Discussão

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— Essa não é a prima do Alissom? — minha mãe perguntou apontando para Duda.

— Sim. Na verdade, agora que ele tem a guarda, a Duda é filha dele. Mas, por quê?

— Porque eu só vejo ela com você e nunca com o Alissom. O pai dessa criança é ele, não vejo porquê você passar tanto tempo com ela!

— Mãe, ele não sabe nem segurar ela direito. Se não fosse por mim, a coitada morreria de fome.

— Isso não é problema seu! Essa criança não pertence a você, e não quero que se apegue à ela.

— Eu já me apeguei à ela, e isso não é problema seu! —  gritei.

— Devo te lembrar que eu ainda sou sua mãe? Não grite comigo, eu exijo respeito!

— Respeito? Pra uma pessoa que só fala comigo pra apontar defeitos em mim? Ah, conta outra!

— Eu sou a única que te fala a verdade! E esse Alissom está morando com você, olha que futuro que você quer ter. Um rapaz que não tem nem onde morar, é isso que você quer?

— Ah, me desculpa, eu não sabia que você tinha uma casa própria com dezenove anos!

— Esse menino nunca foi boa pessoa, estava sempre com uma namorada nova cada semana. Me admira você, depois de ter feito aquele papelão com o Thales, acreditar nesse tipo de garoto ainda.

— O Alissom não é igual o Thales, você não o conhece. —  meus olhos estavam ficando cheios de lágrimas.

— Ele é bem pior que o Thales, ele vai usar você pra ter uma babá pra sua "filha" e um teto sobre sua cabeça, e quando conseguir outra pessoa, ele vai te deixar sem essa criança e sem ele! — ela saiu.

— Você está errada! —  gritei.

Minha mãe nem se deu ao trabalho de se virar para trás, mas continuou falando enquanto se afastava.

— Eu não estou, e você verá.

Meu coração disparou, Alissom estava vindo na minha direção, mas eu não queria que ele me visse chorar, então eu corri para o banheiro, como se fosse uma menininha que se machuca e tem que esconder suas feridas pra não levar bronca.

A música estava ficando muito alta, não dava pra ouvir meus próprios pensamentos, e aquelas lágrimas estavam acabando com toda a minha maquiagem. Então eu olhei para mim no espelho do banheiro, aquela não era eu e nunca seria.

Toda montada, toda arrumada, aquilo ali não era eu, e Alissom disse que eu estava linda, mas não era eu.

Agnes entrou no banheiro e ficou me olhando por alguns minutos.

— A sua mãe não está certa, você sabe disso. — ela falou.

— Você não sabe.

— Kate, você gosta do Alissom, não gosta?

— Ela disse alguma coisa?

— Não, dá pra saber pelo jeito que vocês dois se olham. Vocês se gostam, não tem como não enxergar. — ela segurou minhas mãos.

— Não acho que seu irmão goste de mim. — suspirei — Ele está encantado por essa montagem aqui, por toda essa coisa artificial que eu coloquei em mim. Essa maquiagem, esse cabelo, esse salto e o vestido, não sou eu. Ele está apaixonado por uma imagem falsa minha.

— Ele mora com você, se lembra? Ele vê você acordar todos os dias com aquele seu cabelo todo desajeitado e com aquele pijama esquisito que você usa. Ele percebe o modo que você come, ele enxerga tuas manias, ele enxerga dentro de você. Kate, ele te vê, e sabe quem você é.

— Então se eu lavar a minha cara na pia, soltar o meu cabelo e tirar esse salto, ele ainda vai me achar bonita?

— Você vai se achar bonita? Se você se achar bonita sem todas essas coisas, então ele vai te achar bonita. E se ele não achar, o problema é dele, você não precisa da opinião alheia. — ela me levou até a pia e começou a tirar os grampos do meu cabelo.

— Entendi, agora que você casou que começou a me dar conselhos bons. Bom saber disso, vou passar as férias na sua casa. — brinquei.

— É melhor você lavar esse rosto antes que eu te afogue. — ela retrucou.

Em alguns minutos meu rosto estava limpo outra vez e meu cabelo estava solto, ele ainda tinha cachos, mas não era um problema para mim.

— Me sinto melhor. — falei.

— Que bom, mas agora é a hora da valsa dos noivos, e você vai ter que dançar com o Alissom, e também tem que achar um sapato pra ele não pisar no seu pé. — ela pegou Duda no colo.

— Tudo bem.

Saímos do banheiro e Juliane pegou Duda no colo. Alissom veio em minha direção e sorriu.

— Você conseguiu ficar mais linda ainda. Estou impressionado. — ele sussurrou em meu ouvido.

— Eu tento não ser bonita, mas você sabe, é difícil. — brinquei.

— E eu ainda vou ter uma auto-estima como a sua.

— Eu te dou uma dicas.

Mal percebemos que estávamos no meio do salão e que Agnes e Gabriel estavam dançando lentamente a música Hey Jude, dos Beatles.

Alissom me puxou pela cintura e olhou nos meus olhos.

— Eu não sei dançar. — falei, ele pegou minha mão e colocou em seu ombro.

— Só confie em mim.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora