LXI: O fim ou o começo de tudo?

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A primeira coisa que notei assim que tomei a consciência foi o silêncio. Mesmo de olhos fechados, eu sabia que estava em um lugar claro e silencioso. Se eu estivesse em casa, deveria estar escuta pelo menos o som das ondas. Era um lugar fresco e tinha cheiro forte de remédios e desinfetantes. Também não estava na A-51. Aqueles cheiros não eram familiares.

Abrir os olhos naquele momento pareceu algo difícil de se fazer. Porém, eu não tinha escolha. No primeiro instante, a claridade me atrapalhou e tive que olhar na direção dos meus pés, esperando meus olhos se acostumarem. Demorou alguns minutos até eu perceber que estava em um quarto de hospital. Tinha várias máquinas a minha volta e um soro no meu braço. Tirei a máscara de oxigênio do meu rosto e sentei, olhando em volta. Retirei também um aparelho que estava no meu dedo indicador e olhei para o meu braço. Só por ter um soro ligado ao meu braço, eu sentia uma dor incômoda por estar com minha marca desativada. Já havia assistido vários filmes em que a pessoa tira aquela agulha como se não doesse, mas na vida real, fazer aquilo doía bastante. Respirei fundo e comecei a tirar o esparadrapo que segurava a agulha. Demorou longos minutos, mas consegui tirar tudo com cuidado e coloquei o esparadrapo no local para evitar o sangramento.

Depois, com calma, sai da cama. Era óbvio que eu não ficaria ali. Tinha que encontrar minha família. Eu queria dizer que estava tudo bem; eu estava bem. Procurei por todo o quarto minhas roupas já que aquela camisola do hospital era desconfortável, já que eu só vestia ela. Nada além daquilo. Porém, não encontrei. Teria que arrumar outras roupas, então. Como disfarce, peguei o suporte do soro e a agulha, colando-a por cima da pele com o esparadrapo. Saí do quarto, empurrando o suporte com soro e passei a andar pelos corredores. Eu não sabia que horário era, mas surpreendi-me ao ver a grande movimentação de pessoas.

Estava procurando algum lugar que pudesse me ajudar, quando uma enfermeira parou na minha frente. Foi naquela hora que meu coração acelerou. Eu não sabia o que fazer se fosse pega ali. Tinha quase certeza de que eles não me deixariam sair tranquilamente. Afinal, se estava ali, em um ambiente hospitalar, algo de sério tinha acontecido comigo.

- O que está fazendo fora do seu quarto? O médico te recomendou sair da cama? - interrogou ela.
- É... Sim, o doutor me disse que só vou ser liberada se andar um pouco... Por conta da cirurgia que fiz. - menti, falando qualquer coisa coerente que viesse na minha mente.
- Entendo. Foi cirurgia de apêndice? Está andando para liberar os gases?
- Exatamente. É por isso que estou andando.
- Certo. Ande apenas por esse andar e se sentir algo, pode ir na enfermaria no final do corredor, última porta a esquerda.
- O-obrigada.

Eu senti que ia morrer naquela hora. Só depois de se afastar uns cinco metros foi que respirei melhor. Enfermaria? Será que eu poderia conseguir algo ali? Continuei com meu disfarce de paciente andarilha até passar na frente na enfermaria. Para a minha sorte, a enfermaria estava quase vazia, contendo apenas um enfermeiro. Como eu iria tirar ele dali? Eu precisava estar ali sozinha. Eu poderia fingir passar mal, mas isso chamaria muito a atenção. Eu poderia pedir para repor meu soro, mas ainda estava pela metade. Eu tive uma ideia: falaria que um paciente está o chamando. Ele teria que ir lá ver.

Foi quando tomei coragem para falar, o enfermeiro passou calmamente por mim, saindo da sala. Olhei a situação, achando estranho aquilo, mas ri. Talvez o universo estava ao meu lado. Assim que estava em uma distância segura, entrei na sala, procurando qualquer coisa útil. Para minha sorte, achei um jaleco pendurado em uma cadeira. Livrei-me do soro e vesti o jaleco, fechando todos os botões. Procurei em cima das bancadas e achei luvas e uma máscara. Coloquei-as e sai da sala, apressada. Estava torcendo para não ser pega e sair de lá em segurança. Fui para o elevador e apertei o botão "térreo". Enquanto caminhava pelo térreo, recebi olhares confusos, mas ninguém me parou. Saí pela entrada de ambulância que dava para uma rua deserta. Olhei feliz para o chão, vendo ser de terra batida. Agora eu só precisava de um transporte. Olhei para o horizonte, chamando mentalmente meu touro amigo. Eu torcia para que ele não demorasse. Se uma ambulância viesse, eu estaria com sérios problemas. Fechei os olhos, respirando fundo. Eu sentia que aquela cheiro forte que o hospital expelia estava grudado em cada célula do meu corpo e eu precisaria de pelo menos uns seis banhos para me sentir melhor.

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