O irmão da minha melhor amiga

Aeroporto

O choro me corroeu a noite toda. Andava pelo quarto, desesperada, precisava dizer a ele. Precisava dizer a ele. Quando finalmente entrei disposta a falar tudo, a cama estava perfeitamente arrumada, ele já havia saído.

Sentei na ponta da cama, suspirei, antes de sair correndo para o aeroporto. Tudo bem, eu era uma otária que não conseguia se decidir, mas eu gostava de ser otária do lado dele, pra que ele me segurasse pelos braços e dissesse que eu tava errada, olhando nos meus olhos. Também quando eu ficava fazendo birra, dizendo que não queria ficar perto dele, ele não escutava e se aproximava mais...

Tá, eu odiava o fato de ter que me declarar, mas não tinha outro jeito! Eu teria que ir ao aeroporto protaginizar uma cena de livro, gritar no meio do portão de embarque que eu amo ele e que não é pra ele me deixar sozinha!

Sim, eu estava sendo completamente egoísta. Sim, ele teria que desistir de São Paulo, e isso me deixava confusa. Eu não queria ter que fazer ele escolher... pensando bem, e se ele não quiser mais me escolher? Eu fiz algumas escolhas erradas, mas isso não fez ele desistir de mim, não é?

- A senhora precisa de ajuda? - o moço do carro disse, pois eu estava parada olhando pra janela.

- Desculpa, eu só precisava pensar. - falei, e saí.

Ok, não era hora pra pensar nisso. Eu só precisava saber agora onde ele estava naquele lugar imenso.
Andei por todo o lugar, até achar um quadro que mostrava os vôos, fui correndo até o portão que destinava SP.

- A senhora não pode passar aqui sem uma passagem. - uma mulher de azul disse, quando eu tentei entrar.

- Moça, eu só preciso falar uma coisa pra um passageiro que está aí dentro.- meu coração começou a bater rápido.

- Sinto muito, mas sem a passagem, a senhora não pode passar.

- Olha, eu não posso comprar uma passagem. É rapidinho, você não vai nem notar que eu entrei, por favor.

- Não! Queira se retirar.

Droga! Senti vontade de chorar.
Como raios eu iria comprar uma passagem? Eu não tinha dinheiro, nem cartão de crédito e eu era menor de idade. Pra piorar não dava mais tempo de chamar alguém pra fazer isso por mim. Comecei a me desesperar. Era isso, então? Todo esse tempo pra ser trocada por uma droga de estado?

As lágrimas começaram a vir involuntariamente.

- Você é uma burra, né Kate? - gritei pra mim mesma - Quando uma coisa boa acontece na sua vida, você vai lá e da um jeito de destruir!

- Olha, se você não parar de falar sozinha, as pessoas vão achar que você é maluca. - Alissom apareceu na minha frente.

Não precisei de nenhuma palavra naquele momento, e foi o que bastou pra mim naquele momento. Me atirar nos braços dele primeiro pra beijá-lo iria dizer muito mais.

- Eu também te amo, Kate.

- Não, você vai dizer isso depois que eu falar tudo o que eu ainda tenho pra falar. - me desvencilhei de seus braços. Segurei seu rosto e olhei fundo nos seus olhos.

- O que foi, Katezinha?

- Eu amo você por me segurar quando meu mundo desaba, eu amo você por fazer meu dia melhor. Eu amo quando você faz careta enquanto corta cebola, eu amo quando vai na porta do meu quarto de madrugada pra ver se eu tô dormindo. Eu amo ver você com a Duda no colo, amo o fato de você ter feito a escolha dela comigo. Amo quando eu digo pra você me soltar por estar brava, e você dizer que não vai me soltar enquanto não resolvermos o problema. Eu amo você, assim, inteiro. E provavelmente essa vai ser a coisa mais egoísta que eu já pedi pra você, mas por favor, não vai embora. Não desiste de mim.

- Posso dizer que eu te amo agora?

- Pode.

- Eu desisti da viagem, Kate. Eu jamais abandonaria você e a Duda.

- Desistiu? - minha mão começou a suar.

- Sim, é óbvio! Eu amo você, minha pequena.

-

Tá, o que a gente faz agora?

- Agora você coloca a mão no meu pescoço, e eu na sua cintura. Aí eu vou me aproximando devagarinho e a gente se beija.

- Graças a Deus, era tudo o que eu queria.

E foi o que ele fez. E estava lá a cena da minha vida: eu beijando o cara que eu amo, no aeroporto, depois de ele ter desistido da sua viagem importante pra ficar comigo. Quer mais clichê do que esse?