O irmão da minha melhor amiga

Melhor mãe

— Kate, onde você vai? — Alissom disse, assim que me viu.

— Vou procurar a minha mãe pra ver se ela tira essa garota daqui.

Ele sorriu, caminhando até mim e me abraçando por trás.

— O que o ciúmes não faz, né?

— Eu preciso ir, Alissom. — falei, enquanto ele colou seu corpo no meu, me forçando a ficar contra a parede.

— Eu não estou te segurando. — ele sorriu novamente.

Deus, eu não iria aguentar!

— Ah, você está aí Alissom! Que bom que eu te encontrei, preciso da sua ajuda. — Vitória apareceu, estragando todo o clima.

— Ajudar no quê? — Alissom parecia bravo.

— A pegar algumas coisas que estão em cima do armário e eu não alcanço. Pode fazer isso pra mim, gatinho? — ela mordeu os lábios.

— Kate, não saia daqui. — ele sussurrou.

Mas não iria poder ficar, não vendo a cena dos dois juntos dentro de um quarto!

Peguei um taxi e fui para a confeitaria onde provavelmente minha mãe estaria. Quando cheguei, encontrei ela  com aquela touca rosa na cabeça, enchendo um bolo de glacê.

— Mãe? — chamei.

— Oh, Kate! Espera só um minuto, já estou terminando esse bolo aqui.

— Tudo bem, sem pressa.

Depois de uns dez minutos ela veio ao meu encontro, e nós começamos uma conversa séria, que acabou se tornando uma discussão. Como sempre.

— Isso é tudo culpa desse menino! Ele fica enchendo a sua cabeça de sonhos.

— E sonhos são ruins, mãe? Pelo amor de Deus! Qual é o seu problema com a minha felicidade?

— O problema é que você quer a sua felicidade longe de mim!

O quê?

— Como assim?

— Até parece que você não sabe. Você tem 18 anos e já quis se livrar de mim e do seu pai, quis morar sozinha.

— Eu quis morar sozinha porque aquela casa é um inferno! Eu sou totalmente esquecida lá dentro, ninguém senta pra conversar comigo sobre nada. Nem quando eu fui traída você foi lá conversar comigo, ver se eu estava bem!

— É porque eu estava trabalhando, não tenho tempo pra ficar vendo drama adolescente.

— Você não tem tempo pra nada, mãe! Você só trabalha, trabalha e trabalha. Eu sei que você vai falar agora o mesmo discurso de que quer dar o melhor pra nós, mas isso não justifica o fato de você ser ausente na nossa vida! — gritei.

— Eu não sou ausente na vida de vocês...

— Ah, não? Então qual foi a primeira coisa que você fez quando viu que eu estava gostando do Alissom? Me colocou dentro de um colégio interno! Não sentou pra conversar comigo, não me explicou nada, simplesmente passou por cima de tudo o que eu sentia e me trancou lá.

— Eu estava querendo o melhor pra você, Kate. — seus olhos se encheram de água.

— Mãe, você não pode me proteger de tudo. Eu tenho que quebrar a minha cara algumas vezes pra entender os meus limites. Eu não sou mais criança, então para de me tratar como uma.

— Quando você for mãe, vai entender que...

— Eu já sou mãe. — a interrompi — E eu ainda não entendo como uma mãe pode passar por cima dos sentimentos de um filho.

— Ah, você é mãe? Pelo amor de Deus, que piada! Você tem dezoito anos, Kate, e aquela garota é prima do Alissom, não é filha. E você nem namorada dele é. — ele cruzou os braços.

Nada seria resolvido com ela, era fato, mas eu queria falar, eu precisava falar. Estava guardado há anos.

— Bom, a senhora ficaria surpresa de que, mesmo tendo dezoito anos, eu sou uma mãe melhor do que você. — cuspi,  com raiva.

— Eu... — ela ficou sem palavras — O que você quer?

— Quero que tire aquela garota da minha casa e que pare de perseguir o Alissom e a Duda.

— A casa não é sua.

— Não me importa, mãe. Você que colocou ela lá dentro, tire-a.

— Eu disse pra você que ela era o orgulho dos pais por causa da bolsa que havia conseguido, mas você contribuiu para ela ser expulsa, Kate. Agora ela não tem mais bolsa de estudos, e os pais não querem mais saber dela. A maior idade nem sempre é uma coisa boa.

Tá de sacanagem com a minha cara! Eu não poderia acreditar que as pessoas chegavam a esse ponto.

— Que ótimo, agora eu estou com pena dela. — resmunguei.

— Bom, o problema é todo seu. Se quiser tirar ela de lá, a culpa vai recair sobre seus ombros. Eu lavo as minhas mãos!

— Que grande novidade, mãe. — bufei, saindo de lá.

Nada com a minha mãe era fácil.