Encruzilhada

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Era estranho ter palpitações todas as vezes que ele pronunciava meu nome. Era estranho eu me importar com quem chegava perto dele. Era estranho eu acordar de madrugada e ficar uns minutinhos observando ele dormindo no quarto da Agnes.

Como alguém conseguia me moldar assim dessa maneira? Só com o toque suave de suas mãos, conseguia fazer minha pele se arrepiar.


— Kate? — ele falou, me despertando de meu devaneio.

— O que foi? — ajeitei a xícara na mesa.

— A Duda pode ficar comigo na biblioteca enquanto você está na aula?

— Se você prometer que não vai deixar nenhuma menina chegar perto dela, pode. — beberiquei o café.

— Ah, mas as meninas me ajudariam a cuidar dela. — ele disse, eu sabia que estava me provocando.


— Se alguma daquelas garotas metidas encostarem na Duda, vão perder todos os dedos da mão e cabeças vão rolar. — falei, serrando os olhos.

— Nossa moça, que agressividade! — ele levantou as mãos.

Fomos para a escola, Alissom montou o carrinho dela e eu a coloquei lá.

— Cuida dele pra mim, tá bom? E se alguma menina chegar perto, vomita na cara dela. — sussurrei.

— Eu ouvi!

— Pelo amor de Deus! Você é muito fofoqueiro. Cuida dessa pequena, por favor. — parei em sua frente.

— Sou muito bom em cuidar de crianças.

— É, deve ser mesmo. — olhei no relógio — Tô indo, se cuidem.

Passei por Carolaine e Thales, eles estavam de agarramento. Que nojo!
Entrei na sala e eu acho que dormi nos dois primeiros períodos, pois não lembro de absolutamente nada.

Na hora do intervalo, corri como um carro para a biblioteca. Alissom estava numa conversa adulta com Duda.

— Você concorda? Acha ela linda também? — ele dizia, mexendo em sua barriga. Ela resmungava como se estivesse realmente falando.

— Eu? Sim, eu sou linda mesmo! — falei, fazendo Alissom rir.

— Eu tava falando daquela menina ali, mas você também serve. — dei um tapa em seu braço.

— Vocês estão bem? — perguntei.

— Sim, ela ainda não carregou a fralda, então tá tudo sob controle.

— Você é uma péssima babá. — sorri.

— Eu? Que isso! Eu sou uma ótima pessoa.

— É, deve ser.

Continuamos conversando, e alguma coisa se mexia aqui dentro toda vez que eu falava com ele. Era como se ele tivesse controle sobre o meu corpo e causasse arrepios com sua voz firme. As vezes me sentia flutuando, como se ao pronunciar meu nome, os meus pés saíssem do chão.

Mas infelizmente, fui tirada de meu devaneio melancólico por conta do sinal do intervalo. 

— Tenho que ir agora. Se cuidem.

— Não se preocupe.

Os últimos períodos passaram devagar, principalmente pelo fato de ter uma professora que não sabia controlar a minha turma. Isso era bem chato na verdade, pois se ela não achasse um meio de calar a boca deles, significava que durante o ano todo, não teríamos matéria e sim bagunça.

Finalmente eu estava livre. Já queria férias de novo.
Passei por todas as salas do corredor e entrei na biblioteca tão rápido que ninguém notou.

Alissom estava de costas, organizando alguns livros na prateleira e Duda estava no carrinho. Eu estava no hall da porta os observando, quando de  repente Caroline surgiu de trás das prateleiras e tirou Duda do carrinho.

— Tira as suas mãos sujas de cima dela! — falei, Carolaine se assustou.

— Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Acha que eu sou uma das suas amigas que fazem tudo o que você manda? — ela disse, o que fez eu ficar mais brava.

— Carolaine, se você não largar ela agora, você vai sofrer as consequências! — serrei os punhos.

— Eu não tenho medo de você, anãzinha de jardim. — ela falou, e estava bem perto do meu rosto.

— Carolaine, me dê ela agora! — Alissom esbravejou. Ela o ouviu, e entregou a Duda.

— Até que vocês combinam, são dois patéticos. — ela sorriu — Mas ele beija bem, Kate. Muito bem.

Eu não sei da onde vieram forças para isso, mas eu sei que acertei um soco bem no seu nariz. Claro, depois eu fiquei com dor na mão, mas valeu a pena.

— Nunca mais se aproxime dele, muito menos da Duda. Se eu ver você chegar perto de algum dos dois, eu te jogo da escada. — falei, com um ar sombrio.

O nariz dela estava sangrando, mas tinha certeza de que não havia quebrado, pois continuava no mesmo lugar. Ela saiu, estava chorando, mas não ia me delatar à diretora, pois eu poderia muito bem dizer que a culpa de eu ter caído da escada, foi dela.
Peguei Duda no colo e abracei-a.

— Você bateu na Carolaine. — Alissom disse, seus olhos estavam arregalados.

— Me desculpa, eu não queria assustar você. Mas é que ela já causou tanto estrago na minha vida, que eu estava esgotada. — me sentei na cadeira.

— Tá brincando? Isso foi o máximo! Olha o que ela já te fez! Esse soco não foi nem metade da tua vingança.

— Na verdade, o meu soco dói bastante. Quer experimentar?

— Não, eu prefiro viver.

Sorri. Apesar daquele soco ter sido prazeroso, eu sabia que nunca o teria dado se não tivesse um sentimento muito forte por Alissom e por Duda. Considerando as minhas chances de ficar com os dois, eu diria que estava em desvantagem, pois Alissom logo se cansaria de mim, e Duda, logo iria embora.

Eu estava em uma encruzilhada.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora