O que seria de mim?

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Abri os olhos, não me lembrava de ter ido dormir. Uma dor forte na costela me atingiu assim que eu tentei me levantar, o que era aquilo? Havia levado um soco? Pisquei algumas vezes, não reconheci o lugar branco. Eu tinha sido sequestrada?

— Kate, não faça tanta força. — a voz de Alissom alcançou meu ouvidos.

Ele estava sentado em uma cadeira de plástico, bem ao meu lado. Seu rosto parecia um pimentão, tudo por culpa da pele de branca de neve dele, que qualquer demonstração de sentimentos ficava evidente. Ele tinha chorado... mas por quê?

E que diabos eu estava fazendo em um hospital?

— O que aconteceu? — perguntei, ainda confusa.

— Eu não sei bem... — ele colocou a mão na nuca, procurando palavras —Eu só sei que fui beber água, e quando me aproximei da escada... você estava... — ele não conseguia concluir.

De repente, me lembrei do peso de meu corpo sendo arremessado para baixo

— Me empurraram. — falei, convicta.

— E acredito que Carolaine tenha sido a grande figura por trás disso. — ele disse, se levantando da cadeira desconfortável.

— Obviamente. Ninguém, além dela, teria motivos pra me empurrar da escada. — senti o corpo estremesser.

— Na verdade, ninguém tem motivos pra isso. É completamente doentio!

Estava respirando com dificuldade, minha vida passava diante de meu nolhos. Eu poderia ter morrido, fraturado uma vértebra, sei lá! Será que aquela descerebrada não teve consciência das consequências?

— Eu vou chamar o médico, sua pressão está aumentando. — ele disse, quase que correndo para a porta.

— Espera, não me deixa sozinha. — segurei sua mão.

Não deveria ter feito isso, meu coração acelerou freneticamente, como se eu estivesse correndo uma maratona. Por mais que eu devesse soltar, meu corpo teimava em ficar segurando ela, mesmo depois de ele se sentar na cadeira novamente.

Me forcei a solta-lo, aquilo estava ficando cada vez mais difícil.

— Sabe que não precisa soltar a minha mão, não é?

— É melhor eu soltar.

— E por quê?

— Não precisa saber o motivo. — minha respiração encurtou.

— Por quanto tempo vamos fingir que aquilo não aconteceu? — ele perguntou e colocou a mão em meu rosto.

— Eu... — comecei a falar, mas fui interrompida.

— Kate Almeida? — um médico chamou, entrando no quarto.

— Sim, sou eu.

Alissom tirou sua mão do meu rosto, e como aquilo era torturante!

— Kate, filha, como você está? — meu pai entrou no quarto rapidamente.

— Eu tô bem, né doutor?

— Sim, só vamos precisar te deixar em observação porque você bateu a cabeça, tudo bem?

— Tudo o que o senhor mandar! — meu pai respondeu.

Eu nem iria perder meu tempo perguntando sobre a minha mãe, era óbvio que ela tinha mais obrigações do que cuidar da própria filha. Mas, meu pai estava ali, e eu estava feliz. Quer dizer, eu estava com a respiração ofegante, parecia que tinha acabado de beijar alguém, e quem dera fosse isso, mas na verdade ter o Alissom por perto me causava um monte de sintomas.

Precisava falar com alguém sobre isso, já não aguentava mais esconder essa droga de sentimento que eu nem sabia o que era. A única pessoa que podia me ajudar era o meu pai, então foi pra ele que eu contei assim que Alissom saiu.

— Você o quê? — ele arqueou a sobrancelha.

— Sei lá, eu só sinto essas coisas esquisitas. Talvez eu esteja doente... mas a culpa é toda dele!

— Por que? E fez alguma coisa? Foi indecente com você? Eu juro que o mato no mesmo segundo!

— Pai! E já falei um milhão de vezes que estamos no século vinte e um, e o senhor não precisava mais lutar pela minha honra. — cruzei os braços.

— Só estava tentando... te proteger. Kate, conheço Alissom desde que ele usava fraldas, e você o conhece também... sabe como ele é. — ele soltou um suspiro.

É, eu sabia.

— Entretanto, — ele continuou — as pessoas podem mudar. Se me recordo bem, o pai de Alissom eram um verdadeiro libertino! Mas foi só pôr os olhos em sua mulher, ah... ele nunca mais ousou colocar os olhos em outra.

— Não acho que eu seja essa mulher. Talvez eu seja apenas uma distração.

Meu pai tossiu pra disfarçar sua indignação com o irmão de minha amiga, e eu não o culpava.

— Bem, e quanto a você? — ele perguntou.

— Eu o quê?

— Ele é só uma distração?

— Ele... — hesitei — não é nada, pai.

— Obviamente, ele não é uma distração pra você. Considerando os sintomas que me apresentou, e a forma como você simplesmente ignora o histórico de corações partidos, afirmo que já tomou sua decisão. Você gosta dele. —

Ah, saco!


— Eu não... ah, eu não sei de mais nada. Tinha feito minha barreira indestrutível, só pra ele chegar e rachar ela com uma pedrinha. — murmurei, meu pai soltou um longo suspiro.

— Por mais que eu odeio admitir, você não deve colocar Alissom no mesmo pódio de Thales. Tem que entender que o que você passou foi apenas uma, das mil decepções que a vida vai te dar. O que você não pode fazer, é deixar que Thales tome as rédeas da sua vida e controle seus sentimentos... não dê a ele esse poder. Não tenha medo de enfrentar seus sentimentos sobre Alissom, ele não é o Thales.

E com isso, ele me deixou sozinha e pensativa na minha cama de hospital.


Todo mundo me dizia isso: "nem todos são como o Thales", e o meu medo com Alissom, era três vezes pior! Porque pelo menos com o Thales, eu não sentia essas coisas, só começamos a namorar porque todo mundo ficava falando pra gente "vocês formam um casal tão bonitinho", e no final das contas, doeu o suficiente pra eu me fechar.

Imagina agora! Com todos aqueles sentimentos confusos, e toques, e beijos deliciosos, e... todas aquelas coisas bonitas que ele me falava. Se ele partisse meu coração, o que seria de mim?

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora