Voltei, mundo!

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A casa estava uma completa e exagerada ordem, parecia que os sete anões da branca de neve haviam vindo só pra me ajudar. O cheiro da comida que estava vindo da cozinha aguçou meus sentidos. Finalmente. Lar, doce lar.

Passei pela sala, tomando cuidado com qualquer tipo de barulho que eu pudesse emitir, sem sucesso, pois derrubei os brinquedos da Duda. Alissom correu desesperado, estava com a sobrancelha branca, provavelmente, por causa da farinha, e carregava Duda em seu braço esquerdo.

Assim que colocou os olhos em mim largou Duda no carrinho e me abraçou tão forte quanto pôde.

- Não acredito que você conseguiu ser expulsa. - ele colocou seus olhos nos meus.

- Nunca duvide de uma Almeida. - falei, colocando as mãos em seu rosto.

- Nunca duvidei! - ele sorriu.

Aquele momento seria perfeito, se eu não tivesse trazido comigo uma bola loira que estava na portaria.

- É, mas eu trouxe um castigo junto comigo. Consegui ser expulsa, só que minha mãe não aceita ser derrotada, então mandou a menina que me ajudou a ser expulsa pra morar comigo. - expliquei.

- E isso é ruim?

- Ah, só se você considerar o fato de que eu bati nela. Por isso fui expulsa.

- Sério? - ele arqueou a sobrancelha - E ela é bonita? - odiava quando ele fazia isso pra me provocar.

- Sim, ela é bonita. - falei, subindo as escadas até o meu quarto.

- Kate, eu estou brincando, você sabe.

- Na verdade, eu não gosto quando você faz isso. - voltei alguns degraus para ficar de frente com ele - Ciúmes não é um sentimento bom, e eu não gosto.

- Por que você teria ciúmes? - ele cruzou os braços.

- Como eu vou te explicar? - olhei para cima por um segundo, não iria chorar por uma coisa idiota - Quando a gente encontra alguém que vale a pena, sentimos medo de perder a pessoa, daí vem o ciúmes. Não é fofo, não é bonitinho, é irritante e dói. Não faça mais isso.

- Então eu valho a pena? Quer dizer que você arrisca...

- Darling, abre a porta! - Vitória o interrompeu, do outro lado da porta.

- Deus me dê paciência. - revirei os olhos.

- Vai se trocar, pode deixar que eu cuido disso. - ele disse, me deu um beijo na testa.

Fiquei escondida entre as grades da escada, para ver o que ia acontecer. Assim que ele abriu a porta, Vitória enrolou o cabelo no dedo e tirou o óculos escuro.

- Uau, eu morri e vim pro céu? - pude ouvir ela dizer.

- Se não morreu, pode deixar que eu te mato. - sussurrei para mim mesma.

- Você deve ser a... - Alissom começou

- Arlinda! - ela o interrompeu - Mas, pode me chamar de linda, porque o ar eu perdi quando te vi. - a loira disse, estendendo sua mão para ele.

- Meu Deus, eu vou arrancar o aplique dessa garota! - sussurrei, novamente.

Eu já sabia que isso ia acontecer, era tão óbvio! Um menino como Alissom, que era realmente de tirar o fôlego, com uma menina como a Vitória, com certeza ficariam juntos. E o pior é que por mais que eu quisesse ir lá e dizer: esse garoto é meu, vá procurar outro. Eu não podia, pois ele não era meu, pois beijos não davam direitos para ninguém.

- Tudo bem, Arlinda, eu sou Alissom. Ali é a cozinha, lá a sala e lá em cima os quartos. O banheiro é por ali, se precisar de algo, eu estou fazendo o almoço. - ele saiu.

Pude ver a vasta imagem daquela menina mordendo os lábios enquanto Alissom caminhava até a cozinha, isso ferveu meu sangue, queria arrancar a língua daquela patricinha ridícula, para nunca correr o risco dela enfiá-la na boca dele, mas não podia fazer isso. Infelizmente, era crime.

Vitória começou a subir as escadas, corri para o quarto, fechei a porta sem fazer barulho. Por alguns segundos, ele estava exatamente do jeito que eu havia deixado, exceto pelo fato de que a cama estava bagunçada.

Haviam dois travesseiros na cama, um não era meu. O cheiro do segundo travesseiro entregava seu dono, era de Alissom, mas por que ele estava dormindo na minha cama?

Desci as escadas, entrei na cozinha.

- Dormiu na minha cama? - perguntei.

- Talvez.

- Por quê?

- Sentia sua falta, não conseguia dormir, até que o perfume no seu travesseiro me deu algum alívio. Fiz mal? - ele me olhou.

- Sentiu minha falta? - perguntei.

- Kate, o que mais eu tenho que fazer pra provar, que eu realmente gosto de você? - ele ficou sério.

Eu sabia que ele gostava de mim, o problema é que eu amava ele. Talvez ele não soubesse disso, mas eu sabia que gostar não era um sentimento tão forte quanto amar, sabia muito bem que o que eu sentia, não era fraco.

Gostar, não era a palavra que eu queria ouvir dele. Definitivamente, não era.

- Kate, onde você guarda as roupas de cama? - a loira apareceu.

- Na prateleira de cima. - respondi.

- Ah, você pode me ajudar? - ela tocou o braço de Alissom - É que fica muito alto, sabe?

- Eu estou ocupado agora. A Kate pode te ajudar, não é? - ele olhou para mim.

- Posso. - sorri.

Subi as escadas e peguei a roupa de cama, e Vitória se deitou na cama dele.

- Ele é solteiro? - ela perguntou.

- Não sei.

- Como não sabe? Ele é seu irmão, não é?

- O quê? Não! Ele não é meu irmão. - esbravejei.

- Ah, então é seu colega de apartamento.

- É, tanto faz.

Saí do quarto, Alissom estava na porta.

- Tanto faz, Kate? - ele pareceu magoado.

- Eu não quis dizer isso.

- Você diz que tem ciúmes, mas não assume para as pessoas que eu sou alguma coisa pra você. - ele saiu.

- O que eu sou para você, Alissom? - segurei seu braço.

- Tudo, Kate. Você é tudo.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora