Capítulo 2 - A chegada

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No primeiro mês da faculdade eu e Agnes tivemos muita dificuldade em acompanhar todo mundo, e também tivemos muitos problemas de adaptação com a cidade, pois tudo fechava após as 17h. Menos o bar. O bar que não tinha nome, e apelidado carinhosamente de "bar do Moe" por causa dos Simpsons.

Mas, conforme os meses passaram, as difuldades foram diminuindo, e dormir cedo agora era uma lei na nossa casa. No começo, todos os finais de semana recebíamos a visita dos nossos pais, e depois de um tempo, essas visitas se tornaram menos constantes, a medida que foram confiando que ali era um lugar e seguro, e que nós éramos capazes de nos manter sozinhas. Estranhamente, tudo estava perfeitamente encaminhado. Eu tinha um novo emprego na floricultura do centro, e Agnes continuava se estressando com o dela dentro de casa, e às vezes, tínhamos que sair e beber um pouco de cerveja, a melhor cerveja do mundo feita pelo Giovane, dono do bar.

No mais, nada de muito relevante aconteceu nos três primeiros meses que ficamos por lá. Até a campainha tocar na manhã do sábado.

Me virei na cama, acreditando que era só um sonho aquele barulho infernal, e que ninguém era louco de acordar tão cedo pra bater na porta dos outros num sábado. Mas o barulho continuou. Uma hora, desistiu da campainha e começou a bater na porta insistentemente.
Agnes nunca iria acordar, pois o sono era tão denso, que eu temia pelos futuros filhos delas, que provavelmente chorariam a noite inteira de fome.

Então, me obriguei a levantar e me enrolar no roupão de seda branco. Caminhei até a porta, grunhido, pronta pra arrancar a cabeça da pessoa deplorável que tinha arruinado meu sonho perfeito com o Henry Cavil. Destranquei a porta, girei a maçaneta e abri com força, a pessoa ainda continuava batendo quando abri.

— Mas que merda?! — falei, antes de olhar pra figura na porta.

Porém, ao olhar, paralisei. Era o Alissom, em carne, osso e barba. Bem,  agora ele tinha barba, estava mais magro e um pouco mais alto.
Nunca reparei em como ele era alto, talvez porque sempre que eu estava em um cômodo, ele fazia questão de desaparecer. Nunca deu pra reparar em muita coisa. E também, quando ele partiu, eu tinha 14 anos, e ele 17, então era de se esperar que eu não soubesse que a cara dele pudesse ter pelos.

Alissom também ficou me encarando, e os dois ficaram alguns segundos inertes reparando um no outro sem querer. Pelo menos eu achava que ele estava reparando, pois olhava com curiosidade o meu rosto e meu cabelo, que antes era muito comprido, e agora estava acima dos ombros.

Ficamos assim na porta, em silêncio, e não parecia nada estranho, parecia certo, como uma conferida no que cinco anos podiam fazer com uma pessoa. Tirar as espinhas do rosto, encolher a pochete, fazer o cabelo crescer ou diminuir. Crescer e ficar mais bonito. Porque ele estava sim, muito bonito.

— Espero que eu não tenha te acordado. — disse ele, depois de um tempo. A voz estava mais grave, mais madura. Combinava com ele.

— Não acordou. — menti, e nem sabia o porquê.

Ficamos em silêncio novamente. Uma lufada de ar fez o cheiro do perfume dele fazer cócegas no meu nariz, finalmente ele tinha trocado aquela porcaria de fragrância que eu detestava. O novo perfume era agradável, parecia caro.

— Posso entrar? — perguntou ele, me despertando do transe.

— Claro, por favor. — dei passagem, o ajudando com uma bolsa no chão.
Reparei que ele usava uma mochila grande nas costas, provavelmente tinha vindo para além de uma visita de um dia.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora