Capítulo XXIII: Namastê, Buda!

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Subimos os degraus do templo em completo silêncio. Eu ia na frente, preparada para protegê-los. Contudo, eu tinha uma sensação de paz pelo simples fato de estar ali. Por um breve momento, imaginei viver em um lugar como aquele. Afastado das grandes e barulhentas cidades; teríamos um ótimo convivo com a natureza e acho que faria muito bem as crianças. Eu tinha certeza que eles teriam que trabalhar em parcerias para deixar aquele em um estado adequado de uso.

- Sejam bem vindos, crianças. - disse um homem.

Levantei o olhar para vê-lo. Era um senhor, provavelmente, da altura de Gê. Não possuía cabelos e sua roupa alaranjada era bem distinta das outras que eu já tinha visto. Era uma espécie de túnica e percorri todo seu corpo. As pequenas rugas em seus olhos denunciava sua idade, mas seu sorriso contagiante parecia lhe rejuvenescer bons anos.

- Olá, senhor. Lamento incomodar, mas procuramos por uma pessoa. - anunciei, colocando as mãos nos bolsos da minha calça.
- Entrem, por favor. Forasteiros são bem vindos e vamos ajudar no que precisam. - confirmou ele.

Assenti e olhei para os meus amigos, confirmando com a cabeça. Como não tínhamos muitas opções, seguiríamos aquele senhor, mas isso não queria dizer que eu confiava nele. Só estava preparada para o que viesse.

O senhor entrou para dentro templo e eu o segui.
- Fiquem juntos. - pedi a eles.
- O templo é grande, mas não há risco de se perderem. - comentou ele, tranquilo.
- Não é bem com isso que estou preocupada. - deixei escapar.
- Faz bem zelar pela segurança deles, mas estão seguros aqui dentro. Somos todos monges e nosso principal dever é ajudar aqueles que precisam. - confirmou ele, entrando em uma sala.

Seguimos ele, desconfiados. Acomodamos em almofadas espalhadas no chão. Um jovem apareceu em seguida e o ancião conversou baixinho com ele. Ele logo assentiu e saiu.

- Então, minha cara, conte-me sua história. - pediu ele.

Olhei para ele por alguns minutos e pensei. Ele não parecia que ia nos machucar ou ligar para a A-51 imediatamente. Parecia que ia realmente nos ajudar. Então, relaxei os ombros e comecei a contar toda a história. Desde o momento que fugimos da Areá-51 até nossa longa caminhada em direção ao templo. Ele nos deu sua total atenção, ouvindo cada palavra minha e assentindo ao final de cada frase, anunciando que entendia pelo que passávamos.

- E por quem exatamente procuram? - perguntou ele.
- Esse é nosso pequeno problema. Não sabemos como é a pessoa. Não nos falam nome ou mostra a aparência. Só sabemos que a pessoa que procuramos terá um símbolo no antebraço, assim como o meu. - falei, mostrando minha marca tatuada.
- E todos nasceram com isso? - questionou ele.

Todos nós assentimos.
- E estão juntos por apenas dias. Confiam uns nos outros? - continuou ele, olhando diretamente para mim.
- Sim. Estamos atravessando o mundo e salvando todos nossos irmãos. Todos estranhamente parecem estar em alguns problemas e vamos ajudá-los; vamos com o auxílio. Somos uma família e ficamos melhores juntos. Todos aqui estão prontos para defender o grupo inteiro. - anunciei, séria.

Ele sorriu com a resposta e se levantou, dizendo:
- Quero falar a sós com a pessoa responsável pelo grupo. - e saiu.

Respirei fundo e vi todos olharem para Peter e o mesmo assenti para mim. Não quis dizer nada. Apenas levantei e fui atrás do monge. Encontrei ele com uma tesoura, podando uma árvore pequena.

- Sei exatamente por quem procura, Senhorita Tory. - confessou ele.
- Pode nos informar onde mora? - pedi.
- Posso promover um encontro entre vocês no jantar. A Lindsey veio morar conosco muito pequena, assim que sua mãe morreu. Nenhum parente a quis, então a população local a entregou ao templo. Aceitamos e a criamos como uma de nós. Eu sabia que o mundo precisaria dela; que era especial. Finalmente, vocês chegaram e tenho certeza que ela estará segura seguindo em seu grupo. No entanto, minha cara, ainda te acho muito jovem para comandar um grupo tão grande. Não é muito peso em suas costas? - interrogou ele.
- Por mais que pareça que estou sozinha , senhor...
- Kim. Pode me chamar de Kim.
-...Senhor Kim, não estou. Meus amigos estão comigo para tomar as decisões mais difíceis. Somos quatro e pensamos o melhor para todos que estão naquela sala. - confirmei.
- Quatro grandes pilares. Gosto do modo que falam um dos outros e se a Lindsey aceitar seguir com vocês, ajudaremos no preparativo para a partida de vocês pela manhã. Mas, e se ela não quiser?
- Ela é livre para escolher. Não obrigamos nem nada parecido. Não é um caminho fácil e pode haver riscos e perigosos. Se decidir vir conosco, ficaremos felizes. Porém se quiser ficar, partiremos de qualquer jeito. Nosso próximo irmão pode estar passando por dificuldades e precisando de nós.
- Entendo. Já pedi aos outros monges para que arrumasse um quarto grande suficiente para acomodar todos perfeitamente e o jantar será servido assim que o sol for repousar.
- Muito obrigado.

Ele assentiu e decidimos voltar para sala, onde contei a programação da noite. Não demorou muito até que um outro monge veio nos levar para o quarto onde ficaríamos. Tudo naquela noite passou passou rápido, até mesmo a melhor parte: o jantar. A comida estava ótima e o lugar, aconchegante. Na mesa, sentou-se todos os signos, o Monge Kim e Lindsey. Após todos comerem, ele pediu para que eu contasse a história novamente e esclarecesse nosso propósito a jovem garota. Por mais que vivesse entre monges chineses, Lindsey tinha traços estrangeiros. Ela possuía um rosto fino e claro. Também tinha várias pintas marrons em baixo de seus olhos, como sardas. Seus cabelos eram totalmente pretos e lisos. Assim como suas pintas, seus grandes olhos eram marrons como a terra.

Senhor Kim anunciou que seria melhor nós ir descansar, já que fazíamos longas viagens e amanhã cedo partiríamos. Lindsey se assustou com isso, pois segundos atrás parecia animada ao ouvir que nós signos havíamos viajando por muitos lugares, como uma bolinha de ping pong. Meus amigos começaram a sair e eu aguardei, esperando que todos saísse em segurança e ajudaria se algo desse errado. Assim que ficou apenas eu e Lindsey na sala, ela caminhou até mim.
- Pensarei em tudo que disse, mas não tenho certeza do que fazer. - falou ela.

Sorri e assenti.
- Siga o seu coração. É o que eu estou fazendo. - aconselhei, saindo da sala.

Segui até o quarto que nos hospedaram e me deparei com todos me olhando, esperançosos. Sentei na minha cama, que era na verdade algumas mantas dobradas e colocadas em cima de um suporte de madeira, e relaxei. Esther se sentou ao meu lado e suspirou.

- Ela não virá, não é? - perguntou ela.
- Tenho quase certeza que não. Ela não passa dificuldades aqui. Vive bem e entre pessoas queridas. Não é como os outros casos. Não a ajudamos ou salvamos sua vida. Só atrapalhamos. - confessei.
- Mesmo assim, precisamos continuar. Que tal já decidimos nosso próximo destino? - propôs Gê.

Todos concordaram e logo fecharam os olhos. Como eu já tinha guiado rumo a um signo, sabia que a visão não seria destinada a mim. Então, permaneci de olhos abertos e observando todos. Aos poucos todos foram abrindo os olhos e Gê foi o último. Ele apenas assentiu.

- Venezuela. - foi a única coisa que disse.
- Parece ser um bom lugar para finalizarmos nossa longa busca. Fica longe daqui? - perguntei a ele.
- Do outro lado do mundo. Mais precisamente, na América do Sul. - respondeu ele.
- Então, vamos descansar, pois essa viagem será realmente longa. - confirmei, deitando-me.
- Tory, e depois? Para onde vamos? - perguntou Leon, parecendo Preocupado.
- Eu ainda não sei, mas fique tranquilo. Nunca mais vamos passar necessidade. Temos um aos outros e vamos dar um jeito na situação. - confirmei, com uma voz tranquilizadora.
- Tudo bem. - murmurou ele e fechou os olhos.

Eu também gostaria de saber para onde iriamos depois de acharmos o último, mas sabia que estaria sendo precipitada se perguntasse a Kayra sobre. Então, eu permaneceria com a duvida até o momento certo de perguntar. Foi no meio desses pensamentos que adormeci, cansada demais para continuar acordada.

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