Primeira palavra

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Duda estava encostada nas minhas pernas, estava fazendo cócegas em sua barriga. Ela ainda era muito pequena para falar, mas de vez em quando balbuciava algumas coisas.

— Ma. — Duda gritou.

— Você ouviu isso? — perguntei.

— Isso o que?

— Ela me chamou de mãe! — ai meu Deus! Eu iria desmaiar.

— Kate, você é muito iludida. Ela não sabe nem segurar a própria mamadeira, como vai te chamar de mãe?

— Isso tudo é inveja porque ela disse mamãe ao invés de papai. — toquei a ponta de seu nariz.

— Ah, vai te catar! Ela me ama mais, com certeza. — ele me empurrou.

— Quem é iludido agora?

— Duda, fala papá. Pá-pá. Fala, pra eu poder esfregar na cara da sua mãe. — ele pegou ela no colo.


— Vamos pra casa, tá perto da hora do almoço.

— Almoço, sei. Isso é medo dela falar papai e você perder. 

— Ah, com certeza! Você não faz nenhum sentido.


  Hum, Duda! Que cheirinho é esse? — ele disse fungando.

— Cheirinho de fralda suja.

— Como assim, Duda? Princesas fazem cocô? — ele fingiu estar surpreso.

— Olha dentro da fralda dela pra ver se tem bolinhas de algodão doce. — falei.

— Não, eu prefiro assistir.

— Não era você o pai dela? — falei o puxando.

— Eu era? Não tem provas contra mim, senhorita Kate.

— Você é insuportável, sabia? — falei, soltando seu braço.

— E você deveria cortar essas unhas, sabia? Quase perfurou o meu osso! — ele disse, me mostrou a pele vermelha.

Odiava o fato de não poder, ao menos, encostar em sua pele sem ter um colapso. Cada vez que minha pele tocava a sua, algo se acendia, parecia fogo. Era uma droga!

Fomos para casa, Alissom estava com medo do sol queimar a pele de Duda. Realmente, não era hora de estarmos na rua, e sinceramente, eu adorava o jeito que ele cuidava dela. Era meio bobo eu prestar tanta atenção nesses detalhes, mas eu realmente me comovia com tanta paixão por essa bebê.

De vez em quando, a conversa com a minha mãe martelava na minha cabeça, o que eu iria fazer? Como esquecer aquilo que ela disse? Era insegura demais, e ela sabia, por isso me disse aquelas coisas. Minha mãe sabia que no momento que apontasse um defeito em qualquer coisa, eu não conseguiria enxergar mais nada além desse defeito, até estragar tudo. É o que eu sempre faço, não é? Deixo ela controlar a minha vida, como se eu fosse um brinquedo velho na prateleira.

Até quando, Kate? Até quando?

— Kate? Você ouviu o que eu disse? — Alissom me despertou.

— Não. Eu... me desculpa, eu estava pensando em outra coisa. — disfarcei.

— Eu perguntei se a Duda tá precisando de alguma coisa, porque se tiver, podemos ir no mercado. O que acha?

— Acho ótimo. É melhor você ter dinheiro. — falei.

— Eu tenho. Quer dizer, não muito, mas eu tenho.

— Ótimo.

Saiam pensamentos ruins. Saiam logo da minha cabeça.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora