Se Agnes me perguntasse no final do dia qual tinha sido a minha parte favorita da feira, eu com certeza teria que inventar uma mentira gigantesca, porque eu não lembrava de nada do que aconteceu. Não consegui prestar atenção em absolutamente nada do que estávamos fazendo, eu só estava fazendo. Rita não me deixou no caixa, graças a Deus, porque certamente teria dado um prejuízo danado pra ela. Na verdade, ela me colocou no depósito, longe da vista de qualquer ser humano, e que bom, porque podia passar horas deslizando o dedo na minha mão suada e grudenta. Tinha o cheiro dele. Do perfume novo.
— Quem é o bonitinho? — disse ela, entrando abruptamente no depósito, me fazendo arfar de susto.
— Ah, é o irmão da Agnes. Tava na Inglaterra. — falei, tentando não dar muita importância.
— Achei que fosse seu namorado. — Rita colocou um dos braços por cima de uma das caixas que eu estava etiquetando, fazendo com que eu tivesse que olhar para ela, o que estava evitando até então.
— Por que achou isso? — falei, nervosa. E se ela tivesse visto nós de mãos dadas? E se contasse pra Agnes? Ah, eu não queria nem ver o escandalo que ela ia fazer!
— Porque vocês combinam. E porque desde que chegou, ele tentou dar cinquenta e nove desculpas pra vir aqui no depósito. Meio suspeito, acho que ele quer ficar perto de você.
Rita era uma mulher robusta, de meia idade e bem maluca. Tinha cabelos bem curtos e vermelhos, usava também um óculos com um cordão pra deixar pendurado no pescoço e gritar sempre "quem foi que pegou os meus óculos?". Usava roupas com estampas orientas. Preto, vermelho, verde. Nunca outras cores, e sempre um kimono de seda.
— Sim, ele adora ficar perto de mim. — resmunguei, irônica.
Mas aquela informação realmente fez minha barriga começar a girar.
— Ele é um partidão. Olha aqui pela janela, você vai ver. — disse ela, apontando para a roda de meninas que se formava na volta dele.
Nenhuma delas parecia interessada no vaso de palmeiras que ele estava enchendo de terra, na verdade estavam tão distraídas com os braços dele se contraindo pra fazer força e carregar as coisas pesadas, que nem podiam notar que estavam babando em cima dele.
— Parece que sim. — murmurei, um pouco zangada.
— Já namorou ele?
— Não. — ela ficou quieta, esperando o enredo — Se você quer saber conheço ele desde criança e ele faz de tudo pra evitar a minha presença.
Menos agora a pouco quando estava segurando minha mão, tive vontade de acrescentar.
— Sei. Acho que você parece enganada, porque se reparar bem, ele olha pra cá de cinco em cinco minutos.
Olhei pela janela de novo. E estava, realmente.
"Sinto muito que tenha entendido errado".
— Só tá distraído. Quer parar, Rita? Você virou cupido?
— Querida, sou dona de uma floricultura. É literalmente o meu trabalho fazer as pessoas se apaixonarem. — colocou a mão na cintura.
— Tá, mas eu não quero me apaixonar pelo Alissom, nem ele por mim. E acho que deveria dar um chute naquelas garotas por estarem atrapalhando o serviço. — disse, irritada.
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O irmão da minha melhor amiga
Roman d'amourKate e Alissom sempre se odiaram. Todos sabiam que no dia em que Kate pisou na casa da melhor amiga, eles travaram uma guerra que perdurou até Alissom partir para a Inglaterra. Os cinco anos pacíficos estavam com os dias contados, pois ele retorna p...