O irmão da minha melhor amiga

Capítulo 3 - As mãos

Mais tarde, eu e Agnes tínhamos prometido para a minha chefe, Rita, que iríamos ajudar na feira beneficente da cidade, mas nenhuma das duas estava muito afim de ir depois que o Alissom chegou. As duas por motivos diferentes. Ela porque queria ficar perto dele, e eu porque queria ficar longe. Porém, já estava tudo combinado, e muito em cima da hora pra desistir. Por isso, fomos nós três.

Agnes foi o caminho todo tagarelando sobre as coisas engraçadas da cidade, as coisas terríveis da faculdade. Ele não parecia ouvir nada, estava tão quieto como eu. De vez em quando, olhava para ele de canto de olho, não sei bem porquê. Mas sentia que se não desse uma olhada nele de vez em quando, meu olhos entrariam pra dentro e eu ficaria cega.

Numa dessas, olhei diretamente, sem querer, e ele estava olhando concentrado para Agnes. Mas enquanto ela tagarelava, ele me encarou, e ela não percebeu. Me encarou de uma forma esquisita, do tipo "somos amigos ou você ainda me odeia?". Não tinha cara de cachorro pidão como o Thales costumava fazer, do tipo "olha como minha namorada rude me trata, eu sou tão romântico e ela tão grossa".

Meu celular tocou, junto com o de Agnes, ela parou de falar e puxou o aparelho do bolso, fazendo uma cara esquisita. Era uma mensagem de um número desconhecido.

- Convite de casamento? Mas quem é que vai se casar? - disse ela, lendo a mensagem em voz alta. Clicou no link e abriu o convite enquanto fui conferir se tinha a mesma mensagem no meu celular. E tinha.

- "Depois de andarmos por diversos e diferentes caminhos, nos encontramos. Envolvidos por um único e sincero amor, decidimos viver um para o outro e ambos para Deus" - li em voz alta.

- Com a benção de seus pais, Jana e...

- Thales? Convidam para a cerimônia do seu casamento. - falei, incrédula.

Agnes me olhou, e foi impossível não cair na gargalhada.

- "Ambos para Deus" hahahaha - dissemos juntas e gargalhamos alto.

- Depois de uma traição o "ambos para Deus" é muito engraçado. - disse ela.

Alissom estava calado com um ponto de interrogação na testa.

- Tá, esse dia tá ficando muito bom. - disse, depois de me acalmar da crise de riso.

- Ai, merda! - ela parou de repente - Esqueci a porcaria do carrinho de feira que a sua chefe pediu... vou voltar e pego a bicicleta pra alcançar vocês. Vão indo, vão indo. - e já estava correndo.

- Tá bem. - falei, mas ela já estava longe.

Alissom esperou três segundos até perguntar:

- Você tá bem?

- Tô, e você? - respondi, como se fosse uma pergunta idiota.

- Eu me refiro ao convite de casamento do seu ex-namorado.

- Achei bem engraçado.

- Percebi. Mas por quê?

- Porque é. Quem convida a ex e a melhor amiga dela pro seu casamento? Esse cara é um sem noção. - ri de novo.

- Realmente. - ele concordou, a sobrancelha se movendo com as expressões, ela sempre entregava tudo - Mas não te deixa nem um pouco abalada?