.
- Precisam de uma boa quantia para que a população colabore. - respondeu ele.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou Esther, aparecendo pela porta.
- Seus amiguinhos são criminosos fugitivos! - exclamou Peter.
- Meia verdade! - gritei.- Fugitivos, sim. Criminosos, não.
- Calma, Peter. Expliquem com calma o que está causando essa confusão. - pediu Esther.

Dei-lhe o papel e esperei que ela lesse. Seus olhos arregalaram e se fixaram em mim.
- O que fizeram de tão grave? - interrogou ela.
- Apenas fugimos. - respondi e virei para o Gê: - Se realmente vamos ficar com eles, não vai dá para esconder isso.
- Tory, pense bem. Contar isso pode atrapalhar mais a situações. - retrucou George.
- Mas sem não contarmos, seremos acusados de criminosos. -contra-ataquei.
- Quer saber, eu vou ligar para a polícia agora mesmo. - afirmou Peter.
- Não! - gritamos juntos.
- Peter, calma, cara. - pediu Esther.
- Já cansei de ter calma com eles. Daqui a pouco seremos presos junto com eles por ajudá-los. - respondeu Peter.
- Esther, agradeço o voto de confiança. Olha, não somos criminosos. Eu juro. E não podemos voltar para o lugar que fugimos. Estaríamos em uma situação catastrófica. - comentei.
- Ninguém quer voltar para a cadeia, mas não vou arriscar nossa pele por dois desconhecidos. - argumentou Peter.
- De onde vocês vieram? - perguntou Esther.

Neguei com a cabeça, odiando ter quer falar aqui.
- Fugimos da A-51. - respondi.
- Ah, conta outra. O que? Vocês são et's agora? Vieram em missão de paz?- questionou Peter, irônico.
-Não seja idiota! Somos tão humanos quanto você...- retruquei, começando a ficar estressada.

George sentou e começou a contar:
- Sim. Viemos de lá e não somos et's. Vivíamos no setor H. Tory foi a primeira recrutada. Assim que descobriram que pessoas como a gente estavam nascendo, o Governo passou a caçar incansavelmente. Contudo, só me encontraram com quatro anos. Fui levado para esse setor e lá desenvolvemos nossas melhores habilidades, evoluindo nossos dons. É claro, sem contato algum com pessoas ou nossas famílias. Os únicos que víamos eram os doutores. Tudo que fazíamos era monitorado. Cada passo, batimento, atitude. Tudo era anotado, avaliado, questionada e arquivado. Tory treinava o dia todo, tendo que passar por uma bateria de exercícios físicos e exames diários. Eu treinei um pouco, porém recebia apostilas e livros para que lesse. Assim eles nos mantinham ocupados e via como agíamos.
- E por que faziam isso? - perguntou Esther.
- Acho que é por poder. Se tivessem controle sobre nós, não teriam tanto problemas quanto teriam se estivéssemos sozinhos no mundo. Então, teve o blecaute...- e assim, Gê contou exatamente nosso trajeto até chegarmos em New York.
- É uma história e tanto, mas difícil de acreditar. - comentou Esther.
- Impossível. - corrigiu Peter.
- Podemos mostrar. - afirmei.

Tirei o casaco e a faixa que estava em meu braço, mostrando a tatuagem feita em mim quando criança. George também mostrou a dele. Esther e Peter se aproximaram para ver.
- Realmente. Vocês estão dizendo a verdade. Não há como ter inventado tais coisas e vocês parecem diferentes das demais pessoas. Isso aconteceria caso estivessem vivido longe de uma civilização normal. - comentou ela.
- E também foram implantados chips para monitorar nossas emoções. - completei.
- Chips que não tiramos e que podem ser usados para nos rastrear. Tory! - chamou meu amigo, agora desesperado.
- Meu Deus, Gê. Como esquecemos de retirar esses chips?!- falei, pasma.
- Eu não sei. Foram horas muito agitadas. Precisamos tirá-los rápido.
- Claro. - e virei para Esther. - Tem algo afiado ou cortante?
- Para que? - perguntou ela, assustada.
- Temos um chip implantado não-sei-onde que precisava ser removido. - exclamei.

Peter colocou a mão no bolso da calça e tirou um objeto pequeno.
- Limpe-o depois de usar. - disse ele, colocando o objeto na minha mão.

Olhei com calma e vi uma lâmina. Puxei-a e vi que era uma espécie de faca.
- Gê, onde? - perguntei a ele.
- Não sei. Temos que achar um tipo de elevação, como se fosse um machucado. - explicou ele.

Onde eu teria esse machucado. Então lembrei do dia em que cai em um de meus treinos e havia machucado a perna. Os doutores disseram que teriam que trocar de lugar.
- Já sei. - confessei, erguendo a blusa.

Embaixo do meu umbigo, havia uma mancha escura. Toda vez que a via, afirmava ser apenas uma cicatriz de algum procedimento que não deu muito certo no laboratório. Gê pegou a faca da minha mão e disse:
- Certo. Será fácil. - murmurou ele.
- Só não me mata. - pedi, rindo.
- Você não está ajudando. - retrucou ele.

Então, vi a lâmina tremendo se aproximar do meu abdômen. Aquilo não ia acabar bem. Ele estava muito nervoso.
- Para! - gritei.
- O que foi? - brandou Gê, assustado.
- Se continuar assim, vai acertar tudo menos o chip. Dei-me a faca. Eu retiro. - afirmei.

George não disse uma palavra, parecendo decepcionado. Ativei o símbolo, ciente de que a partir daquele momento, eu não sentiria mais dor. Com cuidado e usando apenas a ponta da lâmina, risquei na minha pele. O sangue vermelho apareceu timidamente pela abertura. Coloquei a faca na mão de Gê e passei a procurar o chip com as pontas dos dedos. Devido ao sangue, a visibilidade do local era complicado. Não demorei a achar a pequena peça de metal. Uma luz azul piscava uniforme, denunciando seu bom funcionamento.

Olhei para cima e vi todos espantados. Esther foi a primeira a reagir e me entregou uma caixa de lenços e uma fita.
- Use-os para fazer um curativo. Eu não sabia que iam fazer isso, se não teria pego medicamentos. - comentou ela.
- Sem problemas. Isso já é o suficiente. - falei.

Improvisei o curativo e olhei para o Gê.
- Sei que não vai ter coragem de fazer isso. É só mostrar o local.- afirmei.
- Sempre soube que era um chip, porém isso não pareceu motivo suficiente para eles o mudarem de lugar. - comentou ele, tirando o casaco.

E ali estava, perto do ombro. Segurei firme a lâmina e disse:
- Isso vai doer, mas não se mexa. - pedi.

George concordou e fechou os olhos. Não foi difícil, mas julgar pela lágrima de meu amigo, a dor deveria ser complicada de se controlar.
- Pronto. - afirmei, após fazer um curativo.
- É nessas horas que eu tenho vontade de ter o seu dom e não sentir dor. - comentou ele.

Bati no seu braço bom.
- Não se preocupe. Não vai morrer hoje. - brinquei.
- Ainda não tenho certeza disso. - confessou ele, avaliando o curativo.
- Preciso me lavar. - afirmei, mostrando as mãos sujas para Esther e Peter.
- Última porta do corredor. - disse Peter, apontando para a porta.

Assenti e segui na direção orientada. Ao chegar no banheiro velho, lavei as mãos e a faca. Aproveitei para jogar uma água no rosto. Sequei a lâmina na calça e voltei para o cômodo que estavam todos.
- Antes dessa confusão toda, eu havia decidido que um bom lanche nos faria bem. Então comprei algumas coisas. - disse Esther, mexendo em algumas sacolas que estavam no chão.
- Onde arrumou dinheiro? - perguntou Peter, avaliando o conteúdo das sacolas.
- Arrumei algumas motos de uns caras da lanchonete da esquina e em troca, deram-me dinheiro. - respondeu ela.
- Hum. - concordou ele.
- Vamos comer antes que mais alguma coisa inacreditável aconteça. Eu preparo os lanches. Alguém acorde a Courtney, por favor. - pediu ela.

Peter ainda nos olhava desconfiado, porém foi ajudar Esther, montando uma mesa improvisada. Como os dois estavam ocupados, decidi que poderia acordar a menina. Logo estávamos todos reunidos para comer. Não era minha refeição balanceada, mas estava tão bom que não me lamentei. Era compreensível aquela fome. Fazia três horas que George e eu não comíamos nada. Notei isso ao olhar o relógio do Peter. Por mais incrível que pareça, todos aqueles acontecimentos haviam demorado a acontecer.

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