Capítulo LII: Fria como a neve.

25 3 0
                                    

Esther acordou assustada naquela manhã. Sentou-se em sua cama e olhou para horizonte, colocando seu cérebro para funcionar. Foi então que lembrou que sua amiga, Tory estava de volta em casa. Porém, também relembrou do acontecimento daquela noite, no qual o diretor da tal Área-51 havia morrido. Ela ainda não acreditava nas imagens que tinha visto. É claro que a Tory estava muito zangada, mas jamais imaginou que chegaria naquele ponto. Lembrou-se que ontem a noite, quando a Tory ordenou que subissem, assim que estavam no terceiro andar, cada um se dirigiu ao seu respectivo quarto, incrédulos e assustados.

Com movimentos lentos, Esther olhou na direção da cama da Tory e teve a mesma visão dos últimos meses: a cama vazia e arrumada. Ela franziu a testa, estranhando sua amiga não ter subido para dormir.
- Será que dormiu lá embaixo?- questionou-se ela.

Mesmo estando de pijamas e descalça, ela saiu do quarto, sentindo um frio na barriga. Ela voltaria para fazer sua higiene pessoal assim que visse Tory em casa, em segurança ali. Enquanto descia as escadas, também lembrou da chuva durante a noite. Tinha sido intensa e longa. Deitada em sua cama, no escuro e sobre uma leve sonolência, Esther recordava ter ouvido os pingos bater com força na janela, fazendo-a se encolher na cama. Foi então depois de poucos minutos conseguiu dormir profundamente.

Esther desceu já observando o cômodo por completo. Como era cedo demais, pretendia guiar Tory para o quarto assim que a encontrasse. Olhou rapidamente para o sofá e não vi nada de estranho. Caminhou até a cozinha e nenhum sinal de que a Tory teria passado por ali. Então, voltou a sala, confusa. Respirando fundo, ela notou que o tapete central havia sumido e temendo o pior, decidiu que não queria saber o destino da peça. Não importava. Olhou em direção a escada, pensando se sua amiga poderia ter passado a noite junto com Anelise, já que a menina não estava tão bem. Estava prestes a subir novamente quando reparou uma luz diferente iluminando a sala. Olhou na direção do fecho de luz e reparou que a porta estava semiaberta. Com a sensação de seu coração batendo na garganta, Esther correu para fora.

- Não. Ela não pode ter partido de novo. Não pode!- disse consigo mesma, parando na varanda.

Por alguns segundos, olhou para o horizonte, mas não viu nada de estranho ou diferente. Então, desceu os pequenos degraus e seguiu alguns passos para frente, sem saber o que fazer. Como explicaria a todos que a Tory havia partido novamente?

Quando estava prestes a entrar em pânico, ela olhou para o lado e viu um corpo caído perto do jardim. Não pensou duas vezes antes de correr até ele. Sua respiração ficou trancada dentro de si e seu coração parou ao ver que o corpo era na verdade a Tory. Primeiramente, observou a situação, vendo sua amiga de bruços na grama. Como estava tremendo, ela ajoelhou-se devagar ao lado da Tory e segurou em seu ombro. Na hora, parecia que tinha levado um choque. As roupas da garota estavam ensopadas e frias. Mesmo assim, não tirou a mão de sua amiga. Sacudiu-a algumas vezes:
- To-tory! O que houve? Por que está aqui?- perguntou, sentindo sua voz falhar.

No entanto, a garota nem se moveu. Assustada, Esther decidiu desvirá-la e tentar acordá-la novamente. Ao ver o estado que Tory se encontrava, ela paralisou por um tempo. Além de estar fria, a garota também estava pálida como a neve; seus lábios também apresentavam uma coloração azulada. Por alguns segundos, pensou o pior e seus olhos se encheram de lágrimas. Aquilo definitivamente não podia estar acontecendo! Antes de tirar conclusões precipitadas, Esther pegou no punho de Tory e aquietou o próprio coração, na esperança de ouvir fortes batimentos cardíacos, porém o que encontrou foi diferente. Se a garota não se concentrasse o suficiente, mal ouvia os batimentos de Tory. Depois observou a respiração e percebeu que a mesma se igualava a frequência cardíaca, ambos lentos e profundos; como se cada um fosse o último. Esther tinha que fazer algo. Ela sabia que nenhum ser humano conseguiria sobreviver naquelas condições.

A garota se levantou e correu de volta para casa, com a intenção de pedir ajuda e socorrer sua amiga inconsciente. Mesmo correndo aos tropeços e quase caindo às vezes, Esther não parou ou reduziu a velocidade. Chegou no terceiro andar ofegante e sentindo uma moleza em suas pernas. Porém, mesmo naquele estado, ela correu na direção do quarto dos meninos e abriu a porta bruscamente. Peter pulou da cama com o barulho, Gê apenas abriu os olhos e Charles se remexeu debaixo das cobertas.

- A Tory... Tem algo...de errado... Ela precisa de... ajuda. - disse a garota, tentando lutar com a própria respiração.

Aquilo pareceu despertar Gê que saiu da cama rapidamente. Tanto Peter quanto Gê seguiram Esther que caminhou até um armário e pegou uma grossa coberta. Os três desceram as escadas, correndo. No caminho, Peter perguntou:
- O que aconteceu, Esther?
- Também gostaria de saber. - respondeu ela. - Eu só a encontrei.

Aquela não foi algo esclarecedor para os dois, mas mesmo assim, não insistiram. Assim que o trio saiu da casa, Esther indicou a direção e eles olharam.
- Ela está muito fria. Precisamos...- Esther não conseguiu terminar sua frase.

Gê foi o primeiro a se mover. Mal estava pensando. Seu coração estava batendo forte. Ele não gostava nada daquilo; não gostava principalmente do que via. Ele abaixou rapidamente e pegou Tory do chão. Mesmo sem grandes explicações no caminho, ele entendeu porque Esther estava tão desesperada. Tory estava tão fria que parecia até um cadáver. Contudo, o jovem notou sua respiração e avaliou a situação. Como a temperatura estava tão baixa, ele colocou a testa da Tory em seu pescoço e circulou seu corpo com os braços, querendo da melhor maneira aquecê-la. Esther chegou segundos depois, juntamente com Peter. Ela se apressou e jogou a coberta em volta do corpo da garota, cobrindo Gê juntamente.

- Precisamos esquentá-la. - falou ela, arrumando a coberta.

Gê levantou o olhar e percebeu que Peter fitava Tory, assim como ele, procurando sinais vitais. Não demorou para que achasse, porém mesmo depois de ver sua respiração, ele mal tirava os olhos dela. O que mais doía era ver que os três ali estavam compartilhando o mesmo sentimento: preocupação e medo. Só queriam a Tory bem novamente. Era isso que pediam a cada batimentos do coração.

Assim que adentraram na casa, Gê se sentiu um pouco desnorteado. Por sorte, Esther já começara a pensar no que fazer.

- Gê, vamos levar a Tory para cima. Peter, fique aqui e ligue para o doutor. Peça-o para vim o mais rápido possível. É uma emergência. - disse ela, voltando a subir as escadas.

Ambos concordaram com a cabeça e fizeram o que foi pedido. Mesmo sendo cedo, aquele dia já havia começado de um jeito agitado.

Os Doze Dons Do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora