Que ódio!

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As palavras ficaram ecoando na minha cabeça. Eu era tudo. Bom, isso poderia significar muitas coisas, e como boa pessimista que sou, logo deduzi: todos os problemas dele, todas as dores de cabeça, todos os momentos de raiva... mas com meu lado romântico e esperançoso tão perto, foi difícil não pensar em: tudo. Todo o seu amor, carinho e admiração.

- O que faz aí? - perguntei, me aproximando. Ele estava debruçado na minha janela.

Duda estava em meu colo, agarrando meus cabelos. Ela havia crescido desde que eu fora embora.

- Só refletindo um pouco. - ele fixou os olhos em mim.

- Me desculpa pela forma que eu agi e pelo jeito que eu falei com você. - falei.


- Kate, você é o meu grande mistério. Não sei se o que você quer, pois parece que muda de opinião a cada segundo. - ele pareceu magoado.

- Eu sei que não é a minha melhor qualidade.

- Pelo menos uma vez, em um só momento do dia, eu queria te desvendar. Eu sei ler você, quer dizer, sei quando está triste ou chateada... mas não consigo ver alem disso, não consigo enxergar o que você sente. É difícil.

Suas palavras me acertaram no fundo do estômago, de repente, não sentia mais aquela felicidade por ser diferente das outras meninas, tendo construído uma armadura envolta do coração. Sentia vergonha e vontade de quebra-la por mim mesma, mas não era uma escolha minha, aquilo era uma forma de lidar com o trauma do abandono de Thales, e eu não conseguia controlar isso.

- Bom, não posso dar esperanças a você de que eu vá acordar um dia e me tornar uma pessoa muito sentimental. Pelo contrário, acredito que a tendência caso você desista de mim, é eu me fechar para sempre.

- Não disse que desistiria de você. - ele disse, sua voz estava baixa.

- Foi o que pareceu. - sussurrei.

- Não disse que não entendo o porquê de você agir assim, apenas disse que é difícil lidar com isso. Independente da dificuldade, eu sei que isso é um trauma seu por causa daquele idiota... mas Kate, eu preciso que você me diga algo de vez em quando, ou dê um sinal, sei lá. Eu não quero desistir, mas você precisa me ajudar.

Que diabos ele queria que eu fizesse? Me jogasse no chão e gritasse "CASA COMIGO, ALISSOM?"

- Você é um homem de muitas palavras, não é? Eu praticamente fui obrigada a adivinhar que você estava flertando comigo. - falei, impaciente.

- Kate, eu não estava flertando com você. - ele pegou Duda de meu colo - Eu queria conquistar você.

- Queria? - torci os dedos.

- Por que está interessada nisso? Não foi você que disse que eu era apenas um colega de quarto? - ele estava me provocando.

- Você sabe que eu não disse isso. Está distorcendo a situação. - já estava irritada.

- Foi o que você deu a entender, morena.

Ele queria me irritar, sabia que era meu ponto fraco pra qualquer coisa. Óbvio que ele sabia meus outros pontos fracos, e que eu gostaria demais que ele estivesse utilizando agora, ao invés desse.

- Alissom, vá se catar! - peguei Duda de volta e saí do meu próprio quarto, com muita raiva.

Assim que bati a porta, Vitória - que estava encostada no corrimão da escada - olhou para mim, de um jeito malicioso.

- Vai perder ele e eu vou estar bem aqui, sabe? Pra consolar ele e oferecer algumas alternativas bem interessantes... - ela colocou o dedo na boca.

Minha querida você está aqui há 3 dias, eu há 3 anos. Mais até, no mínimo uns 10.

- Bom, se ele for otário o suficiente pra fazer isso, vá em frente! Brigar com mulheres por causa de homens babaca, não é do meu fetiche. - a raiva estava entalada na garganta.

Era só o que me faltava! Ter que entrar em uma competição contra outra garota, só por causa de um cara.
Era o cúmulo do meu feminismo que, a essa altura, estava bem fragilizado por causa daquele garota.

Olhei para Duda, havia colocado ela no carrinho.

- O seu pai é um idiota! - falei, ela apenas continuo me olhando. - Eu não sei como você consegue gostar dele.

Duda abriu um sorriso, colocando os dedinhos na boca.

- É, eu concordo, ele é muito lindo. Mas tem hora que estressa, né? - ela balançou as mãozinhas no ar, espalhando baba por todo lugar. - Não vejo a hora de você crescer pra eu poder reclamar dele e ser respondida com um "sim, mamãe, ele estressa a gente". - suspirei.

Quando que aquela novela mexicana iria terminar? Quando finalmente eu poderia ficar com ele sem nem um empecilho entre nós?

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora